A BISAVÓ

Lucinha tinha apenas seis aninhos e o que mais gostava era ficar junto de sua bisavó, Maria, ouvindo lindas e antigas historietas e mesmo o cantar silábico e monótono em língua italiana.

Dona Maria, já com seus 96 anos de idade, vivia quietinha, sempre sentada em sua cadeira de balanço preferida, onde quer que a colocassem.

Se era no quintal, observava as flores, as árvores frutíferas (que se restringiam a um pé de araçá, uma laranjeira e um limoeiro cheiroso). Gostava de ouvir os pássaros e as vezes (muitas) dormitava calidamente.

Outras vezes a colocavam no terraço, de onde contemplava a rua e seus pedestres...as crianças que iam e vinham da escola...os vendedores ambulantes e os eternos pregões :

- Bijú... Olha o bijú fesquinho...

- Cocada ! Olha a cocada gostosa !

- Pamonha ! Quentinha pamonha fresquinha, comadre !

Ela sorria e...dormia.

Dona Maria morava com sua filha casada, uma neta também casada e netos solteiros. Lucinha era a única filha de sua neta e tanto a "bisa" quanto a menina, uma adorava a companhia da outra.

Certo dia, a bisavó adoeceu.

Todos a socorreram, tão querida era. Médicos, remédios, chás, guloseimas, tudo do bom e do melhor para a "bisa" querida.

Uma tarde, a filha de dona Maria limpava a sala de jantar, quando a bondosa velhinha, sua mãe, disse :

- Prá que tanto trabalho, minha filha ? Não limpe tanto esse chão...Amanhã essa casa vai estar cheia de gente e de que adiantará todo esse servição ?

A filha não se importou com o comentário e minutos depois levou a mãe adoentada para o quarto. Deitou-a e como sempre, a pequena Lucinha irrompeu no aposento para brincar aos pés da cama, sempre junto da sua "bisa" querida.

Algumas horas depois, quando o sino da igreja da vila badalava seis horas da tarde, a hora da Ave-Maria, Lucinha chegou aos gritos onde estavam sua mãe e sua avó :

- Mamãe...Vovó...Eu vi...Vi sim...

- O que você viu, minha filha ? - perguntou curiosa a mãe.

A avó pegou a menina nos braços e perguntou :

- O que você viu, querida ? Onde ?

E a menina contou alegre :

- Na janela do quarto da bisa ! Um homem que estava rindo, com um menino pequeno nos braços. E o menino era tão bonito ! Parecia até o Menino Jesus das histórias da bisa !

A avó colocou a menina no chão e correu para o quarto. Sua filha acompanhou-a.

Ao abrirem a porta, a bondosa velhinha estava morta, serenamente reclinada no travesseiro alto e com leve sorriso nos lábios. E a pequena Lucinha disse :

- Alí, vovó...O homem e o menino estavam alí. Acho que eles vieram buscar a minha bisa !

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Dia 22 de Agosto - Dia do Escritor Louveirense

Ademir Tasso
Enviado por Ademir Tasso em 11/07/2009
Código do texto: T1693590
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