MORANDO COM OS ESPÍRITOS
                        

         Carla aguardava ansiosa na recepção do Edifício o representante da imobiliária o qual tinha alugada um apartamento, a tarde estava quente e parecia que as horas passavam depressa, pois as sombras dos outros prédios já apareciam tentando amenizar o clima quente daquele dia de céu aberto.
         A porta da recepção abriu-se e um senhor se apresentou ao porteiro do prédio como o representante da imobiliária que estava alugando o apartamento 403 para uma moça. O Porteiro logo foi direcionando o senhor da imobiliária para a moça que se encontrava sentada o aguardando na recepção. Este foi logo se apresentando:
     - Boa tarde Senhorita Carla, eu me chamo Antônio, um grande prazer.
     - o Prazer é todo meu Seu Antônio, como vai? – Diz Carla
     - Vou bem e a Senhorita? – Responde Seu Antônio com um sorriso leve.
     - Agora estou bem, estava ansiosa, parecia que hoje não ia ver este apartamento! – Diz Carla demostrando ansiedade.
     - Quer isto Senhorita, nossa imobiliária nunca iria faltar com um compromisso deste, será um prazer atendê-la. – Diz Seu Antônio acalmando Carla.
     - Obrigada Senhor Antônio, vamos subir pra ver o apartamento! – Diz Carla agora mais tranquila.
     - Claro Senhorita, vamos para elevador. – Diz Seu Antônio apontando para o elevador.
         O elevador chega ao quarto andar, o coração de Carla parece que quer explodir de alegria por ter conseguido um apartamento em um local bom para seu deslocamento até o seu trabalho. Senhor Antônio guia Carla até a porta e abre para que ela conheça o apartamento. Carla vai entrando, na sala, nos quartos e observando tudo.
     - Realmente Seu Antônio é igual o senhor falou, está novinho parece até que ninguém morou aqui. – Diz Carla com um sorriso de contentamento
     - Como eu te falei Carla, ele nem chegou a ser muito usado, a dona deste apartamento informou que comprou e equipou tudo para sua filha, mas segunda ela a filha veio morar aqui por poucos dias, então está alugando com tudo, só está faltando lençóis, roupas de cama e objetos pessoais que caberá a você adquirir à seu gosto. – Explica Seu Antônio com detalhe.
     - Realmente está lindo Seu Antônio, o senhor tem certeza que não tem qualquer objeto pessoal aqui! – Pergunta Carla desconfiada com o apartamento tão bem arrumado.
     - Tenho Senhorita Carla, absoluta certeza, não foi deixado nada, aqui estão suas chaves e faça bom proveito deste lindo apartamento. – Diz Seu Antônio com tranquilidade.
     - Obrigado Senhor Antônio, qualquer coisa eu te ligarei. – Diz Carla sorridente.
          O corretor da imobiliária foi embora, Carla após trancar porta expressou um sorriso de canto a canto de sua boca, sentindo um ar de liberdade e prazer naquele instante, foi em todas as janelas abrindo-as, percorreu cada parte do apartamento para se certificar se tudo estava como imaginava. Era um dia de sexta feira e Carla ia ter o fim do dia e final de semana para comprar as coisas que faltava e arrumar do seu jeito o apartamento.
          Após curtir um pouco seu apartamento Carla começou a fechar as janelas para sair para suas compras, quando fechou a janela do primeiro quarto um vento suave ateou elevando seus cabelos louros um pouco, como uma brisa mais elevada seguindo para a suíte movendo de leve a porta. Carla não se importou e continuou a fechar as janelas, quando chegou à suíte para fazer o mesmo encontrava-se na porta do closet um par de chinelos juntinho como se se aguardasse alguém. Carla achou estranho, pois segundo seu Antônio não havia nada pessoal no apartamento, como aquele par de chinelos foi aparecer ali. Meio desconfiada Carla entra no closet e vai olhando com receio, pois aquele par de chinelos não estava ali antes, isto tinha certeza, vasculha tudo e nada encontra que justifique sua desconfiança.
          Carla sai para fazer suas compras, pega o par de chinelos e deixa na lixeira coletiva do prédio, não pergunta e nem comenta nada com o Porteiro e vai para a estação do metrô. Após suas compras Carla chega à noite, faz um sinal com a cabeça para o Porteiro, suas mãos estão ocupadas com tantas sacolas que apenas expressa um leve sorriso e diz boa noite. O Porteiro abre a porta de acesso ao elevador, abre e espera Carla entrar para retribuir a boa noite.
