AGORA É A SUA VEZ...

AGORA É A SUA VEZ...

Todas as vezes que eu subia ou descia as escadas do edifício onde eu morava, ouvia um barulho estranho, que parecia vir de debaixo dos degraus. Bom, TODAS as vezes é exagero, mas a maioria das vezes que minha mãe me deixava sair de casa, eu o ouvia e ficava bastante impressionada com aquele barulhinho.

O que seria aquilo? Eu sempre me perguntava, mas como eu disse antes, minha mãe raramente me deixava sair e quando eu ia até a esquina comprar alguma coisa ou levava meu cãozinho para passear, ela ficava de olho, para que eu não demorasse e voltasse logo.

Que droga! Será que a minha mãe não percebia que eu já estava bem grandinha? Tudo bem que fiz nove anos anteontem, mas não sou nenhum bebê! O pior foi que um dia resolvi comentar com ela sobre o tal barulhinho e ela quase não me deixa colocar os pés fora de casa por uma semana! Precisei dizer a ela que tinha sido impressão minha, que deveria ter sido algumas baratas, etc, para ela se convencer a, pelo menos, me deixar levar o Dark para fazer xixi.

O que interessa nessa história é que eu me via sozinha com o tal barulhinho e não tinha ninguém que me dissesse o que era. Fiquei um dia inteirinho pensando com o que ele parecia, até que estava assistindo um desenho na TV e ouvi um barulhinho que parecia com o mesmo que eu ouvia quando descia as escadas: Era muito parecido com o coaxar de um sapo, porém o “meu barulho”, era um pouco diferente do barulho do desenho. No desenho, o sapinho fazia “coach”, “coach” e o barulho que eu ouvia, parecia mais um chiado, às vezes, um miado e em outras vezes um “blum”, “blum”.

Mas, aquele do desenho foi o único barulho que ouvi, que se parecia com “o meu barulho”. E decidi que havia sapo ou sapos debaixo das escadas do Edifício Sol Poente.

Fiquei pensando em contar para o meu pai, quando a gente fosse ao parque neste final de semana. Eu sempre ficava sonhando, aguardando o final de semana que meu pai viria me buscar já que o tal juiz decidiu que ele teria direito a ficar comigo somente nos finais de semana. Nunca consegui entender porque ele e a minha mãe tiveram que morar em casas separadas e muito menos porque precisaram que um juiz decidisse quem ficaria comigo. Minha mãe fica nervosa toda vez que eu pergunto sobre isso e o meu pai sempre coloca uma conversa por cima das minhas perguntas e lá se vai minha esperança de entender o que aconteceu. Será que eles não percebem que se eu não entender o houve, nunca poderei ajudá-los a ficarem juntos novamente?

Enfim, resolvi que contaria ao meu pai sobre o barulhinho e foi isso que fiz. Já no finalzinho do passeio, sentei num banquinho do parque e contei-lhe tudo.

O resultado foi um desastre!

A princípio ele me escutou e ficou bastante interessado. Perguntou-me como era o tal barulho e eu, um pouco tímida, imitei o coaxar do desenho, em seguida fui transformando-o no barulho que eu ouvia. Ele franziu a testa e perguntou se eram vários barulhos ao mesmo tempo. Como eu já havia me feito esta mesma pergunta, respondi a ele que não tinha certeza. Às vezes parecia ser somente um. Em outras vezes, eu ouvia ecos e permanecia a dúvida, pois os outros poderiam ser apenas repetições de um só barulho ecoando debaixo das escadas.

Ele, sempre de testa franzida, me perguntou ainda se era sempre no mesmo lugar. Parei para pensar um pouco e respondi que não. Ouvia o som em várias partes do prédio. Daí ele não perguntou mais nada e ficou o resto do dia calado,com uma cara de poucos amigos e eu me encolhi, imaginando o que estaria por vir.

Mal ele me beijou em meu quarto e eu o ouvi discutindo com a minha mãe. Começaram falando baixinho e eu nem sabia sobre o que falavam, mas como achei que a cara dele não estava muito boa, sai do quarto na ponta dos pés e me escondi atrás da cômoda do corredor. De lá pude escutar melhor, mas acho que eu nem precisava ter saído da cama, porque eles começaram a falar tão alto, que eu fiquei esperando algum vizinho bater à porta para ver o que estava acontecendo.

Pelo que entendi, meu pai acusava a minha mãe de me deixar sair sozinha, de não me deixar ter amigos e por isso eu ficava “colocando minhocas em minha cabeça”. De ter vindo morar num edifício “caindo aos pedaços” ao passo que a minha mãe, com voz chorosa e irada, respondia-lhe aos gritos, que não poderia me manter cativa em casa, pois não era nenhuma prisioneira (concordei com ela!!!), que se eu não tinha amigos era exatamente porque ele fazia questão que eu não saísse de casa e por não estar freqüentando uma escola, já que a separação também teve essa conseqüência. E, se ela morava num “edifício caindo aos pedaços”, a culpa era dele, por ter “arranjado aquela vagabunda” e tê-la colocado entre eles, obrigando-a a ir morar onde o seu salário de professora dava para pagar.

