A VIAGEM DE UMA ASSASSINA

(A VIDA DE UMA ASSASSINA, cap final)

Havia um tempo em que aquela bela menina demorava obeservando a natureza e sempre ficava maravilhada com o dom que os pássaros têm de poder voar. Imaginava-se, senão voando, pelo menos pulando de algum lugar bem alto de modo que aproveitasse aquele momento da queda, deixando seu corpo navegar apenas ao carinho do vento. Sabia que, por enquanto, isso seria impossível.

Passados treze anos, uma empresa contratava novos funcionários na área química, necessitavam fazer pesquisas onde encontrassem resultados inovadores e revolucionários de alguma forma. Foram então escolhidos, após uma fase de seleção, três novos funcionários. Eles seriam os pesquisadores ativos da empresa. Haviam passado por todo um processo que não só provou a competência, mas também o caráter inovador de cada um. Havia apenas uma mulher entre eles. Ela era a mais ativa de todos, e a única que costumava ficar ali no laboratório mesmo depois de seu horário de trabalho.

Ricardo adorava química desde pequeno, mas ficou muito triste quando pensou ter visto um amigo sendo vítima de seu trabalho no laboratório. Seu amigo Daniel acabara de morrer do que parecia algum tipo de intoxicação decorrente de seu dia a dia no laboratório. Pensava ele como estaria então a namorada de seu amigo que também trabalhava no mesmo local. Eles eram muito próximos, deveria estar arrasada, pensava.

No mês seguinte algo semelhante acontecia: a sua irmã estava morta. Ricardo então pensava consigo como aquele ano estava sendo pavoroso para ele. Não conseguiam identificar com total certeza a causa de sua morte. Estava muito triste, naturalmente foi consolado pela sua única colega de trabalho, haja vista que, fora ele e Daniel, que já havia morrido, restava apenas Eriberto em sua equipe. Aproximaram-se de uma forma tão intensa que já não conseguiam ficar sem se falar nem por um dia.

Três meses se passaram e Ricardo então sofria novamente outro golpe do destino. Seu pai, que não simpatizava em nada com sua nova namorada, era encontrado morto no banheiro. Novamente a causa de uma morte não ficava nada clara. Isso fazia com que Ricardo estranhasse e começasse a passar horas pensando o que essas mortes todas poderiam ter em comum.

Naquele mesmo instante, longe dali, quem estivesse naquele laboratório poderia ver uma linda jovem olhando o seu relógio e estampando um semblante muito feliz. Ela finalmente tinha conseguido aperfeiçoar ainda mais aquela fórmula que já havia lhe ajudado em muitas ocasiões. Só teria que testá-la, não em um rato, como acabara de fazer, mas em um verdadeiro ser humano. Tentava descobrir em quem, mas ainda não tinha a resposta.

Conversava ela longamente com Ricardo por telefone, e depois de desligar mudava incrivelmente sua expressão. De uma menina totalmente doce, transformava-se em alguém que havia decidido o que fazer, e que iria fazê-lo com todo empenho e dedicação. A vontade era incontrolável, teria que realizá-lo o mais rápido possível.

Ricardo acabava de conversar com sua mãe, conversa não das melhores, pois ouvia críticas quanto a seu novo relacionamento. Tinha a cabeça cheia de problemas e queria fugir para algum lugar onde pudesse pensar melhor. Resolveu ir onde seu atual amor costumava trabalhar. E deparava-se com uns tubos de ensaio cheios de uma fórmula a qual ele não conhecia. Notava então um cheiro nada agradável, mas não muito forte. Vinha de uma pequena sala, que dava para um depósito, nela sim o cheiro era insuportável. Via então um conjunto enorme de ratos mortos e marcados com uma numeração que ele não entendia. Então resolveu fazer um teste: pegou uma amostra daquelas que estavam ali sobrando e ministrou em um dos poucos ratos que serviam para cobaia que encontrou. Aparentemente não notou nada acontecer. Foi então embora desapontado por não ter idéia de qual era a ação daquela fórmula misteriosa.

No dia seguinte, bem cedinho, domingo, ninguém iria ali, Ricardo estaria de volta, e se deparava com seu "conhecido" rato morto. Fazia então uma autópsia nele, mas para sua surpresa, nada conclusivo encontrava. Recebia então um telefonema de sua namorada lhe chamando, pois sua mãe estava passando mal. Pensou, pensou, e chegou a uma conclusão a qual sempre temeu. Não sabia bem o motivo dos crimes, mas tinha razões para desconfiar que a fórmula recém descoberta tivesse sido a causadora de tantas mortes, e o pior, sua namorada seria a assassina.

Naquele décimo nono andar, onde morava Ricardo, podia-se ver uma jovem estranhamente feliz e um corpo caído ao chão que parecia apenas dormir. Parece que a fórmula não havia dado o resultado esperado e de fato resultou de uma forma onde os efeitos mostraram-se um pouco acelerados. Então, aquela jovem teve que improvisar e chamar seu namorado, evitando assim que suspeitas caíssem sobre ela. Mas parecia que sua tranqüilidade estava muito perto de acabar. Ela ouvia o barulho de sirenes, a polícia havia chegado a peso. E batiam na porta, insistiam, mas quem estava ali dentro recusava-se a abri-la. Até que se ouvia a confirmação que tudo já era sabido e que ela não iria escapar dali ilesa. Então foi que aquela jovem viu um cenário irresistível para a ocasião. Uma belíssima vista de uma boa altura, era o que oferecia aquela varanda tão bem ambientada. E já não tinha dúvidas, atirou-se dali. Finalmente pôde sentir o que sonhou por tanto tempo. Aquela viagem que só não era tão solitária porque contava com o carinho do vento e com a forte emoção que sentia naqueles seus últimos segundos de vida que aconteciam ao som de um forte grito que saía da boca de Ricardo: “Ana Améééééeééééééééééééélia”, seguido por um som que dava fim a toda uma viagem que em outros tempos era apenas um sonho de uma criança.

Frank Santos
Enviado por Frank Santos em 21/04/2007
Reeditado em 15/01/2008
Código do texto: T457982