O MISTÉRIO DA ÁRVORE QUE CHORAVA (PARTE - 3)

Inácio dirigia o mais rápido possível. Sua mente martelava na última frase de Roberto: ... “ARRANQUEI AS SUAS RAÍZES!”. Como seria possível em tão pouco tempo uma árvore daquela envergadura, crescer tanto? Não existia explicação lógica para essa situação.

Antes de se despedir, Inácio soube que aquela casa fora comprada pelo pai de Roberto, de uma família que ainda residia na região. Inácio esperou que Roberto procurasse em meio aos livros da prateleira central, um pedaço de papel que continha o nome e endereço do primeiro proprietário do imóvel. Com sorte, talvez ainda encontrasse alguém naquele endereço. Esta era a razão pela qual dirigia daquele jeito.

Faltavam poucos minutos para as cinco da tarde, quando Inácio chegou ao local; olhou para o pedaço de papel velho e conferiu o nome: RUA DAS ORQUÍDEAS, Nº 69, CASA – 09. Guardou o papel no bolso da camisa, saiu do carro e contemplou a casa grande e solitária no final da rua. Observou o jardim imenso que ladeava toda casa e surpreendeu-se ao contar dezessete pés de aldrago! Todos estavam floridos, com suas flores amarelas, dançando ao sabor do vento, contrastando com o verde-musgo de suas folhas, formando um belo espetáculo aos olhos de Inácio...

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Depois que Inácio saiu, Cíntia deixou Vanessa assistindo TV na sala e foi tomar banho. Começou a lembrar da voz que ouvira ao encontrar na Árvore:

- Eu sabia!... Desde que vi aquela árvore, eu senti algo estranho nela! – Cíntia pensava em voz alta.

Terminou o banho e entrou no quarto para secar o cabelo. Sentou na cama e pôs o espelho encostado na parede, a medida que passava o secador pelos cabelos, cantarolava uma música, descontraída.

Cíntia mudou de lado para terminar seu cabelo, quando observou pelo reflexo do espelho, uma árvore cujo tronco era negro como a própria noite sem lua e estrelas, com os galhos repletos de folhas marrons e vermelho-sangue.

Ela ficou como uma estátua observando aquela imagem; fechou os olhos e piscou por duas vezes, voltando a olhar a imagem no espelho! Percebeu que o espelho refletia o seu quintal e voltou a cabeça para olhar pela janela: tudo o que viu, foi a aldragoa com suas flores amarelas e suas folhas verde-musgo. Cíntia procurou pela árvore assombrosa que acabara de ver, mas não a encontrou.

Baixou a cabeça e ficou pensando o que seria aquilo, quando olhou para o espelho e viu Vanessa andando pelo quintal em direção aquela árvore; deixou o secador cair ao chão quando notou que a árvore negra, na verdade era a aldragoa!

Saiu correndo até chegar na porta da cozinha que dava para o quintal e gritou:

- Vanessa! - A menina parou e olhou em direção à sua mãe;

- Nêssa minha filha, venha aqui pra mamãe te dar um chocolate! – Cíntia tentava persuadir a filha;

- Mas minha amiguinha quer brincar comigo agora!

Cíntia foi ao encontro de Vanessa mas parou, quando um galho desceu e se movimentou em sua direção:

- Mas meu bem, se você vier até a mamãe agora, a mamãe vai te dar sorvete de morango! – Cíntia mordia as pontas dos lábios, por causa da tensão nervosa em que estava.

Vanessa deu dois passos em direção à Cíntia, quando uma das raízes da aldragoa enrolou-se em seus pés, a derrubando no chão! Cíntia ao ver sua filha sendo arrastada para perto do tronco da árvore, disparou em sua direção, ignorando os movimentos dos galhos que desciam e subiam tentando atingi-la.

Ela pode ver quando próximo à base do tronco, as raízes começaram a se afastar, abrindo um buraco escuro. Sem perda de tempo, ela se lançou ao chão segurando Vanessa pelos braços, antes que a raiz conseguisse puxá-la para dentro daquele buraco.

Foi com muito sacrifício e esforço, que ela conseguiu arrancar a raiz enrolada dos pés de Vanessa, voltando correndo com ela em seus braços para dentro de casa. Olhou pela janela e a árvore parecia normal; inerte em seu lugar com suas folhas balançando levemente. Voltou a sua atenção para Vanessa que estava sentada no canto da cozinha chorando, pegou o telefone e ligou para Inácio...

EMANNUEL ISAC