Quando a discussão chegou nesse ponto, ouvi a voz do meu pai ficando mais suave e a minha mãe caindo em prantos.

Meu pai conduziu a conversa, focando no barulho e conseguiu com que a minha mãe se acalmasse. Ouvi-o dizer que o melhor seria procurar o síndico e ver o que era e a minha mãe discordar da idéia, dizendo que ela iria fazer papel de boba, já que comentou com algumas vizinhas sobre o assunto e ninguém tinha ouvido nada semelhante. Por fim, meu pai saiu dizendo que ele procuraria o síndico sozinho e depois telefonaria para dizer o resultado da conversa.

Voltei para minha cama correndo na ponta dos pés e me enfiei por baixo das cobertas. Esperei meu coração se acalmar, para tentar digerir aquela conversa toda: Então meu pai pensava que eu, Maria Paula Braga Amaral, não tinha nenhum amigo? Como assim? É fato que todas as minhas amigas tinham ficado lá no condomínio que eu morava antes da separação, mas e a Veruska, a Flavinha e a Bia? Será que ele e a mamãe esqueceram-se das minhas primas que moravam ali pertinho? O problema é que eu só as via quando levava meu dachshund negro para passear e nunca dava tempo de conversarmos mais.

E o que a mamãe quis dizer com “aquela vagabunda”? Do que ela estava falando? Pelo que me consta, o papai mora sozinho e nunca vi nenhuma mulher com ele, quando vou passar os fins de semana. Então eles se separaram por causa de alguma mulher? Mas, quem?

Não me lembro o momento que adormeci, mas meu último pensamento foi tirar essa história a limpo na primeira oportunidade que eu tivesse.

Na manhã seguinte o dia não poderia ter começado pior: Minha mãe estava uma fera comigo e bastava eu fazer qualquer coisinha, que ela já despejava todo o mau humor em cima de mim, fazendo-me sentir culpada por ter desencadeado sua discussão com o papai.

Foi logo me dizendo, num tom ácido e cortante:

- Pode deixar que eu levo o Dark e passo no mercadinho. Melhor você ficar aí, para não escutar “barulhinhos” à toa!

Saiu batendo a porta e, em meus ouvidos, ainda ecoava o seu tom sarcástico, dando ênfase à palavra barulhinho.

Fiquei sozinha ouvindo músicas em meu celular novo, meu presente de aniversário, que o papai me trouxe. Em dois dias eu já sabia usar quase todas as suas funções, mas tinha que me contentar com as músicas que meu pai baixara da internet para mim, já que não tenho computador aqui em casa.

Algumas músicas eram ótimas, pois eu já havia passado uma lista para ele, quando pedi o celular de presente, mas ele fez o favor de baixar também umas músicas nada-a-ver, lá do gosto dele. Ainda bem que eu aprendi a deletá-las.

Não demorou muito e eu ouvi os latidos do Dark. Pensei logo: O Dark já está latindo algum vizinho. Daqui a pouco minha mãe volta mais zangada ainda, por causa disso.

Porém ela entrou e, na cara dela, pude notar uma mistura de aborrecimento, surpresa e uma interrogação enorme. Resolvi engolir o medo e perguntar o que houve.

-Nada! – respondeu rispidamente entrando na cozinha. Colocou os pães sobre a mesa e disse, sem olhar para mim:

– Tire a coleira do Dark e depois venha cá.

Dark pulou em cima de mim, lambendo a minha cara, dificultando a retirada da coleira. Eu tinha pressa em atender o chamado da minha mãe para não aborrecê-la ainda mais. Assim que consegui, corri para ela.

-Sim, mãe. O que é? –perguntei-lhe.

Ela respirou fundo e percebi que estava mais calma. Perguntou-me:

- O que exatamente você ouve, quando desce ou sobe as escadas?

Animada, fiz a melhor apresentação possível tentando imitar o que ouvia e ela, franzindo a testa disse, mais falando para ela própria do que para mim:

- Parece som de sapos... Mas como? Aqui não tem sapos!! Com certeza aquela vizinha chata do andar térreo já teria esbravejado se ouvisse ou visse alguma coisa assim. E também o rapaz faz a limpeza dia sim dia não e nunca falou nada sobre isso... – E virando-se para mim, perguntou novamente:

- Tem certeza, Paulinha? Tem certeza de que você não está inventando essa história?

- Tenho mãe! – respondi quase implorando que ela acreditasse em mim. – Tenho certeza sim! Já ouvi várias vezes! Pode ser pela manhã, à tarde ou à noite, sempre ouço alguma coisa quando vou à rua!

