Vampiros anônimos

Walter estava muito feliz por vê-los. Na sua experiência no tratamento de regenerados, sabia muito bem que raramente alguém conseguia chegar ao fim do tratamento. Afinal, isso era ir contra a natureza. Cada indivíduo que ele conseguia salvar já contava muito, mas esse grupo era especial. Nunca conseguira encontrar tantos que estivessem dispostos a largar o estilo de vida, que estivessem tão confiantes na própria capacidade de dizer “não” ao sangue humano.

- Boa noite, meus queridos irmãos... e irmã.

Walter teve de sorrir. Até isso era inusitado: uma vampira no grupo. Seus olhos piscaram para Lu Ann, sentada muito tímida numa das cadeiras de plástico dispostas em um círculo. Ela acenou com uns dedos excessivamente brancos em sua direção. Encolhida entre Michels, alto e esguio, e Rockwell, tão orgulhoso e gordo, parecia pequena e desbotada. Walter sorriu mais ainda. Ora essa, todos eles eram desbotados, todos os vampiros. Desbotados pela ausência de vida, desbotados pelo próprio Tempo.

- É muito bom tornar a encontrá-los – disse, satisfeito com a sinceridade que permeava as suas palavras. Nunca estivera tão satisfeito quanto nessa noite. – É extremamente prazeroso para mim fazer parte da grande mudança que está se operando em cada um de vocês, vampiros tão formidáveis.

Lucas, o vampiro relativamente mais jovem do grupo – estava com duzentos anos – riu, os dentes perfeitos reluziam feito pérolas sob aquela luz fluorescente.

- Walter, bajulador como sempre... com essa sua lábia, você seria capaz até de convencer o Diabo a não torturar os pecadores no Inferno...

Todos riram. Os doze vampiros naquela simples sala de estar sem móveis estavam de muito bom humor. Ótimo. Era difícil pegar qualquer um deles em tal estado de receptividade. Walter não desperdiçaria a chance.

- Lucas, menino travesso, você não fez nada que eu mesmo não faria, não é? Está seguindo a dieta que prescrevi, não está?

- Claro, doutor – mais risadas divertidas -, estou bebendo o sangue de ratos do esgoto municipal, dos cães sarnentos que encontro nos lixões, até de pombos eu tenho bebido... para ser sincero, tenho me sentido uma merda.

Walter ouviu tudo com muita atenção. Cada detalhe era muito importante. Era provável que Lucas tivesse uma recaída a qualquer momento. Era melhor estar preparado para quando ela acontecesse.

- Não se preocupe, rapaz – disse Walter, professoral -, eu já me senti dessa forma, há muito tempo atrás.

- E vou melhorar?

- Vai ficar tão bem quanto eu.

Um pigarro. Todos miraram quem o produzira. Walter sentiu o maxilar endurecer involuntariamente.

Cornelius. O vampiro mais velho.

- Walter, porque você não é mais claro com o nosso amiguinho aqui? Por que não é mais claro com todos os vampiros nesta sala? Diga-lhes que sem o sangue humano todos eles perderão a força, a visão. Diga-lhes que eles não poderão mais levitar.

E quem liga para a porra da levitação, pensou Walter, quando tantas vidas humanas podem ser salvas?

- Walter – advertiu Cornelius -, estou velho, mas ainda não estou surdo.

Tudo uma metáfora. Apesar de ter quase três mil anos, Cornelius conservava a aparência dos quarenta de quando fora convertido. E ele não ouvia com os ouvidos. Ouvia com a mente sobrenatural que possuía. Walter às vezes achava que para vampiros como Cornelius não havia mais volta. Eles jamais deixariam hábitos milenares. Não eram capazes, era impossível para eles.

- Desculpe, Cornelius, mas creio que todos estão dispostos a cometer certos sacrifícios... e quem não estiver, é livre para abandonar o tratamento a hora que quiser...

Sons de corpos se remexendo nas cadeiras. Mentes trabalhando. Olhos olhando-se entre si.

Mas ninguém se levantou para ir embora. Nem mesmo Cornelius. Walter agradeceu internamente.

- Cornelius? Você desejar ir?

O vampiro sorriu. Os olhos frios brilharam provocando um arrepio sobrenatural em Walter.

