DOCE VINGANÇA

Embriaguei-me com altas doses de lirismo, como pediam os psicólogos. Não foi suficiente. O desejo de vingança é maior.

Em uma quinta feira chuvosa do mês de fevereiro, era decidido o futuro do assassino da minha família. Um maldito viciado de drogas. Um verme da escória humana.

Voltemos para o início do meu terror.

´´Carlão meu rapaz, traga essas cervejas logo. Tá todo mundo esperando. Já acendemos a churrasqueira. Cadê você?´´.

Não podia responder as mensagens que chegavam no meu celular, enxergo somente sangue.

Pedro, meu filho, estava há uma semana com sua fantasia do Batman. Tentamos tirar ao menos para lavar, era em vão. As forças do cavaleiro das trevas estavam com ele, ou o choro quando insistíamos. Duvido muito que o Batman choraria tão forte assim.

Era carnaval, aproveitávamos a casa de praia junto com nossos amigos. Teresa, minha mulher, estava preparando o resto do almoço junto com as amigas.

Havia acabado a cerveja.

-E ai Batman, quer ajudar o papai a trazer umas bebidas?. Vou precisar dessa força ai. Disse.

Pedro apertou seu cinto multitarefas, e saiu correndo entrando dentro do carro.

Pegamos tudo que precisávamos no supermercado. Estávamos na fila, quando entrou um rapaz armado.

-Vai, todo mundo pro chão. Qualquer gracinha, qualquer um querendo ser super herói morre. Disse o rapaz.

Pedro havia ido ao setor de salgadinhos, fiquei desesperado. Tentei falar com o assaltante:

-Senhor, meu filh....

-Cala a boca!!!! O senhor quer morrer? Vai sua vagabunda, passa todo dinheiro ai do caixa. Disse colocando a arma em minha cabeça, enquanto olhava com fúria para a moça que chorava demasiadamente.

-Achei o salgad.....

Pahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh.

Um tiro de desespero. Um tiro de medo. Pedro caiu e os salgadinhos voaram tingidos de vermelhos. Sua Roupa preta ficou vermelha de sangue. Não percebi que comecei a chorar, não percebi que estava abraçado com meu filho, não percebi que o ladrão correra deixando algumas notas de dinheiro voar.

Estava mudo. Sirenes. Polícias. Pessoas querendo ajudar. Não ouvia nada.

Estava no hospital. O médico não deu-me muitas esperanças. Faria tudo que estava ao seu alcance, me prometeu.

Teresa me batia, chorava, balançava-me. Não notei sua entrada, não ouvia nada, ouvia apenas seu choro de desespero, que era o mesmo que o meu.

O balançar negativo de cabeça do médico e enfermeiras, foi o suficiente para que desmaiássemos. Pedro, acabou não resistindo ao tiro. Teresa e eu, acabamos não resistindo ao baque dessa vida.

O que mais cortou meu coração, foi o caixão branco. Aquilo doía tanto, aquilo machucava de verdade, Deus nunca existiu pra mim nessa hora. Não me julgue, Jesus também o fez.

Enterramos Pedro com sua fantasia preferida, parecia dormir com sua linda máscara do Batman. Adeus meu filho, não posso mais chorar. Não tenho mais lágrimas.

Teresa sempre me abraçava quando podia. Chorávamos sempre juntos, sempre compartilhávamos nossas lágrimas, as fotos de Pedro, nunca saíram da mesinha da sala.

Soubemos pelo inspetor de polícia, que prenderam o suspeito do crime. Era necessário eu ir confirmar.

Antes de vê-lo, já sabia que era ele que estava ali dentro. Eu sentia.

O policial que me conduziu, perguntou:

-O senhor confirma?. As outras testemunhas confirmaram que ele foi o ladrão que atirou no seu filho. Senhor, senhor?