Como ela ficou calada, continuei:

- E a senhora acha que eu iria inventar uma coisa que fizesse com que a senhora me proibisse de ir à rua? Claro que não! Eu já vou tão pouco lá fora, iria inventar alguma coisa que fizesse a senhora me prender ainda mais! – Falei-lhe expondo toda minha frustração.

Ela continuava me olhando sem nada dizer, com uma expressão pensativa. De repente, desviou a atenção para as compras que trouxera e começou a arrumá-las no armário, de uma forma mecânica e distante.

Aproveitei e perguntei-lhe:

- Mãe, porque a senhora está querendo saber sobre isso agora?

Ela guardou um pacote de açúcar e outro de café, antes de responder.

Esperei pacientemente, apesar daqueles segundos parecerem uma eternidade.

- Quando eu voltava do mercadinho, o Dark esticou a coleira me levando para debaixo das escadas, como se tivesse ouvido alguma coisa...

Meu coração deu um salto esperançoso e perguntei:

- E o que a senhora viu?

- Nada. Não vi e nem ouvi nada, mas o Dark continuava me puxando e latindo como se estivesse vendo ou ouvindo alguma coisa.

Não falamos mais sobre o assunto durante todo o dia. Minha mãe saiu logo depois do almoço para dar aulas e eu fiquei trancada em casa como sempre. Ainda bem que ela sempre retornava antes das cinco e que não trabalhava todos os dias. Foi o que ela conseguiu arranjar, para que eu não ficasse sozinha por muito tempo, mas isso fazia com que ela recebesse muito pouco, a título de salário.

Um dia a ouvi dizer a uma vizinha que gostaria de ter um trabalho de tempo integral, onde ganhasse mais, mas não podia me deixar sozinha em casa o dia inteiro. A vizinha falou que era bobagem que os filhos dela ficavam sozinhos o dia todo e não tinha nenhum problema, mas a mamãe sabia que não era bem assim: Os filhos dela saiam de casa, perambulavam pelas ruas, faziam traquinagens e depois voltavam correndo para casa, quando se aproximava o horário dela chegar. Acho que minha mãe resolveu não contar nada, para não deixar a D. Marcela preocupada. A vida dela já era muito difícil tendo que criar três filhos, praticamente sozinha, já que o seu marido beberrão mal aparecia em casa.

Quando minha mãe chegou resolvi pedir à ela, com jeitinho, que me deixasse levar Dark para o xixi da tarde e ela, vencida pelo cansaço do trabalho, consentiu.

- Vá logo e não demore! – falou ela enquanto se dirigia para a janela, a fim de me olhar na rua.

- Não demoro, mãe. Vou ficar aqui em frente. Pode ir tomar seu banho que volto logo. - Falei saindo, sem esperar resposta.

Desci os degraus cautelosamente. Agora o “meu barulhinho”, já não me trazia curiosidade e sim medo. Se eram sapos, poderiam pular em cima de mim, não? Desci as escadas olhando por entre as frestas dos degraus sem acabamento e aguçando os ouvidos ao máximo. Dark desceu puxando-me rapidamente, ansioso para ganhar a rua e aliviar a bexiga e os intestinos.

Ganhei a rua e olhei para a janela do meu apartamento. Minha mãe não estava lá. Deveria ter resolvido seguir meu conselho e ido tomar banho.

Dark percorreu alguns postes e rodas de carro, cheirando aqui e ali até que seus intestinos reclamaram. Quando ele concluiu o “serviço”, preparei-me para ensacar seus dejetos. Sentia-me estranha fazendo aquilo, porque parecia que eu era a única pessoa na vizinhança que se preocupava em recolher as fezes do seu cachorro, mas minha mãe fazia questão e me dizia que se eu quisesse mantê-lo conosco, teria que fazer aquilo sempre. Apesar de me sentir, no fundo eu concordava com ela. Era horrível quando a gente pisava em cocô de cachorro pela rua!

Voltei logo para casa. Quando já estava girando a chave para abrir o portão, lembrei-me que teria que comprar o pão da tarde, já que a minha mãe fazia questão do pão fresquinho, mas logo me lembrei também, que não havia trazido dinheiro e que, sem querer, arranjara uma boa desculpa para sair novamente.

Subi as escadas feliz com a perspectiva de ir à rua novamente, sem precisar levar o Dark comigo, quando ouvi: “Nhinnn... Nhinnn... Blum, blum!”

Senti os pelinhos da nuca se arrepiaram e, apesar do Dark me puxar em direção ao barulho, dei-lhe um puxão violento e subi os degraus de dois em dois. Quando entrei em casa, Dark estava com um palmo de língua de fora e me olhava com uma expressão de raiva e frustração.

Dei graças a Deus que a minha mãe estava no quarto, trocando de roupa, dando-me tempo para a cor retornar ao meu rosto e os meus olhos voltarem ao tamanho normal.

Coloquei a mão no peito e rezei para que minha mãe não escutasse as batidas violentas do meu coração. Ouvi-a perguntar lá do quarto:

- Paulinha? É você?

