O RUÍDO

Quando abri meus olhos naquela madrugada fria, logo me levantei e pude sentir o chão gelado sob meus pés, e mesmo assim fui descalço tomar aquela que me matava de sede. No entanto, foi ao descer as escadas que comecei a ouvir um ruído vindo de algum lugar que a principio eu não soube identificar da onde, era um som esquisito e sincronizado soando em intervalos de alguns segundos. Fiquei assustado, e enquanto eu terminava devagarinho de descer, percebi que o ruído vinha direto do quarto lá embaixo. Meus pais estavam dormindo, e já que não queria interromper o agradável sono deles, eu mesmo tomei coragem e resolvi verificar a causa daquele barulho estranho. Aliás, eu também precisava tomar água.

Nunca havia ouvido algo tão irritante e perturbador quanto aquilo, e assim que cheguei na cozinha que dava acesso a sala e consequentemente ao quarto, percebi que eu estava suando frio devido ao medo que já tomava conta de todo meu ser. E conforme meus pés descalços deslizavam a passos curtos rumo ao agudo estridente, que ao chegar cada vez mais perto ficava mais alto, passei a suar ainda mais frio e senti meu coração pulsar mais forte. Não podia voltar atrás e desistir do que estava prestes a ser revelado, e embora permanecia com medo do ruído não identificado, ao mesmo tempo fiquei muito curioso para saber o que causava aquele som amedrontador.

A casa estava totalmente escura e não consegui ascender a luz da sala. O silêncio da madrugada só se quebrava com o pavoroso agudo, que me deixava com mais receio ainda. O medo era certeiro, mas a vontade de superá-lo era maior ainda, e já que nada estava me favorecendo, resolvi enfrentar os meus demônios abrindo de uma só vez a porta daquele quarto de onde vinha o som perturbador. Entretanto, ao ascender a luz do quarto e me deparar com aquele ser todo enrugado deitado na cama, a surpresa veio a tona...tinha esquecido que meu avô Bartolomeu chegou de tarde para passar uns dias em casa, cujo senhor desde pequenino eu não via e muito menos sabia que sofria de um câncer na garganta que ao roncar liberava um estranho barulho. O ruído.

Através daquele até cômico fato, descobri que sou uma pessoa que enfrenta meus medos para buscar a verdade. Fui terminar meu sono, e dormi esquecendo que estava com sede.

Dan Will
Enviado por Dan Will em 21/11/2010
Reeditado em 01/11/2018
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