Ódio. Raiva. Sede de vingança. Eram os sentimentos que cultivei, e estavam mais vivos do que nunca. Confirmei ao policial, minha vontade era entrar ali, matar esse desgraçado.

Em uma quinta feira chuvosa do mês de fevereiro, o juiz absolveu o criminoso. As provas eram insuficientes, mesma com tantas testemunhas, era réu primário. Minha mulher desabou a chorar dentro do tribunal. Gritei ao juiz:

-Se fosse seu filho? O que o senhor faria, que injustiça é essa.

Ignorei as advertências do juiz e completei:

-Cadê a justiça seu incompetente, ele matou meu filho. Esse seu martelo, nem de madeira de lei deve ser.

Foi preso naquela hora. O ladrão saia sorrindo.

Fiquei uma semana preso, fui solto com a condição de prestar alguns serviços a comunidade, e passar periodicamente em um psicólogo.

Alexandre da Costa, 21 anos, reside na zona oeste e trabalha como mecânico. Essas foram as informações do detetive que contratei. Arquitetei minha vingança. Necessitava disso.

Domingo, 17 de Agosto. O calor era sufocante. Eu estava ali, não tirava os olhos dele, esperava ansiosamente ele sair.

O assassino deixou o bar andando pela calçada, segui com o carro. Encostei o carro e o segui a pé. Ao virar por uma rua sem movimento, encostei o revólver e mandei ele me seguir até o carro. Estava meio embriagado. Amarrei-o, e coloquei no porta malas com a boca fechada. Segui até o galpão de uma casa da minha família no interior.

-Me solte, olha você é o pai daquele menino, certo? Me desculpa você sabe que foi sem querer, ele correu atrás do balcão, desesperei-me e atirei. Me pedia o marginal.

Suspendi-o pelos braços, e amordacei a sua boca.

-Vou me vestir especialmente para te matar. Disse.

Foi difícil achar uma fantasia para o meu tamanho. mas achei uma bela fantasia adulto do Batman.

Desferi muitos socos em seu rosto, não conseguia parar. Eu era o Dexter, o meu psicopata favorito. A série de tv que me entende, que não perdoa as pessoas ruins. Matei-o ao estilo do meu vilão/mocinho favorito, vestido de Batman. O crime, não trouxe meu pequeno Pedro de volta, mas trouxe minha paz. Queimei junto com o corpo a roupa do cavaleiro das trevas.

Ao chegar em casa abracei Teresa e dizia:

-Acabou meu amor, acabou meu amor. Está tudo acabado, agora ele descansa em paz.

Teresa segurou minha mão, foi descendo a sua barriga, e disse.

-Estou grávida, estou grávida.

As lágrimas deram lugar aos sorrisos. Perdoei Deus só não sei se ele me perdoou.

Passaram-se 7 meses desde que matei aquele crápula. Estávamos felizes mais uma vez, a barriga de Teresa estava enorme. Era um menino que esperava. Pedro mais uma vez.

A campanhia tocou, era o delegado de policia.

-Senhor Carlos, posso falar com o senhor? Disse.

Antes de sair olhei para Teresa, seus olhos encheram de lágrimas.

-Tudo vai ficar bem meu amor. Eu disse a ela antes de sair.

O delegado foi direto:

-Senhor Carlos, o suspeito do assassinato do seu filho está desaparecido há 7 meses, o senhor é o principal suspeito. Sabe senhor Carlos, tenho um filho de 8 anos, Miguel seu nome. Eu faria tudo por esse meu filho, tudo mesmo. Os filhos são uma dádiva, fazem a vida ter algum sentido. Vim aqui para lhe informar, que estou arquivando esse caso. Eu faria o mesmo no seu lugar. Vá, volte para sua família.

Eu nasci de novo para a vida. Pedro sorri no céu, e sorri aqui na terra também. A vida me permitiu viver novamente.

Eduardo monteiro
Enviado por Eduardo monteiro em 16/02/2013
Código do texto: T4143450
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