Luz nas sombras

Lenon, o recém-formado advogado, inteligente, para alguns, inteligentíssimo, saúde ótima pra dar e vender!... Fisicamente causava admiração, inveja, aquilo que o ser humano vê no outro e não vê em si. O jovem que com certeza teria várias causas ganhas, dinheiro no bolso multiplicando, sim, na certa , quando já tiver seus quarenta anos estará bem sucedido em todos os sentidos.

Todos sentidos não, Lenon não via o quanto ele era beneficiado, (quantos perdem esta oportunidade) maldizia algumas derrotas, criticava uma infinidade de pessoas, esbravejava, incrível, ele considerava até infeliz.

Um dia este jovem intempestivo sentou num banco de uma praça, um lugar muito bonito, via-se arvoredo por todo lado, árvores até mesmo de grande porte, flores diversas, lago, os animais as pessoas como gostavam dali. Um lugar assim quando uma cidade grande consegue fazer, um bem enorme com certeza consegue às pessoas.

Lenon, senta no banco, estava sentado também um homem com óculos escuros, de aparência de gente da alta, boa aparência, aparentemente um pouco mais velho do que aquele jovem, que se sentiu à vontade de sentar perto daquele cara bacana.

De repente aparece um mendigo e pede justamente a Lenon:

--- Moço, poderia me dar uma ajuda, há muito tempo que não me alimento.

--- Vá trabalhar, vagabundo!!! (exaspera Lenon)

Que terrinha! Depois dizem que Deus é brasileiro, aqui é uma miséria. Dirigindo ao homem que ainda permanecia em silêncio:

--- Não acha amigo, que no nosso país as coisas vão muito mal?

--- Pra falar a verdade, não. Somos até muito privilegiados. (responde o estranho a Lenon) Acho que Deus é brasileiro sim ...Rss...rss.

O jovem Lenon não se deu por vencido. Começa discordando com aquele homem parecendo ser inteligente, culto, de natureza calma, mas também gostando de falar o que pensa.

--- Não, meu cara, você defende porque deve ser daqueles que se deu muito bem aqui, pela sua aparência, as coisas lhe vão muito bem...

O homem, então pergunta a Lenon:

--- Mas você reclama de que?

--- Pra mim tá ruim pra caramba! Na verdade nunca tive falta de nada. Sou da classe média alta, alguns dizem que até sou rico. Pra falar a verdade, antes de formar em direito nunca havia trabalhado. Agora tenho trabalho até demais no meu ramo de advocacia. Dinheiro, se antes não me faltava, agora jorra de roldão!!!

Na vida sexual não tenho queixa, posso ter várias amantes que quiser. Minha vida tá ficando ruim, tá ficando maçante. Ainda agora, minha ex esposa me proibiu até de ver o meu filho de 8 anos, tá conseguindo até provar que não sou bom exemplo pra ele.

O estranho lhe fala:

Ih! Cara, então vou lhe falar uma coisa, podes até não concordar, mas você é um daqueles que um dia poderá dizer:

--- Eu era feliz e não sabia!

--- Ah! Mas como podes dizer, se tivesse chance você trocaria de lugar comigo? Vamos, fale um pouco de você, que depois de escutar, implorarei ao Deus do Céu que troquemos agora nossas vidas!

O estranho então começa:

Não nasci cheio de dinheiro igual a você. Minha infância até que foi muito pobre. Mas não me lembro de qualquer momento que senti infelicidade, sabe porque? Minha mãe era destas que realmente nasceu para ser mãe, me deu o essencial, me deu muito amor. E olha que fui um daqueles filhos sem pai. Mais tarde pude compreender que minha mãe concluía que, a presença de meu pai não seria bom para mim, conforme o seu caso, Rsss...rss... Mas continuando, minha mãe foi pai e mãe pra mim, até nos momentos terríveis ela me fazia ver o quanto podemos desfrutar das belezas existentes. Posso dizer que ela foi tudo, mãe, pai, psicóloga, professora e tudo o mais.

Ainda não havia completado os 5 anos, comecei perder a visão. Os médico disseram que nada podia fazer, a cegueira ia aumentar paulatinamente.

Lenon quase que dá um pulo do banco e diz:

--- Espere aí, então você é cego?!

--- Quase cego, meu amigo, só consigo ver sombras.

Naquele dado momento aparece um menino, com 8 anos também, por coincidência igual ao filho de Lenon. Acriança fala:

--- Papai, vamos embora a mamãe está esperando. A poucos metros dali estava uma mulher, jovem ainda e muito bela. O homem ainda tem tempo e parecia ter o prazer em dar o último conselho àquele jovem e presunçoso advogado:

--- É isto aí, meu amigo, ainda tens muito para ser feliz, porque se continuares assim, volto a afirmar que um dia dirás:

--- Eu era feliz e não sabia!

Lenon observa o estranho apesar de imponente, mas de mãos dadas com o filho, a felicidade estava estampada naquela família. Escutava uma voz lá no seu íntimo:

--- E aquele homem vai querer trocar a vida dele com a sua? É ruim, hem!

A voz deveria ser do seu anjo da guarda, que era tão zombeteiro quanto ele. Aliás, cada um tem o anjo que merece!