Sentimento Macabro

Angel vagava pela rua à noite quando percebeu que estava sendo seguida, não obstante continuou o trajeto devagar. Visto que a rua estava deserta seu comportamento poderia ser estranho diante de tal situação, porém, sua vida não tinha mais razão, então... por quê correr? Nada mais tinha sentido, a vida havia perdido a graça diante de seus olhos depois de tantas frustrações. No contínuo percurso, seguiu por uma esquina escura que daria acesso à sua casa e os passos que a seguiam continuavam cada vez mais rápidos... Angel parou. Parecia mesmo querer que tudo terminasse ali. Ficou a espera de um fim para a agonia que pensava ser a sua vida. Os passos pararam também. Ela decepcionada por não ouvir mais, voltou-se para seu caminho e ao virar-se, seu cálido corpo chocou-se com um enorme vulto que contra a luz não permitia ver seu rosto, mas que assustava pelo tamanho. A pequena recuou e no silêncio permaneceu. A respiração daquele indivíduo era ofegante e sua presença transmitia uma quentura indescritível vinda de sua intensa transpiração. Angel, não pôde segurar seu instinto. Enquanto aquele homem a prendia em seus braços, dominando seu corpo, aquele cheiro de macho penetrava suas narinas domando seu indefeso ser, era incontrolável e fascinante ao mesmo tempo! A pobre já não estava mais ali naquele corpo. O mesmo agia por conta própria, sem pensar, sem razão, sem ser o ser, mas sendo conduzido pelo instinto animal. Sua boca não só buscava aquele estranho, mas mordia-o, agarrava-o com as pernas, enroscava-o em seus braços, puxava-o para dentro de si e ao mesmo tempo afastava-o. Sugavam-se um ao outro com fúria sangrenta. Agrediam-se. Violavam-se. No ar esvaia o vapor de todo aquele momento. Ambos eram transportados pela fome de carne, de sangue, de vida, de morte. A vontade de ultrapassar a matéria era tão forte que não se sentiam mais, estavam anestesiados pelos orgasmos que se davam incessantemente. Entretanto, aquela figura máscula ao dar por terminado seu 'trabalho', pegou o corpo nu carmim de Angel em seus braços e lançou-o às águas do rio; a mesma contemplava sua matéria indo pelo leito do rio à baixo com seu rastro de sangue... De certa forma sentia contentamento por ter alcançado o seu desejo mesmo que de um jeito macabro, mas inusitado.

Jaqueline Cristina
Enviado por Jaqueline Cristina em 07/08/2012
Código do texto: T3818355
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