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A PROMESSA

   Joana ouvia com atenção o noticiário do rádio local, quando uma das notícias chamou-lhe maior atenção. O locutor, dando ênfase ao fato que repercutia no estado inteiro, dizia:

   - “Atenção, moradores e veranistas, foram vistos na localidade de Capão Novo dois dos mais perigosos malfeitores foragidos recentemente do presídio de Porto Alegre. Tais elementos são de alta periculosidade,tendo uma ficha extensa de roubos, assaltos e estupros e quem souber do paradeiro dos mesmos favor informar à policia local”. Seguiam-se comentários e outras noticias de menor importância,tais como moda,previsão do tempo,anúncios de festas,etc... Joana seguiu seus preparativos para o almoço. Marcos ,seu filho, tinha saído com a irmã e alguns amigos para dar uma caminhada na orla marítima. Ela não saberia explicar como surgira à sua frente a imagem de seu querido, que, quando ela era criança o ouvia sempre dizer:
 - Não te preocupes, querida, sempre que estiveres em perigo estarei a teu lado e pobre de quem atentar contra ti, arranco-lhe o coração,corto em pedaços e jogo aos cães.
     As horas iam passando e Joana, imersa em seus pensamentos, não viu a mão que lhe tapava a boca com tanta violência que quase lhe que quebrou o pescoço e a voz rouca e raivosa, quase um grunhido retumbar em seus ouvidos:
   - Quieta, cadela, não reage senão tu morres agora mesmo, e tu ,Gordo, vai procurando a muamba, enquanto eu tiro um sarro com a Dona.
      Joana sentiu suas pernas fraquejarem; sentindo o cheiro podre da boca daquele marginal,misturado ao fedor da cachaça,desmaiou. Algum tempo depois, ao voltar a si, sem entender o que havia acontecido, ela ouviu as vozes dos filhos e a sirene da policia; por estar um pouco atordoada, não tinha visto as marcas de sangue no chão. Ao examinar-se não sentiu nada no corpo que demonstrasse ter sido molestada ou ferida. Marcos levantou-a do chão e colocou-a no sofá.
     A cena de horror que os policiais encontraram chocaria o mais preparado detetive. O corpo de um homem com o peito aberto, rasgado e sem o coração, os cachorros no pátio disputando pedaços de carne e brigando raivosamente entre si. Um dos policiais encontrou o outro homem escondido na peça dos fundos, que, com o olhar vidrado e grunhidos de louco, não parava de dizer:
  - Por favor,eu não!...Eu não fiz nada!...Não me mate!...Eu não fiz nada!
    Joana foi atendida pelos policiais e por um médico muito simpático, que lhe receitou um calmante e,junto com Marquinhos e Aninha,levou-a para o quarto. Após o interrogatório dos policiais e na companhia da família, Joana involuntariamente olhou em direção ao penteador, onde se encontravam os quadros de fotos da família e, ao olhar a foto do pai notou que estava sorrindo. Joana lembrava perfeitamente que aquela foto foi tirada na formatura de seu pai em advocacia “ e ele não estava sorrindo quando a tirou”.
     Seu  velho cumprira o prometido, protegendo-a mesmo após a morte; ela, somente ela sabia o que realmente tinha acontecido.

                                                                                         
Gildo G Oliveira
Enviado por Gildo G Oliveira em 10/07/2009
Código do texto: T1692210
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