Vozes do Além 

   Mais um dia.
   Aqui sentado, paro e penso um pouco.
   Como as coisas estão acontecendo. Nada está sendo do jeito que eu planejara.
   Mas, estranhamente, me sinto feliz.
   Verdade. Sinto aliviado. Parece que um grande fardo de minhas costas foi, abruptamente, retirado.
   Mesmo assim, ando rabugento. Ninguém me compreende. Ninguém enxerga a dimensão do que passei.
   Fico mergulhado nessas reflexões. De repente, sinto que um vulto passa ao meu redor. 
   Pelo perfume exalado, suave, deve ser mulher. Uma fragrância suave, cheiro de criança. Cheiro delicado, feminino.
   Deixa no ar, um puro frescor.
 
               Por onde quer que você ande
               Com seus ares de menina
               Delicada, feminina,
               Demonstra sua sensualidade
               Mesclado de fascínio.
 
               Repleta de leviandade,
               Deixa um rastro inebriante.
               Um fluido etéreo e marcante
               Que ao seu caminho me conduz.
 
     Levanto e olho para todos os lados. Tudo imóvel. Tudo na mais perfeita ordem.
     Foi uma ilusão. Ilusão pura e simples.
     Respiro fundo. Mais do que nunca, a sinto. O seu perfume é presente ainda. 
     Começo a percorrer em todas as direções. Sigo o rastro do seu perfume. Sim, perfume de mulher. Essa criatura deixa um rastro inebriante.
 
               Seu perfume inconfundível.
              Odores de lavanda, cheiro de mato.
              Cheiro de mulher de fino trato
              Vulnerável, dispersiva, implacável.
 
     Sigo esse fluido etéreo, marcante. Não importa a qual caminho ele me conduz.
     Não sei como, quase sem sentidos, andando sem direção, no escuro, encontro um braço. Puxo fortemente.
 
__ Salve-me, não me deixe morrer! Eu quero viver!
 
    Fiquei atônico. Gelado da cabeça aos pés.
    Aquele perfume. Aquela voz! 
    Busco forças onde nunca tive, tento trazê-la para perto de mim... 
    Não tenho as forças necessárias. Desmaio.
     Ainda atônito, procuro entender o que aconteceu. Encontro-me sentado, no mesmo lugar.
     Será sentimento de culpa?
     Será que devo tomar alguma atitude?
 
 ___ Eu quero viver!
 
     O que será que isso significa?
     Fico em silêncio por um longo tempo, tentando entender. Eu a ela. Nunca fiz a mínima idéia do que pensava.
     Parece que estava andando nas nuvens. Perseguindo apenas o etéreo.
 
               Persigo-a por todos os instantes
               Por caminhos errantes
               Para, ao menos, demonstrar meu sentimento.
               Talvez um puro lamento
 
     Muito estranho.
     Não acredito nessas coisas, mas que algo mudou, isso é incontestável. Tenho uma sensação diferente. Uma leveza incomum.
     Vejo agora, claramente, o sentido de suas palavras.
     Deixarei você viver. Ou, ao menos, vou sonhar, para que um dia, eu possa te salvar!
Oswaldo Genofre
Enviado por Oswaldo Genofre em 14/02/2010
Reeditado em 16/02/2010
Código do texto: T2087454
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.