- Não, Walter, eu não quero ir. Peço que me desculpe, pois sou sedicioso por natureza.

- E quem não é, hoje em dia, não é mesmo?

Walter não pretendia ser grosseiro. Mas já que todos podiam ouvir os seus pensamentos...

- Então, estamos em paz?

Vários “sim” a sua volta.

- Ótimo. Quem gostaria de começar?

Ninguém se moveu. Walter suspirou, um tremor de ansiedade percorreu o seu corpo.

- Vamos lá, pessoal, não me façam apontar alguém.

- OK – alguém disse. - Eu falo primeiro.

Walter relaxou. John era o melhor. Sempre cooperativo.

John levantou. Estava mais pálido do que o normal, seus olhos eram tão claros que pareciam transparentes. Talvez estivesse sofrendo pela abstinência mais do que os outros. Walter pensava permitir-lhe uma dose de sangue para transfusões uma vez a cada mês e meio. Talvez melhorasse a aparência dele.

- Bem, hum, estou gostando dessa terapia. Conversar com outros como eu é muito bom – John riu -, eu sou viúvo, como vocês sabem.

Todos fizeram que sim. Lu Ann pareceu mais compadecida do que os outros. Walter sabia que ela já tentara, mas falhara, ao tentar se aproximar dele.

- Bom, eu, na maior parte do tempo, estou repousando no cemitério. Caçar humanos era o meu único divertimento – várias cabeças concordaram com ele – depois que Marianne...

Ele parou. A cabeça pendeu para um lado e seu rosto perdeu a mobilidade. John estava congelado, em pé, recordando a companheira. Poderia ficar assim durante horas seguidas, perdido em pensamentos.

- John?

- Oh, sim, desculpem – ele se endireitou e retomou o depoimento: - De qualquer forma, eu sempre fui um grande apreciador do sangue humano... também gosto, quero dizer, gostava muito de matar por divertimento. Vocês devem entender o que quero dizer. Nós não morremos com muita frequência... quero dizer, nós não morremos com tanta facilidade quanto a gente humana... somos mais... resistentes... ou, devíamos ser...

Outra vez, John parou. Walter sabia no que ele estava pensando. Todos ali sabiam. Marianne queimara durante um dia inteiro no meio do deserto do Saara até que John soubesse das intenções dela de cometer suicídio. No final, John tivera que abraçar apenas cinzas.

- Tudo bem, John – disse Walter, suavemente -, você não tem que ir tão fundo.

- Eu gostaria de continuar, no entanto. É muito importante o que estou dizendo.

- Eu entendo. Todos nós entendemos.

- Obrigado, Walter.

Todos prestavam atenção. Na verdade, John era uma figura muito simpática. Algo perturbadora, cheirando a terra e decomposição. Mas ninguém é realmente perfeito. Tampouco um vampiro.

- Eu era tão violento com essas pessoas lá fora. Elas não tinham o menor valor para mim. Matá-las era como esmagar um inseto entre os meus dedos. Sugar seu sangue era bom, mas era apenas um lenitivo para as minhas dores. E o efeito nunca foi eterno, não é mesmo? – uma concordância muda veio dos vampiros – O que me atraía era a morte. Eu era um agente dela. Eu encurtava a vida dessas pessoas mesquinhas, egoístas, sujas, corruptas, desonestas. Cada morte provocada pelas minhas mãos trazia um pouco de redenção para a minha alma.

John mostrou as palmas das mãos, livres de quaisquer linhas.

- Até conhecer Walter, matar e beber sangue parecia ser o meu destino. O meu único objetivo na vida. Nesta vida. Não posso dizer que tenho feito coisas incríveis, vocês sabem que não, mas quando me deparo com alguém num beco escuro e deixo de abatê-lo para me esgueirar para longe, eu me sinto vivo, outra vez, como não me sentia há mais de mil anos. Vocês entendem? Eu me sinto reintegrado à raça humana.

Silêncio. Silêncio absoluto e reflexivo.

Walter não estava bem certo, mas depois de ouvir o depoimento do amigo, começava a achar que o tratamento acabaria matando John. O vampiro não estava bebendo sangue humano. Não estava bebendo qualquer tipo de sangue.