- Sim mãe! – respondi controlando minha voz para que não tremesse, mas parece que ela percebeu alguma coisa, porque perguntou de lá:

- Algum problema?

- Não mãe! Tudo beleza! – sorri para dar mais ênfase à minha mentira. E resolvi que precisava acrescentar uma desculpa: - É que subi correndo as escadas, apostando corrida com o Dark!

- Hum, hum – respondeu ela, parecendo convencida. – Ouviu alguma coisa?

- Não, mãe. – menti – Dessa vez não ouvi nada. – E para por um final na conversa, falei mudando de assunto:

- Esqueci de levar o dinheiro para comprar o pão. Vou precisar voltar.

Ela saiu do quarto, vestida em sua velha camisola. Sentou-se no sofá e me disse com uma voz triste, que não tinha dinheiro para comprar os pães.

Senti-me frustrada, mas logo me veio a idéia de sugerir a ela para comprar na conta que meu pai tinha aberto no mercadinho, para as nossas emergências.

- Paulinha, você sabe que eu não gosto de comprar nesta conta. Depois seu pai fica reclamando que estamos gastando muito...

- Mas são só alguns pães, mamãe! – insisti e vi que ela titubeava entre a vontade de comer pães fresquinhos e o receio de enfrentar o meu pai.

- Tá bom, Paulinha, mas...

- Já sei mãe! Não demoro! – falei cortando sua frase que eu já conhecia de cor e salteado.

- Aonde vai, Paulinha? – perguntou ela, quando me viu entrar no meu quarto, ao invés de sair.

- Estou trocando a blusa, que Dark sujou de lama!

Troquei a blusa, mas aproveitei para realizar o meu verdadeiro intento: Iria pegar meu celular, pois se existia alguma coisa embaixo daquelas escadas, eu iria gravar!

Infelizmente não foi daquela vez. Desci e subi as escadarias do prédio e até fiquei enrolando um tempinho nas escadas, substituindo o meu medo pela determinação, mas não ouvi nadica de nada. Nem um barulhinho sequer. Seja lá que tipo de sapos tinha embaixo daquelas escadas, eram bastante espertos! Pareciam saber o que eu queria fazer!

A semana passou na mesma rotina de sempre e, as raras vezes que a minha mãe me deixou descer, não ouvi nada. Nem o Dark farejou algo suspeito.

Meu pai telefonou no meio da semana para dizer que havia falado com o síndico e o mesmo havia informado que desconhecia qualquer barulho estranho no prédio, mas diante da insistência do meu pai, ele desligou garantindo que apuraria melhor essa história.

Ouvi minha mãe dizendo a ele que parecia que nosso cão havia ouvido ou visto alguma coisa, mas que ela não havia visto coisa alguma.

Como era de se esperar, meu pai reforçou o aviso de não me deixar sair sozinha.

Encontrei-o para nosso passeio semanal e fomos ao cinema assistir a um filme animado que estreou naquela semana. Às vezes eu me considerava com sorte por ter pais separados já que as minhas primas se queixavam que os pais delas sempre estavam muito cansados para passearem nos finais de semana.

Depois do cinema, fomos fazer um lanche e daí aconteceu uma coisa inesperada: Uma mulher se aproximou da mesa e se sentou conosco. Fiquei toda desconfiada e lembrei-me daquela discussão dele com a mamãe. Amarrei o maior bico! A moça ficou puxando conversa, brincando comigo, fazendo perguntas sobre o filme, mas quando viu que eu só respondia “hum-hum”, “sim”, “não”, ou dava de ombros, ela desistiu e passou a conversar com o meu pai.

Fiquei olhando a movimentação no shopping, para disfarçar, mas não perdi uma só palavra da conversa dela com ele. Sinceramente, não pareciam namorados ou coisa desse tipo. A conversa girava em torno do trabalho do meu pai e, de repente, lembrei-me de onde a conhecia. Uma vez fui até o escritório dele.

Era ainda bem pequenininha, mas o rosto dela não era assim tão difícil de esquecer. As maças do rosto eram bem salientes e os olhos dela, de um azul muito intenso, metia medo na gente. Pelo menos quando eu era menor, metia medo. Agora não. Letícia continuava com seus olhos esbugalhados e maçãs ossudas no rosto, mas encarar a chefe do meu pai, não me causava mais medo.

O que ela estava fazendo ali? Teriam marcado encontro? Seria ela a mulher que causara a separação dos meus pais?

Quando eu estava envolvida nesses pensamentos, Letícia se despediu do meu pai e beijou-me o rosto, indo embora.

Meu pai ficou em silêncio por alguns instantes depois me disse:

- Paulinha, deveria ter vergonha do que fez. – Falou-me com cara de poucos amigos.

- O que eu fiz pai? –Perguntei-lhe com a cara mais inocente que encontrei em meu repertório.

