Destino
As unhas compridas mostravam o esmalte vermelho parcialmente descascados tocando um violão preto e antigo.
Marina estava sentada na cama do quarto cantando baixo e perdendo a voz todas as vezes que as lágrimas afogavam as palavras que compunham a música favorita de Diego.
Três batidas fracas na porta de madeira branca.
_ Filha? Posso entrar?
_ Pode...
A mãe apareceu dessa vez com a face mostrando menos piedade do que os últimos quinze dias.
_ A diretora do colégio ligou de novo.
Desde a morte do namorado Marina não aparecera na escola.
Largou o violão na cama amarrotada e olhou para a mãe.
_ Ele passou em um sinal vermelho e se foi. De ontem para hoje eu passei em mais de dez sinais vermelhos e nada me aconteceu, não é justo.
_ A vida nunca nos parece justa o bastante filha.
Jogou-se na cama e grudou os olhos no teto até que as lágrimas embaçassem sua vista e escorressem pela pele dela.
_ Eu vou para a academia, se precisar de mim me ligue.
_ Tudo bem.
Ouviu o barulho da maçaneta girando e se soltando.
Usou o dorso da mão esquerda enxugou as lágrimas e Marina se levantou e vestiu o casaco azul marinho que havia ganho de Diego em seu último aniversário.
Cobriu os cabelos tingidos de vermelho com o capuz da blusa de frio.
O ipod de Marina tocava Beautiful Lie quando ela entrou no carro.
Era tão cedo que as ruas estavam vazias.
Como andava fazendo nos últimos dias, Marina não respeitou o sinal vermelho e passou... Nada aconteceu novamente.
Jared Leto parara de cantar e uma voz estranha saíra dos fones de ouvido dizendo “ Não tente mudar o que você não pode, era para ele morrer, não você”.
No susto os pés de Marina pisaram no freio e ela atirou os fones no banco do passageiro.
Quando se recuperou, pisou no acelerador e correu sem direção até alcançar um sinal verde e passar.
Foi acompanhando a luz com os olhos e quando o sinal estava bem em cima de sua cabeça e luz ficou vermelha.
Um carro preto veio na direção contrária e só se escutaram os barulhos dos pneus no asfalto e dos freios.
O policial apanhou o aparelho que ainda reproduzia a música selecionada e notou que o nome da música era “Seus pedidos se realizam”.
Não havia motorista no outro carro, a única que perdera algo naquele acidente fora ela. Marina perdera a vida.