Faca Na Carne

 
     Silêncio, porta se fecha para o que poderá ser dela, entrega. Duas horas e a fantasia retorna. Do abraço que virá, na dose certa para o querer ficar, mais um minuto nestes segundos de prazer.
     Do outro lado da rua sena nua e crua. Como no jornal de hoje, morte por uma amante, como o jornal de ontem retrato do jornal de amanhã.
     A porta se abre, sai o lacre. Passos firme que chegam.Um apartamento sem dúvida apertado. Frasco de veneno ao lado.
     Será Rita que chega? Abajur apagado sobre a mesa. Acendo para ter a certeza. Para enxergar o desfecho, um beijo, quem sabe o deleito do leito. Rita entra despenteada, desgovernada. Escora-se na parede verde.Derruba meu terno, velho. Olha-me como se tudo desabasse.
     Na sua mão uma garrafa. Nos olhos fumaça. Ela caminha lentamente ao meu encontro. Olho-a com espanto. Como uma novela eu espero a encenação. Eu observo com uma arma na mão.
     - Você voltou para mim Rita? – Pergunto seguro da resposta, não, mas sei que meu amor é tanto, que mataria se ela me responder neste tanto. Ela sabe o risco que corre, aguardo.
     - Vim por considerar que tivemos algo maravilhoso, mas não agüento o estorvo de encarar seu rosto, cheguei agora para ir embora da sua vida.
     Meu coração se apertou. Fui até a cozinha e voltei com uma faca na mão. Olhei pela janela e enxerguei um horizonte abandonado. Estava livre para me livrar dela e acompanhá-la na morte. No Jornal de amanhã, amante mata sua amada perpetuando o romance, eternizado no sangue misturado na cozinha, minha.
     Rita recua, olha para a porta de saída e entra alguma coisa ou alguém. Completamente fora de sena.
     - Este é meu filho! Tudo que existe neste mundo para mim é dele.
     Fiquei aterrorizado, escondi minha faca ao lado. Olhei Rita enquanto recuava e saída ao lado de seu filho pela porta. A morte ronda minha casa. A porta fechou Rita se foi.
     Olhei ao lado uma faca que tinha endereço certo, um coração aberto. Do outro lado a arma, se no receio de esfaquear a arma iria usar. No criado mudo veneno. As horas passam e não sei o que faço. Batem a porta. Imagino, Rita esta voltando, leso engano. O marido de Rita entrou, levantou uma faca e tentou enfiar no meu peito, defendi e cortei-lhe a barriga. Enquanto o sangue descia chega Rita e o leva na correria. Novamente na casa vazia, no chão vermelho de sangue uma história de amantes.
     Pego a arma engatilho, um tiro.
     Acerto em cheio o porta retratos, figura de nós dois ao lado.
     Apago o abajur, acendo a consciência.
     Amanhã, será talvez quem sabe o hoje, dos corpos de amantes.
 
 
 Fim.

Antonio C Almeida
Enviado por Antonio C Almeida em 11/04/2010
Código do texto: T2191117
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