O motoqueiro da Rua Dom Pedro

Andar pelas ruas estreitas de Campo Belo sempre foi uma grande diversão para mim, mas é difícil quando esta diversão repentinamente se transforma em algo muito mais surreal do que parece.

Caminhava pela Rua Dom Pedro. Voltava da faculdade. O relógio já zerava. Nenhuma viva alma lá habitava. Todo cuidado era pouco. Não queria figurar as páginas de um jornal no dia seguinte. Tinha um real temor de assalto. Torcia e rezava aos anjos do céu para que tudo corresse bem.

Apressando o passo, vi, a mais ou menos duzentos metros, um motoqueiro se aproximar em velocidade reduzida. O guia estava todo encapuzado. Eu não o reconhecia. Continuei a andar cada vez mais rápido. Seja lá quem estivesse sobre aquela moto, não queria ver.

A escuridão servia tão somente para aumentar minha angústia. Nem a lua a noite compadecia. O breu era inegável. A única luz que tinha era a da moto, que vinha em minha direção com uma velocidade cada vez menor. Pensei em correr, mas logo conclui que aquela não seria uma boa opção. Definitivamente não iria correr. Preferia manter a calma, tudo estava tranquilo e nenhum mal podia me acontecer. Respirei fundo e fingi que nada estava acontecendo. Continuei andando.

De repente, ouvi um assobio. O barulho vinha do motoqueiro. Meu coração desparou. Pensei em gritar, mas caí na real. Ninguém me ouviria. Pensei em encará-lo, mas quem podia ser? O que queria ele? Andei como quem ignorava o medo.

Quando menos esperava, ouvi o estranho começar a conversar no celular. "É uma moça de bolsa azul, cabelo preto, calça apertadinha?" Ele me descrevia. "Acho que achei", disse o homem. Agora estava angustiada. O medo tomou conta de mim.

De rabo de olho, olhei para o rapaz da moto. Sem acreditar no que via, notei quando ele abriu uma bolsa escura, parecendo pegar algum objeto. Seria uma arma? O que queriam comigo? Nunca fiz nada de errado! Ele acelerou a moto e ficou ainda mais perto de mim. Guardava o tal objeto bem colado ao corpo. Estava a ponto de correr.

Para aumentar o meu medo, ele me dirigiu a palavra.

- Ei moça?! - Não respondi. Apressei o passo. - Moça?! - Insistiu ele. - Dona Márcia?! - Ele disse meu nome.

- Que foi? - Respondi sem olhar. Andava cada vez mais rápido.

- Vem cá! - Aquilo não estava acontecendo. Que vontade gritar! Continuei a andar. Ele acelerou a moto.... E agora, meu Deus?

- Espere! - Ordenou ele. - Sou um taxista, seu noivo pediu para te buscar. Ele estava preocupado. - Tirou do bolso o tal objeto. Era um registro. Realmente era um taxista.

Pálida, subi na moto. Nossa, que angústia, nunca mais tive coragem de voltar a andar por aquela rua. Felizmente, tudo aquilo não passou de um susto. Um grande susto...