Vampiros em Nothound - parte III

3

Senti o tecido fino da camisa que me vestia molhado e frio, porém não tão frio quanto eu.

Havia retalhos da minha blusa por todos os lados do chão imundo e eu estava com marcas úmidas nos olhos, havia sangue manchando a camisa branca na região do pescoço e quando tentei me levantar alguém me puxou para trás.

Novamente a mão fria e fortemente esmagadora tampava minha boca e me pedia silêncio e calma. Aos poucos a agonia foi passando.

_ Se lembra de alguma coisa?

_ Na verdade me lembro até certa parte somente. O que aconteceu depois que eu gritei?

O braço direito dele me mantinha junto ao seu corpo.

_ Um dia você vai se lembrar, vai demorar um pouco, só que vai se lembrar, no entanto é bom pedir que não se culpe porque você estava sob o efeito do veneno.

_ Veneno? - minha voz era mais rouca.

_ Sua avó te alertou sobre nós, esse foi o maior erro dela.

_ Sedentos, como assim?

_ Pense um pouco, sedentos, um homem tem desejo do que? - ele olhava sem piscar dentro dos meus olhos - De mulher, não é mesmo? Só que nós temos desejo pelo sangue delas, e quando conseguimos experimentar ela se torna uma de nós, feliz ou infelizmente você é a única vampira daqui, a única que sobreviveu aos efeitos repentinos de veneno.

Milhões de informações e de pensamentos vinham como bomba em minha mente e me deixavam cada vez mais sem rumo.

_ Que efeitos seriam esses?

_ Prefiro que você se lembre depois, sozinha, quem sabe até te dê saudade.

_ Não consigo acreditar... É totalmente fora da minha realidade, sempre ouvi minha família dizer coisas assim mas nunca, nunca, acreditei.

Ele não respondeu. Seus olhos fitavam o teto cheio de teias de aranha.

_ Ontem, você estava arrogante, cínico, isso é efeito de alguma droga?

_ Pode ser considerado assim. As drogas humanas acalmam os efeitos das nossas.

_ Quais são as de vocês?

_ As nossas... Bem, o cheiro do teu sangue é minha heroína. Afeta todos os órgãos do meu corpo. Me elimina.

Tudo girava, minha cabeça estava cheia, tinha sede, mas era uma sede estranha, sede por um gosto que vinha em minha boca automaticamente quando eu sentia o perfume de Pietro.

_ Eu te mordi?

_ Creio que sim, está vendo isso aqui? - ele me apontava um rasgo ainda em carne viva feito em seu pescoço - Obra sua. Descontrolada.

_ Seria justo eu pedir desculpas sem nem ao menos saber o que você fez comigo depois?

Assim que começara a falar notei que ele tentava se desprender de mim e se levantar, por isso facilitei e me afastei um pouco.

_ Pode ter certeza de que eu não fiz nada sozinho, aliás, isso seria impossível, talvez você já esteja entendendo.

Levantei os braços tentando disfarçar e fingir que nem imaginava.

_ Não quer ir para casa agora?

_ É melhor, mas... Como vou ir embora com a sua camiseta?

Eu já havia me levantado e me encontrava ao lado dele, perto da porta.

_ Só me siga e não tire as mãos do meu braço.

Obedeci, até mesmo porque eu não tinha a mínima vontade de ser vista com aqueles trajes. E nem podia.

Não tinha nem noção de horas, sei porém que não havia rastro de pessoas na rua. Nenhuma alma sequer. Ou melhor, se tivesse alma por ali seriam apenas as nossas, ou alguma penada que não notei no caminho.

Ele se despedira de mim com um beijo suave na testa, não sei porque, mas tive a impressão de que o beijo de despedida eram quase nada perto dos da noite passada. Fui deixada logo abaixo da janela do meu quarto que encontrava-se aberta. Escalei devagar e fui rápida ao me enrolar na toalha e seguir para o banheiro.

Fernanda Ferreira
Enviado por Fernanda Ferreira em 12/09/2009
Reeditado em 12/09/2009
Código do texto: T1806093
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