Uma carta com amor

E lá estava Alicia, sentada na varanda da casa, já era noite, fazia frio, só não se sabe o que era mais gelado, o clima ou o coração que bombeava o sangue do corpo ali paralisado olhando para o nada.

Poucas pessoas sabiam o que havia acontecido na noite em que uma jovem fora brutalmente assassinada, e uma dessas poucas pessoas mascarou a verdade de tal forma que agora ela era a única, pelo menos viva, que sabia a real ordem dos fatores e o seu produto.

Alguns meses atrás, a menina que guarda a chave do segredo não era ninguém, e passados os tais meses ela era apenas o pivô de uma história que daria muita audiência, principalmente a ela mesma, afinal, tudo ocorrera por causa dessa palavra que desperta e aguça o sentidos das pessoas fazendo com que o controle seja perdido, audiência.

O que ela não sabe é que eu, eu mesma, sei de tudo, em detalhes, vi de perto o que acontecera na noite "D".

Jovem, linda, rica, tinha o namorado dos sonhos da isolada da sala, andava com a turma mais popular, essa garota decide fazer uma caridade, começa a inserir a tal menina nerd e isolada na turma, a produz e faz com que ela vire sua melhor amiga, contando segredos que somente alguém de confiança saberia sobre a verdadeira Jenny St. James, uma menina tímida que não tem nada de diferente, a não ser uma máscara de it girl que a sociedade a ajudava a carregar.

Se você perguntasse a qualquer jovem da escola a noite favorita e mais esperada era o baile de primavera, uma festa que nunca passava em branco, no dia seguinte sempre havia algo novo e bombástico a ser comentado, e Alicia COBRA, não poderia ter escolhido uma data melhor.

No fim da festa haviam poucas pessoas sóbrias, como ela já havia planejado, houve uma briga entre Jenny e seu namorado Steven, tudo por causa de uma foto que fora enviada ao celular dela, foto essa que provavelmente fora enviada pela cobra de estimação da pobre Jenny que agora chorava bêbada e com a maquiagem fracassada dentro do carro da melhor amiga que supostamente a levava para casa.

Mas como nem toda história acaba no "fomos felizes para sempre", Jenny fora entorpecida por um remédio colocado dentro da água que Alicia a oferecera no carro, pararam em uma estrada, o vestido branco da it girl agora era totalmente sujo pela terra em que ele se arrastava.

Jenny levara dois tiros na cabeça, depois disso seu corpo fora repartido e jogado em um lugar longe o suficiente para não ser descoberto, a antiga loira Alicia agora tinha os cabelos ruivos e estava sentada em uma cadeira de madeira, no fundo de uma casa alugada, vivia a milhares de quilometros de sua real cidade, mudara de nome, fora dada como desaparecida, assim como a falecida "amiga".

Por mais que eu queira me controlar não posso.

Caminhei lenta e sensualmente até a cadeira de Victoria, ou Alicia, agora já não importava, ela não me vira, mas sentia minha presença, peguei a arma que ela havia colocado ao seu alcance repousando na mesa com um vaso de flores silvestres ao lado, uma visão natural que não combinava com a arma ali deixada.

Nossa pequena Alica estava desesperada, mas não teve tempo de sofrer muito, passados alguns minutos, tudo o que se podia ver eram apenas um corpo, dois tiros na cabeça, uma arma em sua mão, e mais nada.

A única que sabia da verdade agora, estava morta, e sua assassina, bem, eu estava desaparecida.

Com amor,

Jenny St. James

Fernanda Ferreira
Enviado por Fernanda Ferreira em 22/07/2010
Código do texto: T2392306
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