O ESPÍRITO DA CASA 246

Em uma residência na pequena cidade de Matarém, viviam Dolores e seus dois filhos, Pedro e Túlio, que haviam acabado de ser demitidos do emprego, mas apesar dos pesares, viviam felizes.

Certo dia, Túlio conhece uma moça chamada Núbia e logo começam a namorar. Dolores prepara um jantar especial para conhecer a nora e pergunta:

_E você, minha filha, tem filhos?

_Sim, tenho. Ela é adorável!

Depois de um certo tempo, Núbia começa a se apegar à família de Túlio e as suas visitas tornam-se cada vez mais frequentes, até que um dia...

_Boa tarde, amor, boa tarde, dona Dolores, esta é a minha filha, Malu!

Ao aproximar-se da criança de aproximadamente dez anos, Dolores começa a se sentir mal...

_O que houve, mãe? Pergunta Pedro, apreensivo.

_Nada, meu filho, foi só um mal estar passageiro.

Assim, a presença da menina na residência dos Moura tornou-se uma constante. Ela e Núbia se instalaram definitivamente na casa.

Pedro passou a observar a garota que, apesar de ser uma criança, possuía uma aparência bizarra; os seus dentes eram tortos, a sua pele apresentava uma estranha coloração, além de possuir estranhas manchas e o seu cabelo parecia a barbicha do demônio!

Desde o dia de sua chegada, coisas estranhas começaram a acontecer na casa...

_Túlio, meu filho, as luzes da casa queimaram todas!

_Que droga, essa oscilação de energia é de matar! Diz ele.

Alguns minutos depois, Pedro diz:

_Mãe, venha ver isso! Os talheres novos enferrujaram!

_Isso é impossível, meu filho. Eles são de aço inoxidável... - Admira-se dona Dolores.

Não tardou muito para a família perceber que algo mórbido estava acontecendo.

No dia seguinte...

Aproximadamente duas horas antes do almoço, Núbia sai para comprar alguns condimentos a pedido da sogra, então:

_Aaaahhhhhhhhhhhhh! Grita a menina.

_Mas o que é isso? - Pergunta Pedro, irritado.

_Eu quero a minha mãe, mãaaeee... Eu quero a minha mãe!

_Calma, menina! A sua mãe já está chegando. - Diz Dolores, tentando acalmá-la.

Os gritos só param quando Núbia finalmente chega em casa.

Nos dias que se seguiram a esse episódio, as cenas foram se repetindo e se tornando piores.

O marido de Núbia, perturbado ante a situação, perde a paciência e diz:

_Cale-se, sua garota medonha, antes que eu te afogue no rio!

Quase todos os dias acontecia uma intriga por causa da menina. Certa noite, Maurício, um dos filhos de dona Dolores, chega para passar o final de semana com a mãe e sentou-se com Túlio para assistir a um programa na tv. Malu passa para beber água na cozinha e, quando retorna, os dois irmãos percebem vultos, na realidade uma turba de sombras acompanhando a garota!

_Você viu aquilo, Túlio? - Pergunta Maurício, surpreso.

_Vi sim. Essa garota tem encosto!

No dia seguinte, os dois explicaram tudo o que havia se passado ao restante da família.

_Núbia, você tem que resolver isso! Temos que levar essa menina para receber apoio espiritual. - Diz dona Dolores, que é espírita.

_Sim, mãe. Certamente vamos levá-la, mas antes temos que entender o que se passou com esse encosto! - Resmunga Túlio.

_Não fale assim da minha filha... - Diz Núbia, chorando.

Núbia, Túlio e Pedro, vão à casa de uma tia do pai da garota, que mexia com magias ocultas.

Após ouvir a mãe da menina, a mulher diz:

_Eu sabia que isso iria se manifestar, só não imaginei que fosse tão cedo...

_O quê?!? Como assim? Pergunta Pedro.

_Vou contar a vocês o que realmente aconteceu...

_A avó de Rafael, pai da garota, era uma rica fazendeira do interior e ergueu a sua fortuna a mão de ferro. Quando os seus capangas hesitavam em fazer um trabalho sujo, ela mesma os matava, degolando-os.

A polícia da época tinha o registro de mais de trinta assassinatos cometidos pela megera, mas nada conseguiam provar. O tempo foi passando e ela começou a definhar, dizia que via vultos e ouvia vozes e todas as luzes da sua casa queimavam, além das torneiras que vazavam o tempo todo. A velha morreu e a filha assumiu os negócios, devolvendo as terras usurpadas das famílias pobres da região. Contudo, ainda sentia a presença da mãe na casa e resolveu morar na cidade. Lá, conheceu um taxista, Gilmar Garcia, com o qual se casou e teve um filho, Rafael, que, quando criança, dizia sonhar com uma senhora cruel que dilacerava os empregados com as próprias mãos. Eu sempre fui sensitiva e pude ver o que acontecera e o que estava para acontecer. A cruel senhora reencarnou em Malu, filha de Rafael, e todo o seu ódio e rancor refletiram-se na criança, que nasceu com aquela aparência disforme. Os espíritos que a velha fazendeira oprimiu em vida, estão cobrando suas dívidas com ela. - Concluiu a sensitiva.

Depois de ouvir a sábia mulher, Núbia levou a filha a um centro de ajuda espiritual, mas a menina recusava-se a entrar. No terceiro dia, um médico espiritual disse:

_Esses espíritos estão muito revoltados com o que aconteceu e estão pedindo algo em troca...

_O que seria? - Pergunta Túlio.

De repente, ouve-se um terrível grito:

_Aaaaaahhhhhhhh!

Todos correm ao encontro da menina, mas já encontram-na sem vida. A mãe cai em desespero e o laudo médico atesta que foi um ataque cardíaco fulminante. Mesmo após a sua morte, ela ainda continuou recebendo socorro espiritual e depois de severos meses, ela partiu em paz.

Um ano depois um médium comunica à família que a menina iria reencarnar em breve.

Logo...

O telefone toca na casa de dona Dolores e Núbia atende.

_Túlio, meu amor, a minha sobrinha nasceu!

Todos vão ao hospital para visitar mãe e filha. Ao entrar no quarto, dona Dolores percebe uma aura de paz e bondade e, ao redor do berço da criança, magníficas e multicoloridas borboletas...

Nesse instante, ela diz aos demais:

_O perdão possui um valor inenarrável e continua a propagar os seus benéficos efeitos a cada renascer... Morremos em nossas mágoas, ofensas ao próximo, em nossas tristezas, mas Deus nos dá a oportunidade de renascermos no perdão e no amor ao próximo!

Felipe Corrêa
Enviado por Felipe Corrêa em 15/05/2009
Reeditado em 18/03/2012
Código do texto: T1595580
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