          Carla chega ao apartamento, começa a desembrulhar suas sacolas e vai colocando e arrumando nos lugares desejados suas primeiras compras, para depois curtir sua primeira noite sozinha. Sua primeira refeição é preparada, um sanduiche pronto é colocado no micro-ondas enquanto vai a geladeira para pegar um suco de caixinha que tinha comprado. Carla escuta uma voz e se assusta, corre para a sala e a TV está ligada, não se lembra de ter ligado e retorna para pegar seu sanduiche que o micro-ondas avisa com sinal sonoro que está pronto, quando retorna sa TV está desligada como se nada tivesse acontecido. Carla para um instante no meio da porta que tem acesso a cozinha e fica pensando, acho que me enganei, deve ser a TV de algum vizinho que estava ligado alto e pensei que fosse aqui.
         Carla pega o controle e liga sua TV enquanto aprecia seu sanduiche e seu suco de laranja quase artificial, o tempo vai passando e não se atém a isso, quando adormece no sofá vendo um filme. Carla acorda com uma leve brisa fria assoprando seus ouvidos, percebe que já é tarde, mas não percebe que a brisa é igual a que soprou seus cabelos e balançou a porta da suíte naquela mesma tarde, meio sonolenta vai para a suíte, acende a luz e se dirige para o closet na intenção de tomar um bom banho pra depois dormir, procura seus chinelos e lembra que se esqueceu de comprar este item, caso que seria resolvido no dia seguinte.
          O banho quente fez com que Carla ficasse um bom tempo no chuveiro, quando lembrou que estava há muito, desligou o chuveiro, pegou a toalha e foi saindo calçando os chinelos que se encontrava seco a sua frente, começou a se enxugar passando a toalha em todo seu corpo, quando chegou com a toalha em sua perna percebeu que estava de chinelos, pulou de lado tentando tirar os chinelos de seus pés como se ali tivesse uma barata, um rato, uma cobra ou coisa que ela não soubesse o quê, de tanto susto que tomou. Carla percorreu o quarto tentando tirar os chinelos de seus pés, jogou o par de chinelos no canto, sentou-se na cama e começou a pensar no que podia está acontecendo, como um par de chinelos pode aparecer por duas vezes em seu apartamento, isto era um caso para se repensar e começar a sentir medo.
          Após alguns instantes pensando e o medo percorrendo seu pensamento Carla teve uma ideia, levar novamente o par de chinelos para o lixo e comentar com o Porteiro do prédio se este conhecia a dona dos chinelos ou se alguém não tinha perdido algo parecido, pois o par de chinelos estava novinho, como se nunca tivesse sido usado. Carla pegou um saco plástico vazio que veio com as compras que fez, colocou o par de chinelos já com receio e medo, vestiu-se e foi à portaria tentar desvendar este mistério.
          O Porteiro pressentiu sua presença e prontamente prestou-se ao seu atendimento. Carla explicou o acontecido com detalhes e procurou se o porteiro não sabia a origem daquele par de chinelos. O Porteiro olhou o par de chinelos com calma tentando lembrar se não tinha visto antes, após uma investigação criteriosa lembrou que tinha visto aquele par de chinelos com alguém, mas no momento não lembrava direito com quem. Carla aguardou por uns instantes se o Porteiro lembrava este por sua vez balançou a cabeça negativamente afirmando que no momento não lembrava, mas se lembrasse iria lhe dizer prontamente.
          Carla pegou o saco plástico com o par de chinelos e foi colocar novamente na lixeira coletiva, ao retornar comentou com o Porteiro, tampei bem a lixeira, espero que ele não retorne ao meu apartamento. O porteiro tentando ser simpático puxou conversa e Carla começou a conversar para distrair e também conhecer melhor seus vizinhos, por que o dia seguinte seria um dia que ela teria um pouco de convivência com alguns moradores do prédio.
          O tempo passou depressa e Carla não percebeu, quando olhou o relógio se assustou, cumprimentou o Porteiro e pegou o elevador. Quando Carla chegou a seu andar que as portas do elevador se abriram, percebeu que tinha uma Senhora bastante idosa na porta de seu apartamento conversando, Carla tentou identificar a pessoa que a mulher conversava, mas com se fosse um vulto ela sumiu. Carla então cumprimentou a Senhora, esta olhou levantando a cabeça com dificuldade e respondeu com um timbre de voz rouca e baixa. Carla sentiu medo, mas abriu a porta de seu apartamento e entrou rápido, de repente lembrou-se de perguntar a Senhora idosa se ela não conhecia a dona do par de chinelos, quando abriu a porta novamente a Senhora já não estava lá.