- O que você fez? – Indagou, entre dentes, tentando controlar a voz. – Você foi mal-educada com a minha chefe! Por que isso, filha? Onde estão os seus modos?

Baixei os olhos e resolvi abrir o jogo.

- Pensei que ela fosse sua namorada...

- Paulinha, preste atenção – falou ele, puxando suavemente meu queixo e olhando-me diretamente nos olhos. – A Letícia não é minha namorada e eu não tenho nenhuma namorada, ok?

- E aquela história de “vagabunda” que eu ouvi a mamãe falar no outro dia?

Aí, o rosto dele virou um pimentão.

- Que história é essa, Paulinha? Luiza anda agora enchendo sua cabeça com mentiras? Será por isso que você anda inventando histórias de barulhos nas escadas do prédio? – Falou ele com a voz alterada, atraindo a atenção de algumas pessoas para a nossa mesa.

- Não, pai! A mamãe não anda inventando nada e nem eu inventei história de barulho nenhum. Existe um barulho nas escadas, sim! Até o Dark farejou alguma coisa! – falei um pouco mais alto, desesperada por ver nosso passeio se transformando em mais problemas.

Continuei falando:

- Eu ouvi isso outro dia quando vocês discutiram alto, lá em casa! – Não dava mais para me conter e as lágrimas rolavam livremente pelo meu rosto.

Meu pai se controlou, respirando fundo e tentando também me controlar. As pessoas já faziam comentários olhando para nós e eu já estava morrendo de vergonha. Terminamos de comer os sanduiches sem falar mais nada e saímos da área de alimentação.

Mais à frente, sentamos em um dos bancos do shopping e meu pai falou bem calminho:

- Paulinha, me desculpe. Fui grosso com você e esqueci que você só tem nove anos.

- Já entendo algumas coisas, papai – Falei tentando encorajá-lo a continuar falando e deu resultado. Ele continuou:

- Olha, Paulinha, sua mãe e eu tivemos alguns problemas e... – passou a mão pelos cabelos, procurando as palavras.

Encorajei-o a continuar.

- E o que, pai?

- E, realmente houve uma mulher que nos separou. Deixei-me levar por alguns amigos, não sei por onde andava com a cabeça e cai na besteira de me envolver com outra mulher. Foi uma coisa rápida e passageira, mas infelizmente, sua mãe ficou sabendo e nunca me perdoou. Não estou dizendo que o que fiz foi uma coisa legal, mas também me sinto magoado por todos esses três anos de separação, sua mãe nunca ter me perdoado, mesmo vendo que eu não tive mais ninguém em minha vida, além dela.

Fiquei um tempo olhando para ele. Não esperava aquela confissão e morri de pena dele.

A princípio fiquei logo com raiva da mamãe, mas precocemente, tentei pensar na dor dela. Deve ter sido horrível ver meu pai com outra mulher. Eu sabia como deveria ter sido, só de ver a chefe dele se aproximando da nossa mesa. Imagina como deve ter doído na mamãe, saber que ele... ah, deixa pra lá! Não quero pensar nessas coisas dos adultos. Pelo menos agora, sabia o que havia acontecido e poderia tentar ver se conseguia fazer a mamãe perdoar o papai. Daí poderia voltar a conviver com as minhas amiguinhas do Condomínio Estrela e voltar a freqüentar o colégio que tive que deixar de ir desde o ano passado, quando nos mudamos para a minha nova casa. Por sorte minha, eles me mantiveram na mesma escola, mesmo após a separação, mas, no ano passado, minha mãe informou-me que teria que me tirar da escola pois nós iríamos nos mudar daquele bairro.

Mas agora aquilo iria mudar: Eu teria uma conversinha com a minha mãe, assim que tivesse oportunidade!

Quando voltei para casa, a mamãe estava envolvida com uma papelada enorme que eu sabia que se tratava de provas escolares que ela trouxe para casa, para corrigir. Minha mãe ainda preferia corrigir pessoalmente as provas dos seus alunos. Ela sempre dizia não abria mão disso. Mesmo nos finais de semana!

Bom, deixa eu encurtar essa história, porque o que interessa mesmo aqui são os barulhos que eu ouvia debaixo das escadas.

Então, numa dessas minhas idas e vindas costumeiras, voltei a ouvir o tal barulho, mas nem ligava mais para ele. Tinha ficado com raiva por não conseguir descobrir do que se tratava e fazia de conta que não estava ouvindo nada, principalmente porque meu pai tinha baixado novas músicas para meu celular e eu vivia com os fones nos ouvidos.

E foi num dia desses que eu curtia um som, que eu ouvi gritos no prédio. Tirei rapidamente os fones dos ouvidos e entrei cautelosamente. A D. Marta, a vizinha chata do térreo, gritava descendo as escadas, pulando os degraus de dois em dois. Vários vizinhos abriram suas portas para ver do que se tratava. Eu permaneci no andar térreo com medo de subir e D. Marta chegou ao seu apartamento suada, vermelha e com as mãos segurando o peito.Parecia que tinha medo de que seu coração saltasse pela boca.

