Diários da Morte 6.

Viver é uma caminhada constante para a morte. Ou seja, quanto mais vivemos mais próximos da morte estamos. Uma constatação cruel, não fosse essa maldita eternidade, que segue linearmente, nos deixando cada vez mais dúvidas, do que repostas para nossas perguntas.

Vejamos, qual seria o propósito de morrer, se continuamos a peregrinar com nossas almas por aí. Por que simplesmente não ficarmos por aí, decrépitos, mas sem ter de fazer esta tal passagem, que a mim não levou a lugar algum. Pior ainda, tenho que assistir diariamente pessoas indo para algum lugar? Par onde? “Isto não lhe compete.” É a única coisa que me dizem.

Meu trabalho é pior que de um metalúrgico, que passa a vida apertando a porca do parafuso da suspensão traseira esquerda. Ao mesmo ele sabe qual o produto saíra no final da linha de montagem. Já eu continuo na obscuridade de um superior que jamais se revela. Nem mesmo para mim que faz este trabalho tão essencial.

Por exemplo. O caminho de Tiago Pedroso está preparado. Tudo pronto, ele cruzará sobre a faixa branca, um motorista desatento não o verá, e ele será atropelado. Fatalmente. Ninguém notará meu trabalho, afinal, este recurso é muito recorrente entre nós, e ninguém mais dá importância para atropelamentos.

Mas era isso que queria falar, e sim, que pronto, fiz minha parte, conduzi sua alma de um estado vivo da matéria, para energético, onde resta apenas sua alma, que por vezes inclusive teima em desgrudar-se da matéria. Dizem até que isto ocorreu comigo. Mas e depois, quando não ficamos vagando como meu caso que não surgiu nenhum guia para carregar-me, para onde aquelas almas de cores múltiplas, que dizem variam por causa do humor, ou pelo destino de quem morreu, para onde vão? Tudo continua mistério.

Portanto meus amigos, se vocês pensam que a vida é chata, não se decepcionem, deste lado as coisas não melhoram muito, e pelo menos eu continuo na absoluta ignorância. Pelo menos me divirto quando tenho que matar, um bandido qualquer, embora estes sejam mais raros de morrer, por incrível que pareça.

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 09/03/2010
Código do texto: T2128536
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