O QUINTAL DE DONA MARIA (PARTE - 4)

Os rapazes permaneceram por mais uns vinte minutos após o casal adentrar à casa. Saíram agachados, espreitando os cantos do quintal, até chegar no portão e ganhar a rua! Precisou que fossem amparados pelos demais:

- O que houve? Parece que vocês viram um demônio! - Ritinha foi a primeira a falar;

- Com certeza, era um demônio! - Respondeu Marquinhos, ofegante;

- Como assim??? - Praticamente todos, perguntaram ao mesmo tempo;

- Ela matou mais um!

- Matou outro filho? - Perguntou Lucas, o que sempre se mantinha calado, à colocação de João;

- Não tenho mais dúvidas, que Dona Maria está matando as crianças, uma por uma e aos poucos! - Marquinhos agora já respirava normal e fez a colocação com convicção;

- Em primeiro lugar, nos falem o que vocês viram lá dentro! - Ritinha sentou no banco da praça onde eles estavam, e esperou pelo relato de João e Marquinhos.

Os dois começaram a contar de como viram Dona Maria desferir golpes em alguma coisa grande que estava na porta do quarto e colocá-la dentro de um dos sacos que eles viram ela trazer mais cedo na charrete. Descobriram que seu Bigode, sabia de tudo o que a esposa fazia e que ele também concordava em se livrar de todos para ficarem sós.

Ritinha perguntou o que Dona Maria fez com o saco, e eles relataram que foi enterrado próximo ao primeiro. João levantou do banco, limpou a terra da roupa e falou:

- Amanhã bem cedo, eu vou falar com o Delegado!

- Como vamos explicar o que descobrimos? - Perguntou Augustinho;

- Falamos a verdade! Acho melhor ser dessa forma e evitar que ela mate o restante dos filhos!

- Vocês nem viram se eram mesmo os filhos que ela acabou matando, e já querem levar o caso para o Delegado! - Ritinha, como sempre, pensava mais do que agia;

- E precisa de mais prova do que a que ouvimos? - João agora concordava com os colegas;

- Ouvir, podemos dar várias definições e caminhos para o que ouvimos; ver, podemos enxergar aquilo que não é a realidade! Precisamos de provas concretas, para incriminar alguém! - Ritinha falou como se tivesse pleno conhecimento técnico;

- E precisa de mais provas do quê os dois sacos enterrados, o sumiço de uma das crianças, agora duas, para provar alguma coisa? - João confrontou a colocação de Ritinha;

- Deixa eu te explicar uma coisa, cabeça dura; se você acusar alguém e não poder confirmar o que você está falando, esta mesma pessoa pode acabar te acusando de levantar falso testemunho, perjúrio e abrir um processo contra você mesmo! - Ritinha respondeu quase colando o rosto no de João;

- João, melhor pensar direito no que Ritinha falou, você sabe que o pai dela é advogado e ela deve saber o que está falando! - Lucas tratou de apaziguar os ânimos entre os dois;

- Está bem! Mas o que você sugere então, para termos provas mais concretas que estas, para fazermos a denúncia? - João perguntou a Ritinha, em tom de desafio;

- Simples!: Precisamos tirar fotos e gravar ao menos, uma das conversas dela!

Todos concordaram, mas restou a forma de como realizariam tal feito. Marquinhos deu a idéia de alguém ficar no alto da árvore, já que ela estava enterrando os sacos embaixo dela, para tirar as fotos, mas ninguém achou a solução de como fazer para realizar a gravação!

Depois de muita discussão, resolveram de se encontrarem no dia seguinte, no mesmo horário e lugar, para espreitar os passos de Dona Maria e seu Bigode. Marquinhos ficou encarregado de contar as crianças e Augustinho, de subir no pé de manga para tirar as fotos. Lucas, de vigiar a entrada do portão e João de vasculhar o quintal enquanto ela estivesse fora! Cada um seguiu para casa, combinando de não fazer comentários com ninguém, além deles mesmos.

Às 08:00hs, do dia seguinte, lá estavam eles reunidos mais uma vez. Sentaram na Praça e ficaram olhando para o portão da casa de Dona Maria, na perspectiva de algum movimento para agirem. Não demorou muito e eles viram quando o portão começou a mover-se lentamente para dentro, dando passagem para a charrete com Dona Maria, seu Bigode e mais quatro crianças saírem sentadas no fundo, em cima de uma grande caixa de madeira; a mesma que eles viram nas outras vezes. A turma disfarçou, fingindo que estavam conversando distraidamente, sem olhar para a charrete, assim que a mesma passou por eles:

- Vocês notaram?

- Sim, Dona Maria estava com a mesma roupa de ontem! - Respondeu Marquinhos;

- Não seu burro! Só tinha “quatro” crianças com eles! - Disse Ritinha;

- É mesmo! Isso significa que eu e João acertamos no que ouvimos e vimos ontem!

- Isso é o que hoje, nós tentaremos provar!

Ritinha esperou que a charrete sumisse no final da rua, para distribuir as tarefas como sempre fazia. João rodeou o muro e entrou pelo buraco que eles fizeram há dois dias atrás, ganhando os fundos do quintal, indo direto para o local que vira a mulher utilizar o facão na noite anterior. Olhou para o chão minuciosamente, à procura de alguma coisa que pudesse provar que naquele lugar, uma pessoa foi morta!

Nada! Resolveu olhar na porta do quarto mas a encontrou fechada com o cadeado. Já estava dando a volta, quando notou próximo ao ralo, resto de sangue. Foi até o pé de manga e pediu a câmera fotográfica a Augustinho, voltou e tirou fotos do lugar. Teve a idéia de pedir ajuda para cavar e desenterrar os sacos, para fotografar o que tinha dentro deles.

Augustinho e Lucas se juntou a ele na procura da enxada e da pá, acreditando haver tempo suficiente para eles procurarem pelo material, já que Dona Maria não voltaria tão cedo. Estavam olhando procurando próximo a um monte de ferramentas, quando uma pedra pequena atingiu a cabeça de Lucas. Logo, outra, e mais outra e um assobio:

- Eles estão voltando! - Disse Augustinho, se ligando que aquelas pedras, era seus amigos dando sinal que a família estava de volta;

- Mas já? Ela nunca volta antes das dez! - Marquinhos completou a fala de Augustinho.

Os três rapazes dispararam em direção ao pé de manga. Enquanto Augustinho subia com extrema agilidade na árvore, João olhou e viu que não daria tempo dele subir após Lucas, e seguiu para o fundo do quintal, indo se esconder por trás dos montes de ferramentas. Sua respiração ficou ofegante ao ver Dona Maria e seu Bigode se aproximarem e saltarem da charrete:

- Prá mim chega! Não tenho mais paciência de ficar pra lá e pra cá com eles! - Disse Dona Maria, puxando as rédeas;

- E o que você pretende fazer? - Perguntou seu esposo;

João lembrou que estava com o celular no bolso, e ligou o gravador de voz:

- Assim que a gente voltar com as crianças, hoje à noite, vou dar um fim nos que sobraram!

- Mas em todos de uma vez? - Indagou seu Bigode;

- Melhor assim, antes que percebam e sintam a falta dos outros!

- E a onde você vai colocá-los? Debaixo do pé de manga, acho que não vai mais caber!

- Vai dar sim! E se não, enterramos todos eles espalhando por todo o quintal...

EMANNUEL ISAC