Diários da Morte 4.

Não sou a única que vive de matanças. Precisa-se de muitas como eu para cumprir as metas estabelecidas pelo chefe. Eu não o conheço, apenas ouvi falar. Mas é dele, do último na pirâmide hierárquica que decide que deve ser morto, ou como algumas de nós preferem dizer, ser transportado. Durante as sete semanas de treinamento a única coisa repetida sobre o chefe é que apenas a força da mentalização dele fazia surgir os nomes em nossos livros negros.

O livro é de uma capa dura de um couro já extinto. Algumas citam dragões, outras de mamute, mas ao certo, dá pra afirmar apenas que o material é raro. Sobre o livro também nos é informado que ele contém exatamente o número de páginas necessárias para o cumprimento da missão. O meu não é dos menores, mas já vi alguns, no mínimo cinco vezes maior que ele. Meu livro esta bem no meio, o que significa que ainda terei de providenciar várias mortes, mesmo que eu já esteja trabalhando contra minha vontade.

Simplesmente cansei. Por isso tenho compartilhado meus anseios. A sempre algo para fazer, e quase sempre com aquele sentimento de monotonia, onde quando mais queremos chegar o fim da jornada mais ela se parece distante. Talvez eu não estivesse preparada, mas o fato é que tenho considerado totalmente irrelevante continuar meu trabalho. O que haverá depois disso? Sinceramente esperava que a morte me libertasse dos problemas terrenos, no entanto aqui estou eu, mais fadigada que antes.

Tudo se torna ainda mais chato neste cenário. Que asilo horroroso. Paredes mofadas, camas rangendo, gemidos, luz lúgubres, um ambiente totalmente insalubre, embora isto não seja problema pra mim. Talvez seja para os outros internos. Já este velho também não lhe importa mais as condições de higiene, embora sua teimosia em morrer agarrado ao último fio de vida que lhe corre nas veias. Continuarei sufocando seu peito lentamente, e antes da meia noite ele terá descoberto seu caminho.

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 04/03/2010
Código do texto: T2119108
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