ADODP

Prólogo.

Cinco homens estavam comendo em silêncio na banca de beira de estrada, as três da manha de uma noite qualquer.

Em volta deles se via um cenário deserto e plano, a estrada seguida quieta e a sensação que se tinha era que os cinco homens eram os únicos vivos no mundo, incluindo o dono da banca que cochilava ao lado deles; A banca era suja, e no chão grudento um chorume de procedência desconhecida fazia com que o pé dos homens colassem ao se movimentar.

Dentre uma das piscadas de luz que era provocada por uma mariposa que estapeava a lâmpada um dos homens finalmente falou:

- A qualquer momento agora a ambulância vai chegar. - Pluto era como era conhecido o senhor Adamastor, um gordo imundo que trabalhava na construtora há anos. Tinha uma voz grave, e o mexer de sua boca fazia com que todos os queixos que a gordura moldava nele pulassem, voando suor. Vestia o uniforme como todos.

Ouviram a informação em silêncio, cada um pensando uma coisa e não pensando nada ao mesmo tempo.

O dono da banca estremeceu no banco ao lado e revirou, continuando a dormir:

- Será que algum de nós vai ter de ir junto? - Ricardo, um homem de estatura baixa e curvada fez a pergunta em um tom agressivo, como tudo que falava, sua careca brilhava devido ao suor.

Novamente o silêncio tomou conta, até que João disse com firmeza:

- Eu irei, como sobrinho do Doutor Rodrigues faço questão de acompanhar o... Aquilo. - João era jovem, estava no terceiro dia de emprego na construtora, tinha uma estatura média e era forte para sua idade.

O que João não admitira era que iria por curiosidade, não por responsabilidade:

- Não entendo porque uma ambulancia, o homem está claramente morto, e morto há muito tempo! - Disse calmo Cléber, o mentor do grupo, único com estudo para tal.

Um barulho de sirene quebrou o silêncio cadavérico do local, todos olharam sem exceção para a estrada e viram de longe uma van branca com luzes vermelhas no topo, o dono da banca acordou com o barulho.

A ambulância parou na banca, desligou a sirene e três portas se abriram saindo de dentro três enfermeiros:

- Boa noite senhores. - O motorista pegou uma ficha e por um segundo leu em silêncio. - Bem, me levem até o cadáver então. - Sorriu.

Apenas quatro dos cinco operários saíram do local, o mais velho deles, senhor Valmir permanecerá comendo após não dizer uma palavra sequer.

Atrás da banca andaram cerca de 500 metros até um buraco imenso que fora feito pelo trator que estava parado ao lado deste, em volta do buraco holofotes de luz iluminava o local que estava repleto de madeira destruída junto do barro.

Desceram uma escada improvisada com madeiras pelo buraco e guiados por Adamastor todos enfim chegaram ao centro do buraco, onde se encontrava "Aquilo".

- Santa mãe de Deus, que cheiro é esse! - Exclamou um dos enfermeiros se aproximando do grupo que havia parado em volta de um buraco menor dentro do buraco maior.

- Estávamos cavando até que o trator pegou em algum tipo de madeira, descemos do trator e com a pá destruímos todo o local de madeira, cavamos mais um pouco e ele estava ai, soterrado...

Todos olhavam para o cadáver de um senhor, os homens desenterraram apenas o rosto e o torso, deixando os braços e pernas ainda submersos na terra.

Era velho demais, aparentava ter por volta de 90 anos, a pele muito enrugada, a pele tão branca quanto os cabelos compridos, estava completamente nu:

- Há quanto tempo acha que está ai? - Perguntou João para o enfermeiro mais velho.

- Não posso dizer com prioridade. - Respondeu o Enfermeiro se aproximando devagar do cadáver. - Ainda está inteiro, e "cheirando"... Não está enterrado há muito tempo, creio eu.

- Vai por mim senhor, a terra estava intacta, este ai está enterrado há muito tempo. - Disse Ricardo. - E toda essa madeira acima da terra que ele estava... Não era pra ser encontrado.

- Achismo, isso é achismo. Não temos tempo para isso, vamos remover o cadáver e levar conosco. - Retrucou grosseiro um dos enfermeiros, se movendo até o cadáver bruscamente.

Inesperadamente, quando o enfermeiro colocou sua mão no braço direito do cadáver o mesmo abriu os olhos bruscamente, grandes olhos prateados, inspirou enchendo os pulmões de ar chegando a erguer o corpo minimamente.

Todos recuraram bruscamente, e gritinhos foram ouvidos dentre os homens assustados, o cadáver tornou a dormir, aparentando ter dado seu ultimo suspiro.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 11/05/2014
Código do texto: T4803171
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