- O que foi, D. Marta? – perguntei-lhe, antes que ela entrasse em seu apartamento.

- Lagartos, calangos, sei lá! Te... tem uns bichos nas escadas! – Gaguejou ela. – Fu...Fui visitar D. Ana no terceiro andar e quando desci, tinha dois bichos hor-ro-ro-sos, na escada! Ai que nojo! Seu Silvério vai ter que me explicar isso! Ah, vai ter sim!

Coitado do síndico, pensei. E o que foi que ela disse? Calangos? Lagartos? Não eram sapos? E de onde eles vieram? E como ninguém nunca os tinham visto até hoje?

Os outros vizinhos chegaram no saguão, juntamente com o Seu Silvério. Todos falavam ao mesmo tempo e Seu Silvério pediu calma que ele iria verificar junto com Seu Marcelo, o sub-síndico.

Fiquei olhando eles subirem e escutei a voz da minha mãe, me chamando:

- Paulinha? Você está aí em baixo?

- Estou, mãe- respondi. – E estou bem. Cadê a senhora?

- Estou aqui, filha! Aqui nas escadas do quarto andar.

Olhei e a vi lá em cima, no redemoinho de escadas. Ela gritou:

- Fique aí que Seu Silvério e Seu Marcelo estão vendo o que foi. Fique aí pra esses bichos não morderem você!

- Tá bom,mãe! Eu espero! – Gritei de volta.

Alguns minutos depois, eles voltaram. Abanaram as cabeças em negativa e informaram que não havia nada nas escadas, nem debaixo delas.

Os vizinhos protestaram. Seu Tadeu e D. Mariana, cheios de coragem, subiram até lá, pois não se conformaram. Voltaram depois, com a mesma afirmação: Não havia nada lá.

Foram cada um entrando em suas casas. Uns resmungando que D. Marta estava lélé da cuca. Outros afirmando que D. Marta queria chamar a atenção, por ser uma velha solteirona e outros diziam que ela só se enganou, afinal não enxergava muito bem.

Subi os degraus acompanhada de Seu Tadeu e D. Mariana. Pelo sim, pelo não melhor subir acompanhada. Olhando degrau por degrau e constatei que não tinha nada mesmo. Minha mãe veio ao nosso encontro me buscar e subimos comentando o ocorrido.

- Viu, mãe, que não era invencionice minha?

-É, filha- falou balançando a cabeça, em dúvida. – Não sei o que pensar. Amanhã falarei com Seu Silvério para mandar um dedetizador, exterminador, ou algo parecido, para dar uma geral no prédio. Com certeza tem alguma coisa lá em baixo!

Finalmente! Até que enfim eu podia provar que não era mentirosa!

Mas os dias se passaram, Seu Silvério chamou um rapaz que vasculhou o prédio de cabo a rabo, como dizia a minha avó e o resultado foi o de sempre: Nada!

Os vizinhos até fizeram um mutirão num final de semana e finalmente convenceram-se de que, seja lá o que D. Marta insistia em dizer que havia visto, já tinha ido embora.

Como não ouvia mais nada, me convenci disso também e voltei a andar tranqüila nas semanas que se seguiram. Com meus fones no ouvido, continuei subindo e descendo quando podia.

Era uma quarta-feira. Me lembro bem porque estava aguardando a ligação do meu pai, que aliás, estava bem mais achegadinho à minha mãe, depois de umas conversinhas que tive com ela. Depois que garanti a ela que meu pai estava triste e sem ninguém ela passou a deixá-lo nos visitar mais vezes. Aliás, visitar a ela, pois quando ele chegava para essas “visitas” eles sempre arranjavam um lugar para me enviar. Era mercadinho, casa de alguma vizinha para devolver uma vasilha emprestada e até me deixaram ir baixar músicas novas numa lan house.

Por isso, me lembro bem que foi na quarta-feira. Estava pensando se meu pai iria demorar para ligar, quando olhei para o chão. O que vi me deixou tão apavorada, que não consegui gritar. Ao mesmo tempo que tentava desviar os pés para não pisar neles, tirei os fones do ouvido e ouvi o tão conhecido som: Nhinnnnn...Nhinnnn. Blum, blum.

Primeiro achei que vi dois lagartos: Um maior, verde e escamoso e outro menor, cor de barro. Eles não me atacaram e nem correram. Ficaram parados nos degraus e a minha curiosidade conseguiu superar o medo. Era a minha oportunidade para filmá-los! Tirei o celular devagarzinho de dentro do bolso do short. Eles não se mexeram e eu me aproximei bem devagar. Quando cheguei mais perto tive uma surpresa: Estava ficando louca? Ainda bem que estava filmando porque vi nitidamente os “lagartos” se transformando em dois sapos! Dois sapos grandes, de olhos grandes e... vermelhos!