- Muito obrigado, John – disse Walter, fazendo sinal para que ele se sentasse.

“Comovente”, ele ouviu a mente de Cornelius dizer. Ao olhar para o vampiro mais velho, viu que este sorria.

- Gostaria de compartilhar algo esta noite, meu amigo? – tentou Walter, sem esperar de verdade que ele fosse falar qualquer coisa que fosse – Tem conseguido se manter longe do sangue?

Cornelius lambeu os lábios como se estivesse limpando-os de uma refeição especialmente saborosa que houvesse provado mais cedo.

- Você sabe que eu sou um caso perdido, Walter. Como outros aqui.

Os olhos frios de Cornelius se fixaram em Rockwell, significativamente mais brilhantes.

- O que está insinuando, Cornelius? – Walter estava preocupado, será que suas expectativas se revelavam vãs, a essa altura do campeonato?

- Eu não insinuo nada, Walter. Nada. E nunca.

Agora que Cornelius aventava a suspeita de transgressão sobre Rockwell, Walter se sentia algo desequilibrado. Voltou-se para o vampiro aristocrático, que até o momento não abrira a boca uma só vez.

- Rockwell? Quer ser o próximo?

Para sua surpresa, o vampiro se levantou, ficando tão ereto quanto era possível dada a sua condição física avantajada.

- Olhem para mim.

Ele girou em torno de si mesmo, braços abertos como se passasse por uma revista policial.

- Digam-me o que veem.

Nada além de silêncio.

- Sou um vampiro – disse ele, cheio de orgulho -, tenho tanto direito à vida quanto qualquer humano miserável.

- Rockwell, você não pode continuar com isso – disse John. – Não queira nos iludir. Já estamos mais do que mortos. Devemos ser decentes. E deixar os humanos e o sangue deles em paz.

Rockwell riu.

- Fale isso por si mesmo. Essa filosofia idiota de vocês dois – ele apontou para John e para o próprio Walter – vai acabar extinguindo a nossa raça.

Walter sentiu uma vontade louca de voar na garganta de Rockwell e arrancar-lhe a cabeça redonda e estúpida.

- Se isso acontecer, de fato, será o melhor que já houve.

Todos se surpreenderam com essas palavras. Ainda mais porque quem as dissera fora o próprio provocador da discussão. Cornelius ergueu as palmas das mãos, num gesto apaziguador.

- Senhores, sejamos realistas, somos uma mancha na História da Humanidade. Podemos ser mais inteligentes do que os humanos, mais fortes e tudo mais, mas esse mundo é deles, não nosso. Somos uma anomalia, encarem isso. Até quando tentamos aplacar nossa sede, nossa brutalidade, em nome de bilhões de vidas humanas, estamos nos enganando. O melhor que podemos fazer é nós deixarmos consumir pela luz do sol. Como vários vampiros já fizeram. Seria um favor a nós mesmos.

Rockwell sacudiu a cabeça, numa indignação quase humana.

- Eu estou diante de loucos, é isso. Vou-me embora.

- Pode ir, Rockwell – disse Walter, educadamente, mas no fundo querendo perfurar-lhe os olhos. – Obrigado, Cornelius.

- Não me agradeça, não foi a minha intenção defendê-lo. Você sabe que eu acho tudo isso inútil.

- Entendo.

Walter olhou para cada um de seus “pacientes”. Será que estava ajudando-os de verdade?

Pouco antes do nascer do sol, a hora em que ele geralmente começava a sentir sono, Walter recebeu uma visita.

Lu Ann apareceu em seu jardim. Ficou lá, em silêncio, emanando sua energia sobrenatural até que ele decidisse sair para ver quem era e o que queria.

Ela vestia um vestido branco, sem detalhes, não usava qualquer tipo de adorno e seus cabelos estavam soltos, oscilando sobre os ombros estreitos.

- Eu vou encontrar o sol, Walter – disse Lu Ann, assim que ele saiu para o jardim, piscando os olhos ante a claridade que surgia no horizonte.

Mentalmente, Walter perguntou que loucura ela estava dizendo.

- Cornelius está certo – ela explicou, em voz alta -, nós somos uma maldição.

