Um sonho outra realidade

Em cada esquina em que passava eu não sabia mais onde poderia encontrá-la, seus olhos que há muito refletiam o brilho do céu eu não estava vendo mais e isso deixava minha alma profundamente triste, era inevitável andar por essas ruas sozinho sem a companhia de quem tanto amo, parei em alguns bares e bebi até ficar levemente embriagado, essa estava sendo a única forma de me sentir alguém, não imagina o quanto estava sendo difícil viver depois de anos felizes com alguém especial.

Parei em outro bar, mas dessa vez resolvi perguntar por ela: Você tem visto a Eugênia por aqui? - É assim que minha amada se chama.

__ Anh?

__ A Eugênia, minha esposa, não se lembra de mim?

__ Claro que lembro, só não entendo o que fazes aqui. Vamos, dê o fora!

__ Não... Calma, mas...

__ Sem mas, dê o fora ou você vai se arrepender de ter insistido!

Sai as pressas sem entender o motivo de ter sido tratado assim. Ao passar a mão na minha testa notei um leve sangramento e alguns estilhaços de vidro, esse outro fato chamou mais ainda minha atenção, pois não recordara de nenhuma briga, para ser sincero, não estava recordando de nada mais, só de acordar em um beco, e ir procurar minha doce Eugênia a única lembrança que possuía. Tão jovem, quando lembro do seu sorriso ao me acordar pela manhã dizendo-me:

__ Acorde amor, se não perderá a hora.

Somente isso, sua voz angelical dizendo tais palavras ainda ressoava em minha mente confusa, e talvez fosse isso que estava me deixando distante da loucura. Voltei a andar em sua procura a noite estava escura e batiam uma brisa fria que dava um toque sombrio a minha procura, sabia que estava no caminho certo porque tinha lembranças frequentes dela naquele lugar, era só uma questão de tempo para reencontrá-la, porém, algumas pessoas que estavam na rua me encaravam, isso incomodava, o único olhar que necessitava naquele momento era o dela e ao invés disso recebia esses, não aguentei e então fui perguntar o que estava acontecendo e se tinham notícias de Eugênia. Fui até a primeira pessoa, era uma mulher loira, cerca de 1,70 de altura, sua cara estava pálida e usava um vestido justo amarelo, quando estive diante dela senti que a conhecia de algum lugar, mas não passou disso, não conseguia lembrar mais, então disse:

__ Ei! Você sabe onde encontro a Eugênia?

Antes de terminar de falar essa frase sua face continuava com sua palidez escultural, porém em fração de segundos ela foi revista por um semblante assustado, como se estivesse visto algo terrível em sua frente um de seus maiores medos refletidos cara a cara, sem entender aquilo esperei que ela dissesse algo e disse com tom irado:

__ O que você quer? Já não basta tudo que fez? Seu monstro!!!

__ Mas o que está dizendo? Como pode falar isso de mim sem ao menos me conhecer?

__ Não se faça de cínico, conheço você sim e muito bem! Saia daqui, seu monstro! Monstro, é isso que você é!

O som daquelas palavras estavam em minha mente "Monstro, monstro, monstro" Isso foi me causando uma náusea muito grande, senti vontade de vomitar ali mesmo, até que toda minha calma e resignação foi jogadas ao ventos, de repente a única coisa que senti pela aquela mulher foi ódio, senti vontade de matá-la e deixar seu corpo atirado nas ruas, fui me controlando e insisti mais um pouco segurando seus braços.

__ Por favor, me explique o que está acontecendo! Não consigo entender porque estou sendo tratado dessa forma.

__ Você não passa de um monstro, pensa que vai me enganar dessa forma? Você não me engana seu monstro, me solte!

Ela tentou me empurrar e até me arranhou com suas unhas, ouvindo mais uma vez suas palavras me chamando de monstro e vendo o sangue que tirara do meu rosto, não controlei minha fúria, eu estava completamente possuído, dei um soco em seu rosto que a fez chorar e continuar falando aquelas palavras "Monstro, monstro, monstro, monstro" cada vez que ela dizia aquilo mais minha fúria aumentava e quanto mais pedia para que ela parasse de dizer aquilo era ai que dizia com mais entonação, levei-a a um matagal próximo daquela rua e joguei-a no chão com toda força que tive, seu vestido subindo um pouco pude ver uma amostra de sua bunda, diferente de seu rosto sua bunda era suave, mas nada disso diminuía minha fúria, rasguei seu vestido e subi em cima dela, apertava-a e sentia seu cheiro, cheirava a sexo e isso aumentava mais ainda meu apetite sexual e meu ódio por ela, tentou mais uma vez me arranhar juntamente com uma mordida, peguei sua cabeça e com força bati no chão, já estava sangrando e não satisfeito fiz novamente até que parou de respirar. Aquilo me causou paz, naquele momento vi tudo calmo como se estivesse com minha linda Eugênia.

Deixei seu corpo ali mesmo, levantei e primeiramente espiei para ver se passava alguém, estava tudo calmo, quando estava para sair vi uma viatura policial passando e então me escondi novamente até ter certeza que estava tudo bem, minutos depois continuei minha caminhada em busca da minha preciosa, dessa vez estava menos aflito do que antes e andava com passos calmos, e o que aconteceu anteriormente, senti que já havia feito antes.

