O CRAVO E A ROSA

        Todas as  primeiras quartas-feiras do mês , repetia-se o mesmo fato, e, o coveiro, do pequeno cemitério da localidade, já estava de cabelos em pé  por não achar explicação para ele. Havia tomado as providências que julgava necessárias, para descobrir quem deixava nos dois túmulos, em corredores diferentes; e também em lados contrários, uma rosa branca e um cravo vermelho;a rosa no da direita e o cravo no túmulo da esquerda; da entrada do portal de acesso ao cemitério. 
      
 Jamais havia visto qualquer pessoa se aproximar dos túmulos, pois em localidades pequenas todos se conhecem, incluindo aos que ali estavam sepultados, desde a inauguração,e  Jonas, já estava ali desde o inicio, excetuando apenas uma meia dúzia; que foram os pioneiros, antes da comunidade transformar o local em sepulcros definitivos. Aqueles dois  sepulcros eram dessa época e por isso não tinham os nomes indicativos dos seus “hospedes permanentes”.
    Jonas havia procurado incansavelmente descobrir, a quem pertenciam; não logrou êxito em nenhuma tentativa. Mas nos seus 72 anos de vida, fez uma promessa: descobriria o mistério , custa-se o que custa-se e, não morreria sem ficar sabendo quem estava neles.
   O mês, era setembro, a data 04, a hora, 05;00 da manhã e o dia da semana, uma quarta-feira. Jonas havia acordado cedo e resolveu ficar  escondido  na câmara mortuária, que ficava no corredor vertical ; de onde poderia visualizar os dois sepulcros simultaneamente. O sol nascia no lado da lagoa e seus raios ainda tímidos  começavam a desmanchar as gotas de orvalho, que se haviam formado na noite primaveril.   
    Repentinamente uma rajada de vento em forma de um pequenino tornado passa pelo corredor e nele esvoaçam: um pequeno cravo e um lindo botão de rosa. Jonas, com os cabelos eriçados, e os olhos esbugalhados, não consegue acreditar no que vê; e mais perplexo fica, quando o redemoinho deixa no primeiro sepulcro: a rosa, e dando prosseguimento à sua trajetória, deixa no outro: o cravo.  Ainda sem acreditar no que via, Jonas recebe no braço o impacto de uma folha de um jornal velho e quase desbotado. Quando se refaz do susto, faz um esforço e consegue ler o cabeçalho, cuja data, logo lhe chama a maior atenção; pois aquele vespertino tinha mais de cinqüenta anos e por incrível que possa parecer, estava inteiro. 
   Passados alguns segundos, mas ainda com todos os pelos em pé, Jonas pega seus óculos e começa a ler a manchete da capa, cujo conteúdo era:  “Um terrível acidente, ocorreu hoje em nossa cidade,  Carlos Kriebim e Núbia Kriebim; um jovem casal de floristas, tiveram  suas vidas ceifadas tragicamente quando um tornado, que se  formou repentinamente, em nossa zona colonial, atingiu o telhado de sua bela  floricultura, e que, ao cair, acabou soterrando os dois novos proprietários recém-casados.  
    Jonas, no dia seguinte, mandou confeccionar numa placa o nome dos dois; rezar uma missa na paróquia local e pediu ao prefeito da localidade e ao administrador do cemitério que mandasse colocar os dois no mesmo tumulo após a reforma que seria feita.
     A partir dessa data, o cravo e a rosa, foram por muito tempo ainda encontrados juntos. Jonas manteve em segredo e com todo o carinho os fixava em um belo vaso, que havia comprado e colocado junto ao novo mausoléu.   
                            Não há fim!            

 
      
Gildo G Oliveira
Enviado por Gildo G Oliveira em 07/04/2010
Reeditado em 08/04/2010
Código do texto: T2183650
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