- Cornelius não sabe o que diz, irmã. O tempo o deixou pessimista. E ele também não precisa mais de sangue, se continua bebendo não é por nada além de hábito.

- Cornelius encontraria o sol se pudesse e você sabe disso, Walter! – a voz dela chegou cortante aos seus ouvidos. Ele andou até Lu Ann, impressionado com a força de vontade que viu, de repente, dentro dela. – Ele está tão velho que não pode mais morrer! Nem o sol é capaz de destruí-lo agora. Você entende o que isso significa?

Walter entendia, sim. Era algo que configurava uma sombra, um temor imenso dentro de si mesmo. Ele poderia um dia querer deixar tudo para trás, como havia deixado o sangue, e partir. Simplesmente desaparecer, deixar de existir, depois de séculos de desolação. E descobrir que até isso se tornava impossível, que o tempo havia feito dele um imortal, no sentido literal da palavra. Eterno. Incapaz de morrer.

Pensar em durar para sempre era horrível. Lu Ann tinha razão a respeito de Cornelius. O velho já tentara uma vez, há mais de mil anos, encontrar o sol, mas tal ação fora um completo fracasso. Se já naquele tempo não dera certo, que esperanças Cornelius tinha hoje em dia?

- Não vou esperar até ficar indestrutível, Walter.

Walter olhou no fundo dos olhos da vampira e encontrou o próprio reflexo. Ali, perdido na escuridão, parecia frágil como a chama de uma vela, que se extingue pouco a pouco. Seu rosto branco começava a formigar com os primeiros e fracos raios solares.

- Adeus, Walter – disse Lu Ann, virando as costas e dissipando aquela imagem que ele vira de si mesmo, isolado nas trevas. – Quem sabe, um dia, ou uma noite, nós nos vejamos novamente. No Inferno, quero dizer.

Ela desapareceu, tão veloz quanto a luz. Fugaz como uma rajada de vento e deixando uma revoada de partículas de matéria, grãos de sujeira, atrás de si.

- Que merda – disse, simplesmente. E voltou para a casa, mergulhando, logo em seguida, num estupor cheio de ecos de gritos lancinantes. Os gritos dos que, naquele dia, saíram ao sol, encontrando definitivamente as sombras.

Não foi sem algum receio que ele se dirigiu à casa onde ocorriam as reuniões. Estava cheio de expectativas negativas a respeito do rumo que sua vida tomaria a partir dessa noite.

Diante do portão enferrujado, uma figura vestida de terno negro, impecável, aguardava sob a luz amarelada do poste de iluminação pública.

Era Cornelius, o velho.

- Você já sabe – disse ele, sem esperar que Walter chegasse perto o bastante da luz para enxergar seu semblante entristecido.

- Sim. Lu Ann foi se despedir de mim ontem de manhã.

Cornelius concordou com a cabeça.

- Então, sabe que ela não foi a única.

Ele não tinha certeza, até encontrar Cornelius e este confirmar que no total foram seis vampiros a cometer suicídio na manhã do dia anterior. O vampiro John estava entre eles.

- Todos jovens, Walter.

- Eu sei.

- Não está infeliz?

- É claro que estou.

- E vai continuar com isso?

Walter não sabia o que dizer. O propósito do tratamento era fazer dos vampiros criaturas mais pacíficas, menos mortais para os humanos, capazes de viver entre eles sem levantar suspeitas a respeito de sua anormalidade. Mas parecia que quando se tirava o principal alento de qualquer um deles, o sangue humano, o vampiro definhava até perder toda a vontade de existir.

- Eu não sei o que fazer, Cornelius – disse Walter, sentindo-se impotente e confuso. – Talvez se eu não tivesse sido tão enfático, tão restritivo na questão de preservar os humanos... agora somos menos do que éramos até ontem e mesmo ontem já éramos tão poucos...

Cornelius se aproximou, pousando uma mão extremamente fria sobre seu ombro, disse:

- Há muitos de nós espalhados pelo mundo, Walter. Tantos que se nos reuníssemos aqui, esta cidade não duraria até a meia-noite.

O “velho” sorriu, parecia sincero no que dizia. Continuou:

- E muitos já tentaram parar de beber sangue humano.

Walter sentiu uma esperança crescer dentro de si.