Durante o caminho notei vários outros olhares assustados e curiosos, alguns saiam correndo quando se deparavam comigo, aquilo nada me abalava, se me tirassem do certo já sabia o que fazer, mas naquele momento uma única coisa ainda me era importante, encontrar Eugênia, continuei seguindo em frente não sabia para onde estava indo a não ser as lembranças que tinha dela ali, nada mais me era recordado, mas também não conseguia parar de andar e é como se estivesse sendo guiado sem ter consciência de para onde e fui indo até que deparei-me com uma casa enorme na esquina do fim da rua, tinha dois andares, um jardim verde com algumas rosas no canteiro, uma casa agradável e aparentemente aconchegante, resolvi entrar, encostando na porta notei que estava trancada sem pensar muito dei-lhe uma pesada que ela se pôs no chão e no instante seguinte já me encontrava em seu interior, a cada passo que dava via em minha mente flash sangrentos que eu não conseguia decifrar apenas sentia muita náusea e algo indescritível em meu peito, pude notar alguns porta retratos e neles haviam minhas fotografias, o espanto que tive nesse momento foi grande, estavam neles Eugênia de um lado, uma criança no meio e eu do outro, estávamos sorridentes naquela foto, percebi então que estava em minha casa, agora o motivo por não lembrar do que se passara ainda era um mistério em minha mente.

Decidi subir as escadas e dar uma boa olhada em cima, tinha vários outros retratos nossos em uma estante no andar de cima, aquilo me deixou feliz, senti que fosse encontrar Eugênia no próximo quarto deitada me esperando, então apressei meus passos, coloquei os dedos na fechadura, e já chamando-a contente "Eugênia, Eugênia!" deparai-me com um rio de sangue no quarto, tinha muito sangue, no chão, nas paredes, não consegui me segurar em pé e acabei desmaiando.

Quando acordei estava com as mãos e os braços amarrados, me senti desesperado com aquela situação, gritava incansavelmente "Socorro, socorro!!!" mas ninguém me ouvia, ou se ouvia não viam me ajudar, dei uma boa olhada ao meu redor estava em um quarto pequeno forrado com uma espécie de almofada, todo branco e quando eu já estava cansado de gritar ouvir alguns passos próximos a porta, fiquei calado por um instante para ouvir o que eles conversavam:

__Bem, como você é novo por aqui e tenho que instruí-lo de todo o procedimento, nada melhor do que lhe falar sobre os pacientes dessa clínica.

Nesse momento pensei, paciente? como? não estou doente... e estou aqui conta minha vontade.

__ Pode dizer estou prestando atenção em tudo que dizes.

__ Você não pode ter nenhum tipo de conversa com eles, alguns são extremamente perigosos e manipuladores, esse aqui, por exemplo, é um dos que mais dão trabalho.

Ele estava apontando para o meu quarto, estava falando de mim, me chamando de perigoso e manipulador, como se não já bastasse aquela loira me chamando de monstro, agora esse patético, quando eu sair daqui farei questão de cuidar dele! Não, não o que estou dizendo? Eu não sou assim, ele deve ter algo a me explicar, não tenho feito nada demais para ser tratado assim. E os dois continuavam a conversa:

__ O que ele fez?

__ Da última vez que escapou ficou sussurrando coisas o dia todo para um de nossos funcionários, quando ele descuidou e abriu a porta por conta desses sussurros ele o enforcou até a morte, e depois ficou parado como se não estivesse entendendo nada, esse relato nos foi passado por uma enfermeira que estava próximo e pode observar tudo, infelizmente não pode ajudá-lo. Agora o que você vai achar mais interessante foi o motivo pelo qual ele veio parar aqui...

__Conte-me, fiquei curioso.;

__ Ele era uma pessoa aparentemente normal, trabalhava em uma empresa de terceirização e tinha um bom relacionamento com as pessoas, até que conheceu uma mulher chamada Eugênia...

Minha Eugênia, como esses lábios impuros ousam falar de uma criatura tão superior.

__ ... Eles chegaram a conversar algumas vezes, nada demais, até que ele começou segui-la algumas vezes em uma dessas virou para ela e agiu de uma forma como se eles fossem casados, ela achou aquilo estranho, mas pensou que fosse alguma brincadeira, eles foram até um bar para conversar e que por sinal dessa última vez conseguimos capturá-lo por ele ter passado nesse mesmo local, o dono lembrando bem do caso macabro que ocorreu alguns anos atrás, ligou para cá avisando sobre sua possível localização, mandamos uma viatura fazer a ronda, mas nada encontramos, até que decidimos ir na casa da pobre mulher que foi onde ele estava caído. Coitada daquela moça, tinha sido tão gentil, e ele surtava achando que eram casados, que tinham um filho e uma história feliz. Toda a tragédia aconteceu um dia que ele surtado foi até a casa dela, entrou e subiu as escadas, vendo-a deitada com seu verdadeiro marido, pegou a faca que possuía e matou-a, e não satisfeito, matou também o filho do casal, em sua cabeça doente ele estava sendo vítima de um complô contra ele, a forma brutal na qual cometeu aqueles assassinatos foram tão fortes que não consigo descrever para você.

O que? Eu não cometi nenhum assassinato, minha querida Eugênia está em casa deitada me esperando para nos amarmos, uma criatura tão boa nunca faria mal algum a ela. Seus desgraçados! Tirem-me daqui ou eu mato vocês assim como fiz com aquela miserável, tirarei seus estômagos com um golpe de faca, me tirem daqui!! me tirem agora!! Eu sou inocente, não mereço ficar aqui... -sentado chorando.

__ Está vendo? Está em péssimo estado mental!