O CIGANO

Me contaram que lá pelos idos de 1940, mudou-se para nossa Louveira uma família composta de pai, mãe e duas filhas.

O pai, que aqui chamaremos de Osório, trabalhava na lavoura , juntamente com a esposa, que aqui será chamada de Neide. Suas filhas, Isabel e Inês (nomes fictícios) de 18 e 16 anos, respectivamente, cuidavam da casa e de todos os afazeres domésticos.

Família religiosa, unida, freqüentavam festas juntos, orações e rezas nas casas vizinhas e assim eram felizes e todos da redondeza os admiravam.

Osório, as vezes perguntava :

- Ninguém esteve aqui hoje ? Eu e sua mãe ficamos fora o dia todo e vocês duas, sozinhas em casa, é um perigo...

E as filhas, cabisbaixas, respondiam educadamente :

- Não, senhor. Ninguém esteve aqui. O senhor bem sabe que nem as vizinhas recebemos quando o senhor e a mãe não estão em casa.

O pai, feliz, ia dormir, confiante nas filhas, que queria preservar para um possível bom casamento e evitar falatórios de vizinhos sobre a moral das duas.

Uma tarde de domingo, estando Isabel, Inês e a mãe, sentadas à porta da casa, conversando e observando o diminuto movimento da rua, um tropel de cavalos lhes chama a atenção. Olharam e ficaram assustadas ao ver que se aproximavam vários cavaleiros e carroças...

- São ciganos...- disse a mãe, preocupada. - Vamos entrar, filhas...Dizem que são perigosos.

Enquanto entravam na casa, rapidamente, Inês arrisca uma olhadela e é imediatamente correspondida por um cigano sorridente, de vestes coloridas e sedosas, com grandes brincos de ouro e lenço vermelho na cabeça.

Correspondeu ao sorriso, timidamente e fechou a porta atrás de si.

Uma semana depois, a jovem se dirigiu ao armazém mais próximo, que naquele tempo não era tão próximo assim, para comprar alimentos para o almoço.

Chegando lá, estancou e seu coraçãozinho disparou, batendo fortemente. Aquele cigano que lhe sorrira naquela tarde de domingo lá estava. Sorriu e se dirigiu a ela.

O tempo se passou e há quem tenha visto, depois desse dia, altas horas da noite, a jovem sair sorrateiramente pelas portas do fundo e se encontrar com o cigano no pomar do fundo do quintal.

Até o dia que o trem apitou mais forte...Mais forte...Mais forte ainda...e o corpo franzino se esquartejou, deixando suas carnes jovens espalhadas pelos trilhos e dormentes.

O acampamento cigano fora desmontado naquele dia e todos viajado para outras paragens...

Alguém cochichou para outro alguém, até que todos souberam que a pequena Inês procurara a morte dessa forma trágica, pois estava esperando um filho daquele cigano sorridente e que conquistara o coração puro da menina.

A família se mudou...Ninguém soube prá onde.

E aqui ficou apenas a história da jovem Inês e do cigano de vestes coloridas, de sorriso largo.

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Dia 22 de Agosto - Dia do Escritor Louveirense

Ademir Tasso
Enviado por Ademir Tasso em 11/07/2009
Código do texto: T1693604
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