Aí a coragem me abandonou. Corri para o andar térreo e nem olhei para trás. Também não gritei para não provocar o pânico que D. Marta causou noutro dia.

Com o coração batendo forte, as mãos tremendo ainda do susto de ver aqueles olhos vermelhos fixos em mim, parei do lado de fora e fui ver as imagens gravadas. Elas estavam lá. Tudinho! Os lagartos, um verde e outro daquela cor barrenta. E o vídeo mostrava que eu não havia me enganado. Os lagartos viravam sapos enormes, bem diante dos meus olhos. Voltei o vídeo várias vezes e cada vez que o via, com mais calma, achava que estava mesmo, ficando louca. Quando eles passaram a ser sapos e vi os olhos vermelhos e enormes de um deles, continuei filmando alguns segundos de olhos fechados, então o que via naquele vídeo beirava a loucura. Parecia que o sapo menor fazia poses para câmera! Por alguns segundos pude vê-lo por detrás do sapo de olhos vermelhos, suspendendo a cabeça, girando o pescoço de um lado para o outro devagar, como uma modelo fotográfico! Era mesmo loucura! Precisava correr e mostrar à minha mãe e depois ao meu pai para que eles pudessem me convencer de que aquilo era verdade!

Estava com medo de subir e lembrei-me do celular. Telefonei para o fixo da minha casa e minha mãe atendeu. Contei a ela o que tinha visto, sem entrar em detalhes e pedi para ela que descesse com calma e sem escândalos, para vir me buscar. Eu estava com muito medo! Aqueles olhos vermelhos e aquele sapo fazendo pose, não me saiam da cabeça.

Subimos os degraus cautelosamente e minha mãe a todo instante procurando saber o que havia acontecido. Expliquei-lhe aos sussurros que tinha visto um sapo de olhos vermelhos e que eram lagartos que viraram sapos e que tinha um sapo fazendo poses para a câmera e ela todo instante repetia “O que?” “Sapo?” “Olho o quê?” “Espere, você não disse lagartos?”

E eu dizendo - “Shiii”. “Fala baixo!” “Em casa te mostro”. “Filmei tudo”.

Entramos em nosso apartamento e expliquei a ela tim-tim por tim-tim tudo o que eu havia visto. Ela me olhava como se eu estivesse louca e dizia. “Tá bom, tá bom, deixe-me ver o vídeo”

Acessei o vídeo no celular, buscando as imagens que havia visto inúmeras vezes lá em baixo. Achei o início do vídeo, onde se viam as escadas e logo passei para que ela visse. Ela olhava o vídeo, com uma expressão incrédula, passando os segundos de olhos arregalados e testa franzida, ora olhando para a telinha do celular, ora olhando boquiaberta para mim.

- Que brincadeira é essa, Paulinha? – ralhou. – Está querendo me matar do coração, é?

- O que houve, mamãe – falei puxando o celular das suas mãos.

Olhei a tela e não acreditei. O vídeo estava lá, inteirinho. As escadas do prédio apareciam no vídeo, perfeitinhas, mas nem sinal de lagartos ou sapos !

- Não! Não! – gritei apavorada. – Mãe estava aqui! Eu juro! Vi o vídeo diversas vezes; até perdi as contas de quantas vezes vi aqueles olhos vermelhos e a transformação de lagartos em sapos! Eu juro, mãe! Eu juro! Eu juro! – falei aos prantos, gritando desesperada.

Minha mãe me abraçou, tentando me consolar, fingindo que acreditava em mim, mas eu sabia que ela também estava com medo, mas não com medo das coisas fantásticas que vi lá em baixo e sim com medo de eu ter enlouquecido e estar vendo coisas só para confirmar a história que eu inventei.

Fui dormir cedo emburrada, sem querer mais tocar naquele assunto. Revi o vídeo só mais uma vez antes de deitar e só tinha vontade de jogar o celular contra a parede.

- O que foi que houve? Será que estou mesmo, tenho alucinações? Não, não! Eu vi! Eu gravei! Eu revi o vídeo, várias vezes! – questionei-me, sem conseguir pegar no sono, enquanto outros pensamentos assolavam a minha cabeça:

- Então, onde foram parar as imagens que eu vi? Que magia insana era aquela? Sim, magia! Só podia ser algo assim! O prédio deve estar assombrado e essas coisas não podem ser filmadas e vistas por todos...

Ouvi a minha mãe falando com o meu pai, ao telefone. Pedia que ele viesse me ver, pois achava que eu estava doente. Parece que o meu pai a tranqüilizou, pois ouvi quando ela disse:

- É Ricardo, pode ser mesmo. Talvez a falta do colégio, do convívio com outras meninas, esteja deixando a Paulinha estressada... Está bem... Está certo... Amanhã espero você chegar...Um beijo. Tchau!

