A CASA DO VENTO

Encontrei essa carta dentro de um livro. Comprei o livro na banca de um ambulante. Comprei o livro pela capa. Capa dura, com bela estâmpa. Li

a carta e não li o livro, o livro desapareceu. Devo ter perdido em alguma mudança de casa. Gostei da carta e resolvi dividir com você.

X X

É a última casa da rua onde eu moro tendo como companhia as minhas lembranças. Tem o número 1712 estampado numa pequena placa preta com moldura branca presa no pesado portão de ferro fundido. O grande cajueiro entre o muro de pedras e a fachada, esconde parte da beleza dessa que sempre foi morada de meus antepassados.

Sob a sombra do cajueiro o gramado é bem cuidado, assim como as várias plantas ornamentais que obrigam o passante a deter-se para apreciar a variedade de flores e cores, que tanto agradam as vistas quanto ao olfato. O cajueiro está no centro de um labirinto. Quando aqui cheguei o cajueiro me recebeu repleto de flores. Tantas floradas e

frutos testemunhei todos esses anos. Fomos todos alertados por meu

avo Eulálio nunca comermos do fruto do cajueiro. Todos os cajus seriam

sempre doados a estranhos.

Ao longo de séculos essa casa é habitada por descendentes do homem que a construiu. Eu sou o ultimo descendente. Não existem herdeiros, e comigo morrerá a tradição. Partiram todos; Apenas eu fiquei. Mas sei que logo partirei como os outros. O destino dessa casa, bem como de seus futuros moradores muito me preocupa. Ela não pode ser demolida, não pode.

A mansão é conhecida como a casa do vento. Cheguei a essa casa no dia em que eu completava setenta e quatro anos. Em todos esses anos não houve um segundo sem esse vento, esse vento que entra não se sabe por onde, e não sai por lugar algum.

Em sua juventude meu avo Eulálio peregrinou por países do oriente médio, onde ficou por trinta e seis anos. Ao regressar surpreendeu a todos com sua decisão de mudar-se para um novo continente. Todos tivemos que seguir com ele para essa nova vida. E assim teve início uma verdadeira epopeia.

Poderia ser classificado de êxodo, tal quantidade de pessoas deslocadas. Partimos em oito naus, ao destino chegaram seis. Não sabíamos o que nos aguardava neste continete. Mas Eulálio sabia. Antes de voltar de sua longa viágem ao oriente, ele esteve nessas terras, e aqui constriu tudo que seria preciso para abrigar-nos.

Eulálio construiu trezentas e vinte casas, de norte ao sul desse grande país continental. Algumas de suas propriedades hoje são estados da federação. Cada uma dessas casas tem sua peculiaridade. Em cada uma

um segredo diferente da outra. Desconheço os segredos das outras casas

Todas as mobilias dessas casas foram compradas em países orientais. Na casa do vento a, grande mesa foi colocada antes de tudo o mais. Exigência de meu avo. Sempre foi e ainda é proibido sentar-se a mesa fora dos horários de refeição.

A mesa tem quatro grandes gavetas, dentro de cada uma há uma caixa de ébano, e dentro de cada caixa de ébano um//

Mas o que estou fazendo? Eu prometi ao meu avo que jamais contaria esse segredo. Pretendia alertar aos futuros moradores dos cuidados que devem ter, principalmente as mulheres grávidas. Não posso alertá-los.

Jogarei essa folha de papél e as caixas ao vento. Decida ele o que fazer.

Yamãnu_1
Enviado por Yamãnu_1 em 29/03/2011
Reeditado em 29/03/2011
Código do texto: T2877535
Classificação de conteúdo: seguro