O golpe fatal
As folhas secas dos plátanos esvoaçavam pelo campo, tocadas pelo vento impertinente e gelado. Aquele era um dia tenso, cinzento como as almas impuras, e banhando por uma chuva escaldante que servia como empecilhos durante a batalha. Os cabelos negros e compridos do guerreiro pendiam para sua esquerda, enquanto seus punhos erguiam o aço fosco pelo dia triste em que a terra perderia pelo menos um guerreiro. Nas montanhas os corvos grasnavam como trombetas fúnebres e toda a fauna havia fechado os olhos para não testemunharem trágico desfecho. Então a espada moveu-se rasgando a gravidade, embicada ao chão, onde o rosto contemplativo do vencido aguardava pela sua passagem. Nestes poucos segundos, seu coração digladiava-se entre a aceitação da derrota e a contestação por partir tão cedo, quando poderia contribuir em muito com o reino. Quando a espada rasgou a terra, furtando-lhe pedregulhos estava a milímetros da face suada. Perplexo, os olhos do vencido buscavam por respostas. ― Antes de qualquer coisa o guerreiro tem de ser piedoso. Disse o vencedor, estendendo as mãos ao vencido, e erguendo-lhe novamente.