- E também conseguiram?

Cornelius retirou a mão de seu ombro e encarou-o, sério:

- Claro que não. Não beber sangue humano não é uma opção para a maioria de nós. Vê o que acontece? A mente vampírica se desintegra aos poucos, a personalidade é anulada. E pode ocorrer uma consequência muito pior do que a inclinação ao suicídio.

- Eu sei.

As vezes, um vampiro que estivesse há muito tempo sem se alimentar, poderia ser consumido pela sede ao ponto de se tornar uma criatura irracional, perigosa e imprevisível. Uma ameaça ao segredo da raça, uma vez que atacaria qualquer um que cruzasse seu caminho, em busca do líquido mais valioso na sua percepção puramente predatória.

- Então? – perguntou Cornelius – Vai continuar tentando salvar os homens enquanto nós enlouquecemos e morremos? Você sabe, Walter, que só os mais jovens são destruídos pelo sol. Os que ficam, somos nós, os calejados pelo Tempo. Os mais fortes.

- Há ainda alguém que queira deixar o vício? – Walter queria saber, mas no fundo via seus sonhos de redenção desmoronando como castelos de cartas. Cartas vermelhas.

- Talvez sim, mas eles não estão mais aqui, meu amigo. Eles o deixaram. Só sobramos nós, os sem remédio. E você, claro.

- E as cinzas?

- Recolhidas, é claro. Acha que não somos sensíveis, Walter?

Cornelius riu, alto, na rua deserta.

- Pobre John.

- Agora, você precisa ouvir isso, Walter.

- O quê?

- Ele está vivo.

Walter sentiu o velho chacoalhá-lo pelos ombros, numa demonstração de alegria insana, com uma força capaz de quebrar os ossos de um simples mortal.

- Mas, como é possível? – perguntou – Ele estava tão debilitado!

- Exatamente! E você precisava tê-lo visto como ficou depois de um dia inteiro sob o sol. Um verdadeiro horror!

- Mas, como ele sobreviveu?

Cornelius segurou seu rosto com as duas mãos, olhou no fundo dos seus olhos e pronunciou uma palavra de origem estranha naquela voz mental. Walter arregalou os olhos ante a descoberta. Cornelius concordou com a cabeça.

- Sem dúvida, Walter. Tanto é que os vampiros que permanecem aqui estão com muito medo.

- Com razão! Meu Deus, o que faremos com ele agora?

Olhou ao redor buscando um tipo improvável de ajuda em um mundo que não lhe oferecia nada além de suculentos humanos cheios de sangue.

- Walter, escute – Cornelius lhe explicou: - John não pode ficar como está. Precisamos ajudá-lo. Para o bem de todos!

- A melhor forma de ajudá-lo seria destruindo-o.

- Humpf! Não seja estúpido, homem! Se nem o sol conseguiu destruí-lo!

- O que faremos, então?

Cornelius ergueu um dedo professoral diante do seu rosto.

- Vamos dar-lhe sangue. Muito sangue. E de pessoas, entendeu? Não de animais. Sangue de animais não ajuda nestes casos, muito pelo contrário, apenas piora a situação. Não me olhe assim, seu tolo, se não fizermos isso, provavelmente John jamais tornará a ser o mesmo.

- Estamos ferrados, Cornelius. Vai levar tempo demais para recuperá-lo, e até lá, as autoridades mortais vão desconfiar...

- Desconfiar de quê? De quem? Para todos os efeitos, Walter, nós não existimos. Nós não existimos!

- Entendo.

- Então, você está de acordo? Vamos precisar da colaboração até mesmo de um maldito regenerado como você.

- Talvez, eu não queira mais ser um maldito regenerado, Cornelius.

Walter respirou fundo. Força do hábito. Havia um cheiro no ar ao qual ele se habituara há muito tempo e nessa noite, pela primeira vez em séculos, era um cheiro doce, atraente. O cheiro de sangue.

- Talvez, eu, como John, precise de muito sangue para me recuperar.

Ao seu lado, parecendo um advogado do Diabo, Cornelius disse, rindo:

- Então, vamos beber! À nossa saúde! SEMPRE!

Andhromeda
Enviado por Andhromeda em 22/04/2011
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