O VIÚVO (PARTE 1)
O VIÚVO (PARTE 1)
Eram 06:00hs. quando Renata chegou no ponto de ônibus. Abriu a pequena bolsa e retirou um livro, sentando-se no banco. Esperava a condução que a levaria até o centro da cidade e mergulhou na leitura. Assustou-se, ao olhar para o lado e ver aquele homem de paletó e gravata, sentado perto dela:
- Desculpe! Eu não queria te assustar! – Disse ele com um sorriso no rosto;
- Tudo bem! Eu estava tão distraída com a leitura, que não vi quando você chegou! – Respondeu;
- Vai para o centro? – Perguntou ele;
- Vou!
- Eu também! Preciso chegar cedo no cartório para pegar uma Certidão de Óbito! - Renata fechou o livro e olhou para o homem; ia perguntar alguma coisa, mas o ônibus chegou!
O estranho se colocou na entrada da porta do coletivo e ofereceu passagem para Renata. Ela agradeceu e subiu os degraus, pagando a passagem e indo se sentar à frente. Ele sentou ao seu lado e falou:
- Você ia perguntar-me algo, quando o ônibus chegou!
- Queria saber se o senhor é agente funerário? – Perguntou ela;
- Não! Não é isso; é que faz dois dias que acabei de sepultar a minha esposa! – Respondeu ele, meio triste;
- Eu sinto muito! Eu não queria...
- Tudo bem! Eu precisava mesmo desabafar. Meus filhos moram fora do País, e nem vieram para o sepultamento da própria mãe!
- Pôxa, que chato!
- Mas também não os culpo; eles vivem viajando e quando souberam, já era tarde!
Renata e aquele homem conversaram durante todo o trajeto do coletivo até o centro da cidade. Ao pedir o ponto, o estranho ainda lhe falou:
- Engraçado; estamos aqui conversando e eu nem sei mesmo o seu nome...
- Renata! – Apressou-se em dizer;
- Prazer Renata!
- Meu nome é Alberto! – Ele sorriu.
- Caso passe algum dia pela Rua das Flores, aqui no centro, minha loja fica no número sessenta e seis! – Ele estendeu a mão e apertou a de Renata, descendo assim que o ônibus parou no ponto solicitado.
Renata ficou observando Alberto se distanciar e ficou pensando, como o destino às vezes é engraçado; não faziam, nem mesmo dois dias que ela tinha terminado com o namorado, e agora, conhece um homem encantador que acabou de sepultar a esposa, justamente há dois dias! Chegou à conclusão que o próprio destino, estava armando um novo caminho para ela.
* * * * * * * * * *
Dia seguinte, no mesmo horário, lá estava ela no ponto; desta vez, Renata se produziu melhor: vestiu um vestido de microfibra em tons rosados, calçou um sapato creme que combinava com a bolsa marrom claro que carregava. Olhou para os dois lados à procura de Alberto; nem sinal de alguém!
Sentou-se no banco e começou a folhear o livro distraidamente, mas com o pensamento se encontraria aquele homem charmoso e educado mais uma vez. No horário de sempre, o ônibus parou no ponto e Renata nem percebeu quando o motorista abriu a porta:
- Você vai ficar aí?
De súbito, Renata suspendeu a cabeça e olhou para a frente assim que ouviu a pergunta; lá estava Alberto, parado na porta do ônibus e sorrindo para ela:
- Como... ? De onde você surgiu... ? – Perguntou ela meio atônita com o aparecimento repentino de Alberto;
- Você nem viu o ônibus chegar, quanto mais a minha pessoa! – Disse ele, ajudando Renata a subir no coletivo;
- É que às vezes eu me distraio com a leitura;
- Eu já percebi isso!
Renata e Alberto passaram pela roleta e foram sentar-se nos últimos bancos:
- O livro deve ser bastante interessante! – Disse Alberto olhando para o livro nas mãos dela;
- Sim! É sobre a estória de uma mulher que supera a perda de um amor, através de outro amor;
- E isso aconteceu realmente ou é só mais um conto?
- É só mais uma estória mas eu, concordo plenamente com o livro; só outro amor para esquecer o que já passou!
- Pode até ser! Mas eu prefiro que ele chegue até a mim, ao invés de procurar por ele! Assim, eu não corro o risco de querer encontrar no novo amor, características do velho! – Disse Alberto olhando para Renata;
- Verdade! Não fazer comparações...!
Renata e Alberto continuaram a conversar até chegar no local onde ele desceria. Ela já se preparava para se despedir dele, quando ele repentinamente, lhe fez o convite:
- Quer conhecer a minha loja?
- Mas..., agora?
- E existe melhor momento para isso? – Alberto sorriu.
Renata fechou os olhos e respirou fundo:
- Vamos! – Respondeu ela, levantando-se e seguindo Alberto.
Seguiram pela via principal até chegarem em uma rua comprida e estreita. Caminharam por mais alguns metros e a rua ainda estava meio deserta por causa do horário cedo. Alberto parou em frente a um pequeno sobrado com portas de vidro e cuja fachada parecia ter recebido uma pintura recentemente.
Renata contemplou a cor amarelo-ouro e o nome que indicava no letreiro pendurado à cima da porta: “ROSAS E VIOLETAS – FLORICULTURA”. Alberto destrancou a porta e ofereceu passagem para que ela pudesse adentrar à loja.
Renata se encantou com a quantidade de arranjos espalhados pela loja, e o perfume que vinha das flores, eram embriagador. De repente, ela sentiu uma vertigem ao passar por um buquê de jasmim, sendo rapidamente segura pelas mãos, por Alberto:
- O que houve? – Perguntou ele;
- Não sei! Ao sentir o cheiro dessas flores, eu fiquei tonta!
– Ela apontou para o buquê de jasmim dentro do balde com água;
- É melhor você sentar! – Alberto a colocou sentada em um pequeno sofá;
- Não sei..., de repente o cheiro dessas flores, me lembraram alguma coisa... – Renata tentava falar e raciocinar, mas não conseguia conjecturar as palavras.
Alberto esboçou um sorriso:
- E você não lembra de nada, do que seja? – Perguntou ele a ela;
- Quando tentei lembrar agora, parece que fica um vazio na minha mente..., é como se eu estivesse totalmente perdida no tempo...
Alberto olhou para Renata e sorriu mais uma vez...
EMANNUEL ISAC