          Carla olhou para um lado e para outro e foi entrando novamente para seu apartamento quando sentiu uma brisa agora mais forte levantando seus cabelos, fechou a porta rapidamente e foi para o quarto na tentativa de dormir, pois os mistérios do par de chinelos já tinha consumido seu pouco tempo de descanso e estadia no seu apartamento novo.
          Carla percebeu que sua primeira noite sozinha no apartamento iria lhe deixar apreensiva e com medo, mas não tinha alternativa, tinha que se acostumar a partir daquele dia. O sono já estava presente e a cama lhe convidava para um descanso de guerreira, pois tinha trabalhado o dia todo e a ansiedade do morar sozinha também consumia um pouco de sua energia.
          O Porteiro após um tempo sozinho observando o tempo passar começa a lembrar de quem era o par de chinelos, isto lhe deixa apreensivo, pois o par de chinelos pertencia à última dona do apartamento que morreu precocemente em um acidente de carro justamente na comemoração com os amigos por ter ganhado o apartamento todo equipado de sua mãe em razão de sua formatura em Medicina.
          Carla acorda meio sonolenta com um barulho em sua cozinha, como se alguém estivesse tentando fazer comida ou procurando algo para comer, novamente o barulho é ouvido. Carla agora fica ativa e seus olhos se se arregalam demonstrando pavor com o susto que vem da cozinha. Carla sentada na cama abrasa-se com seus joelhos tentando conter seu pavor, mas o barulho continua, após alguns instantes o chuveiro é ligado como se alguém estivesse tomando banho, o desespero aumenta e sem saber o quer fazer fica parada desejando que alguém apareça e acabe com aquele temor que sente naquele momento.
          Algumas coisas começam a acontecer em sua volta, a TV na sala é ligado, o chuveiro continua como se alguém estivesse lá e ouvem-se nitidamente passos por todo apartamento como se alguém estivesse realizando algumas tarefas ou simplesmente passeando por todos os cômodos do apartamento. Carla não contém seu choro e o desespero toma conta, o pesadelo parece aumentar a cada momento, parece que não tem como pedir ajuda ou gritar por socorro, pois não têm coragem de sair do lugar e reagir a tudo aquilo.
          Após pensar muito e resolver ligar para o apartamento de Carla o Porteiro se apressa para falar com ela e saber se tudo está bem, apesar de ser tarde da noite ele se sente na obrigação de conferir se tudo está bem, pois já tinha visto coisas naquele apartamento que o deixava em dúvida se era coincidência ou de fato tudo podia ser verdade, recentemente um casal deixou de compra-lo apesar de estar abaixo do preço por não se sentirem bem ao entrarem para conhecer suas dependências, saíram rapidamente sem dar explicações sobre sua desistência.
          Os acontecimentos em volta de Carla aumentam cada vez mais, parada sobre sua cama, fica entre o desespero e a vontade de pular pela janela de tanto medo e pavor. Carla ouve o seu interfone chamando, inicialmente confunde com os barulhos que estão ocorrendo nas dependências do apartamento, mas com a insistência do Porteiro o som fica mais nítido. Carla sai de seu ponto estático e corre para atender o interfone quando pega e coloca no ouvido ela escuta a voz da Senhora idosa que tinha visto na porta de seu apartamento:
     - Filha quero que cuide bem de minha netinha que está ai com você, este par de chinelos fui quem dei, não deixe que ela fique descalça, pois ela era doentinha quando criança, sempre ficava com pneumonia, ela é muito fraquinha! – Disse a voz rouca do outro lado da linha do interfone.
         Carla largou o interfone, correu para o quarto e se trancou, o apartamento continuava com os mesmos barulhos como se alguém estivesse presente, mas não se via ninguém. O Porteiro não conseguindo ligar para Carla resolveu ir até lá, o tempo parecia correr depressa e sentia-se esta sensação quando mais se aproximava do apartamento. Ao chegar o Porteiro bateu com força na porta já prevendo algo, após algum tempo a porta se abriu e Carla apareceu envolvida em um lençol, pálida igual a uma morta viva de tão branca de medo. O Porteiro perguntou se tudo estava bem, Carla em pavor sem esboçar uma palavra olhou para seus pés e mostrou o par de chinelos que estava calçada, por um instante prometeu uma reação, mas inesperadamente falou para o Porteiro, está tudo bem, eu estou bem, não se preocupe, eu estou bem acompanhada olhando para um lado e depois para o outro esboçando um sorriso, o Porteiro ficou confuso, mas depois foi embora dando boa noite para Carla, esta fechou a porta e de mãos dada com a primeira dona do apartamento e sua avó foram para o quarto dormir.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 13/04/2011
Reeditado em 17/07/2013
Código do texto: T2907472
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