A ESTRANHA CARONA

Todas as noites, quando Celeste deixava a escola, após o seu turno noturno como Diretora, pegava seu carro e cansada, pensamentos ao léu, rumava para sua residência, no vizinho Município de Vinhedo.

Uma noite, ao passar por determinado trecho da estrada costumeira, sentiu como se um forte vento frio, gelado, houvesse entrado no carro, cujos vidros estavam fechados.

Com certo receio, teve a nítida impressão que alguém se sentara a seu lado, no banco de passageiro.

Mas como não havia ninguém, respirou fundo e continuou seu percurso. Metros adiante, sentiu como se novamente o carro se encontrasse vazio, apenas com ela ao volante.

E assim foram sucessivas noites.

Receosa, não comentou sobre isso a ninguém, pois era um caso estranho e quem acreditaria nela ? Poderia muito bem ser apenas objeto de sua mente cansada do trabalho e impressão passageira.

Mas como " aquela estranha carona " continuava, Celeste resolveu, num dos intervalos da aula, comentar o caso com uma professora, muito sua amiga.

Adelaide ouviu tudo atentamente. Em determinado momento se lembrou:

- Celeste, você se recorda do acidente com o meu cunhado, o Luiz Otávio ? Pois foi naquele mesmo local onde você sente quando alguém entra em seu carro e ocupa o lugar a seu lado.

Celeste arregalou seus lindos olhos verdes :

- É verdade, Adelaide. Como não havia pensado nisso ? Foi ali mesmo que aconteceu aquele horrível acidente, onde Luiz Otávio perdeu a vida. E naquela noite eu havia cruzado com ele na estrada. Vi quando seu carro passou por mim em alta velocidade. Olhei pelo retrovisor e não mais vi o carro na estrada. Não suspeitei de nada no momento. Poderia muito bem ter se escondido após a curva. Jamais iria imaginar que seu carro se desgovernara e ele houvesse se precipitado pelo barranco abaixo, vindo a falecer.

- De fato foi isso mesmo que aconteceu. Você acredita que sua alma possa estar precisando de orações, Celeste ?

Celeste, muito religiosa, disse que sim.

- Então, se você tiver coragem, vamos fazer o seguinte: hoje á noite, depois da última aula, eu a acompanho com meu carro. Paramos no local onde isso tem acontecido e ajoelhadas, na beira da estrada, vamos fazer orações pelo eterno descanso da alma de Luiz Otávio.

Celeste concordou. Fizeram como o combinado.

Naquela noite de sexta-feira, faltando pouco para meia-noite, quem passasse pela estrada Louveira/Vinhedo podia ver dois carros estacionados no acostamento e naquela escuridão, um pouco mais adiante, o vulto opaco de duas mulheres ajoelhadas, orando em voz alta.

E desde essa noite, nunca mais Celeste , ao passar por aquele local, sentiu " a estranha carona " entrar em seu carro e acompanhá-la por alguns metros.

Ele, por certo, precisava das orações daquela professora, sua última visão antes do acidente que lhe tirara a vida !

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Dia 22 de Agosto - Dia do Escritor Louveirense

Ademir Tasso
Enviado por Ademir Tasso em 14/07/2009
Código do texto: T1699425
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