ELEONORA

Na Fazenda Ribeirão das Almas, nome fictício que darei a uma das fazendas de Louveira, muito conhecida, se passou esta história.

Ainda durante a negra mancha da escravidão, a filha mais nova de seu proprietário, Eleonora, se apaixonara por um mulato do eito...escravo forte, decidido e excelente braço para a lavoura.

- Você tem coragem de se encontrar com aquele negro, Eleonora ? Já imaginou se papai ficar sabendo ? Eu não quero nem pensar numa coisa dessas...

E Eleonora suspirava, sem nada temer:

- Eu não tenho medo de nosso pai, Elvira. Que poderá ele fazer comigo ? Me matar ? Mandar matar Julião ? Se eu morrer, Julião disse que se suicida. Se ele morrer, eu me mato...Então...

- Você está completamente louca, minha irmã. Nem pense nessas coisas ! Me dá até arrepios !

E os dias se passaram.

Uma noite, o pai de Eleonora não conseguia dormir e levantando-se, dirigiu-se ao alpendre do casarão mal iluminado e fantasmagórico entre as frondosas árvores do jardim.

Sentou-se numa das cadeiras, acendendo seu charuto, pensativo. Alguns minutos depois, divisou dois vultos que se esgueiravam nas sombras, como se procurassem se esconder. O homem se levantou como um autômato e aguçou a vista...Entrou na casa, pegou a espingarda de caça e sorrateiramente saiu para o jardim sombrio, azulado de luar.

Esgueirando-se por entre as folhagens, ouviu vozes sussurradas. Se aproximou lentamente...escutou uma voz masculina que dizia :

- O melhor que temos a fazer é irmos embora desse lugar. Caso contrário jamais teremos a nossa felicidade, Eleonora. Seu pai jamais consentirá no romance de sua filha com um escravo...Vamos fugir...Fugir para bem longe, onde ninguém nos encontre...

- Farei o que quiser, Julião...- respondeu apaixonada a jovem meiga e delicada.

- Vamos partir por estes dias...Vou pegar dois cavalos na cocheira e deixar preparados. Partiremos para muito longe...

E antes que a jovem pudesse responder, um tiro certeiro se ouviu e o negro Julião tombou sobre o canteiro de margaridas, colorindo suas brancas pétalas com seu sangue.

Eleonora nem teve tempo de gritar. Os braços fortes de seu pai a agarraram e a arrastaram para a casa grande. Desde essa noite, ninguém mais soube do paradeiro da jovem Eleonora.

Alguns diziam que ela esteve trancada no porão da casa grande até sua morte. Outros disseram que ela enlouquecera e morrera num manicômio. Mas o certo, é que muita gente chegou a passar à noite por aquele local e ter visto uma bonita jovem, caminhando entre os canteiros de margaridas e chamando entre lágrimas, numa voz gutural de inútil lamentação:

- Julião ! ...Onde você está ? Onde você está, meu Julião !

Verdade ? Mentira ?

Não sei...Me contaram e disseram que são histórias de nossa Louveira !

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Dia 22 de Agosto - Dia do Escritor Louveirense.

Ademir Tasso
Enviado por Ademir Tasso em 11/07/2009
Código do texto: T1693596
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