Hum... “um beijo”... –pensei sorrindo. - As coisas estavam ficando melhores entre eles... Que bom! Pelo menos, uma boa notícia.

Adormeci e lá pela madrugada, acordei com a respiração ofegante e o coração aos pulos: Tinha tido um pesadelo com “aquelas coisas”!

A vontade que tive foi de correr para o quarto da mamãe, mas me contive. Não queria deixá-la ainda mais apreensiva. Controlei a respiração e busquei na lembrança, como havia sido o sonho.

Sim, eram eles... No sonho, o sapo de olhos vermelhos fixava aqueles olhos enormes em mim, enquanto o outro sapo... falava comigo! Sim, ele falava alguma coisa... O que mesmo? – Tentei lembrar. – Ah! Era mais ou menos assim:

- Agora é a sua vez, Paulinha... Sua vez... sua vez...

Foi isso! Falava como se estivesse cantarolando e parecia muito, muito feliz!

No sonho eu ficava apavorada e gritava: - “Vão embora! Vão embora!” – E, enquanto o sapão continuava com aqueles olhos fixos em mim, eu acordei

Ainda sentada na cama, muitos pensamentos atropelavam minha cabecinha e de repente tive uma revelação:

Não era um sapo: Era uma sapa! Isso! A voz dela, cantarolando, era feminina! Por isso ela parecia fazer poses, quando a filmei! E ela só faltava dançar, pois parecia muito feliz!

Naquela hora da noite, o sonho se misturava com o que eu tinha visto durante o dia e já não sabia de verdade, o que eu tinha sonhado e o que eu tinha visto.

Mais calma voltei a me deitar e pensei:

“O que ela queria dizer com “Agora é a sua vez?”- E aquele sapo enorme, com os olhos enormes fixados em mim? O que era ele? Aliás, o que eram eles? De onde vieram esses sapos? Não os do sonho, mas os que eu havia visto nas escadas...”

“Amanhã, descerei com o Dark, assim que eu acordar e não saio de lá até encontrar esses bichos, bruxos, fantasmas, sei lá o quê. É claro que levarei a mamãe comigo, afinal não quero correr riscos e nem passar por louca, caso os encontre novamente”.

Dormi novamente, mas acordei logo em seguida, com um barulho dentro do meu quarto! Pensei que estava sonhando, mas sentei-me na cama e apurei os ouvidos. Ouvi:

“Nhiiiiiinnn... nhiiiiiinnnnn....

Virei-me na direção do som e um grito escapou da minha garganta: AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!

A sapa estava lá. Dentro do meu quarto! Me olhando com aqueles olhos brilhantes.

Me encolhi na cama e esperei minha mãe aparecer a qualquer momento, abrindo a porta do meu quarto e me salvando daquela sapa horrorosa, mas o tempo foi passando, a sapa continuava lá fazendo “Nhiiiiiinnn... nhiiiiiinnnnn....e a minha mãe não aparecia.

De repente consegui ficar mais apavorada do que antes e gritei novamente, quando ouvi: “blum...bluuummm” e o sapão apareceu também com seus olhos vermelhos enormes.

Tremendo e encolhida nas cobertas, gritei: - Mãe! Mãe!- Como não houve resposta, gritei: “Dark! Aqui, Dark!Venha cá!”

Nenhuma resposta. Eles continuavam lá, olhando calmamente para mim. Pensei: -“Só pode ser outro pesadelo”. Me belisquei e doeu bastante. Estava mesmo acordada.

- Cadê vocês? – gritei pensando em minha mãe e no Dark

E ouvi a sapa dizer:

- Esqueça eles, Paulinha... Não podem mais lhe ouvir...

- Como...como...o que é isso? Por que não me ouvem? O que querem de mim?

A sapinha foi se transformando diante dos meus olhos e vi uma menina, mais ou menos da minha idade. Era bonita, cabelos loiros e, mesmo no escuro conseguia ver seus brilhantes olhos azuis.

- Agora é a sua vez, Paulinha... – falou sorrindo, em direção à porta do quarto.

E saiu, me deixando com aquele sapão horrível, sem entender nada.

- Espere! – gritei – Quem é você?

- Agora ela não te escuta mais, minha querida – falou o sapão pela primeira vez, com um vozeirão estrondoso . – Agora ela está livre e... agora é a sua vez!

Ai olhei para mim, ainda sentada na cama e o que vi quase fez parar meu coração:

Eu era uma sapa! Uma sapa asquerosa e cheia de verrugas!!

Gritei, gritei, chorei, compreendendo tudo. Eu havia trocado de lugar com alguma menina enfeitiçada e agora viveria debaixo das escadas de algum prédio, aguardando a próxima vítima, que tomaria o meu lugar.

- Não! Não! Não! – gritei.

Mas o que saiu da minha garganta foi só um “Nhinnnn...nhiiiiinnn...NHIIIINNNN........”

FIM

LICÍNIA RAMIZETE - 05/02/2012