Fatalidade ou Castigo?

Eles estavam hospedados em uma bela chácara. O destino eram as montanhas, mas escureceu e o jeito foi parar e pedir abrigo, por sorte uma senhora muito gentil recepcionou o casal.

- Se vocês quiserem passar mais tempo não tem problema!

Jantavam.

- Não queremos incomodar. - disse o rapaz.

- Essa casa é grande e eu moro sozinha.

- Eu a admiro! - disse a moça.

- Por quê? - perguntou a senhora.

- Morar sozinha em um lugar tão afastado da cidade... Eu não teria coragem! - sorriu.

A senhora se calou. No momento, a moça se arrependeu de ter comentado aquilo, de ter ofendido. O rapaz deu um cutucão e voltaram a comer.

- A principio, eu não gostava de morar aqui... Achava a casa um tanto estranha, mas aos poucos fui me adaptando.

Depois do jantar, ela mostrou o quarto de hospedes ao jovem casal. Pouco espaçoso, se resumindo a uma escrivaninha e uma cama grande com lençóis de seda. Quando a senhora se retirou, o rapaz fechou a porta atrás de si e olhou maliciosamente para sua esposa. A luz era uma vela que pouco iluminava.

- Ela foi tão boazinha conosco que eu não queria incomodá-la com o nosso barulho... - disse ela.

- Relaxa... - respondia ele já avançando - Até parece que aquela velha se importa com o que a gente faz, amor...

Por volta das 2h da madrugada, o casal abraçado comentava sobre a noite.

- Que parte você mais gostou?

- Todas... - sorriu ele. - Você é demais!

- E você o máximo!

- Eu sei. - brincou.

Riram um pouco.

- Vem cá. - ele a puxou para um beijo, mas ela fez careta ao se inclinar, quando viu um quadro macabro na parede: escuro com manchas que pareciam rostos, com pingos avermelhados. E o mal estar ficou ainda mais forte. - O que foi?

Ele também percebeu o quadro. Levantou e aproximou-se da figura.

- Que estranho! Isso já estava aqui?

Na ponta da cama, ela estava nauseada.

- Estou tonta!

- O que você tem? - sentiu as mãos frias.

- Não sei, mas tem alguma coisa estranha aqui... - o coração estava acelerado.

- Também estou sentindo... - ele lembrou que ela era sensível as energias de um ambiente. - Vamos embora!

- Não, já está passando... - aos poucos sentiu a pressão diminuir.

- Tudo vai ficar bem. - olhou-a e sorriu.

Voltaram para cama e deitaram, ele a apertou fazendo com que ela se sentisse mais segura. Mas, quase 4 da manhã, ela teve sonhos perturbadores, pesadelos que diziam que aquela casa não era segura. E novamente o ambiente estava alterado. Apertou os olhos, pois tinha sentido um arrepio na espinha; começou a tremer, mas o marido, gentilmente, alisava o seu braço pensando que estava com frio.

Pela manhã, a senhora os guiou num tour pela casa para que conhecessem os cômodos. A chácara possuía três quartos no andar de cima e um banheiro social próximo a escadaria de madeira. Logo, abaixo a sala, a cozinha e o hall num só. As janelas eram bem desenhadas com cortinas de tecido finíssimos.

- Dormiram bem? - a senhora sentava-se a mesa do café da manhã.

- Sim, claro. - respondeu a moça.

- Mas, nada se compara quando chega de manhã, não é?

- Sim... - notou alguma coisa estranha no falar dela.

A mesa estava bem decorada: bolo, pães, chá, bolachas.

- A casa é realmente muito bonita! - elogiou o rapaz.

- Foi por isso que a comprei, mas... Não sei se ela vale pela beleza...

Seu timbre de voz oscilava entre o entusiasmo e a frieza. A moça observou.

- Por que?

- O rapaz que estava me vendendo a casa me entregou antes do prazo.

- Sério?

- Percebi também que ele estava muito agitado quando nos vimos da última vez.

- Ultima vez?

- Ele sofreu um acidente de carro.

- Nossa! Foi grave?

- Ele está internado no hospital da cidade.

- Uau!

Novamente, a moça sentiu o coração disparar.

- Pode comer mais, viu! - a senhora sorriu para ela.

- Obrigada, estou satisfeita!

O celular do rapaz toca.

- O que foi? - disse ela.

- Ninguém. Ligou e desligou...

A velha os encarou.

- Bem, eu quase não recebo visitas e fico muito entusiasmada quando chega gente aqui.

- Imagino. Deve se sentir tão sozinha. - disse ele.

- De vez em quando. - deu um meio sorriso.

A madeira da escada fez um ruído.

- Qual o nome do rapaz que se acidentou?

- Richard. - ela falou pausadamente. - Homem bom. Estava um pouco perturbado com a casa. Ele me contou uma história triste e intrigante...

O rapaz colocou os cotovelos sobre a mesa, enquanto a esposa estava emudecida.

- Estão com pressa?

- Não, não. - ele olhou para a esposa.

- Os antigos donos da casa, bem antes de Richard, era um casal exótico. Tomás e Ruth. Ele com seus trinta e poucos anos, jovem e curioso, e ela uma senhora de cinquenta, atraente e de delicados cabelos grisalhos. Ruth adorava as montanhas e por isso pediu ao marido que construísse uma casa aqui. Ele por sua vez gostava de colecionar objetos raros. Tinham gostos diferentes, mas eram interligados por uma só coisa: magia negra.

A pupila dos olhos do rapaz se dilataram.

- Ruth foi influenciada por Tomás, que gostando das experiências passou a se dedicar a conhecer mais o lado oculto. Foi aí que Tomás notou que a esposa tinha facilidade em lhe dar com os espíritos.

Aquela história estava deixando o braço do jovem arrepiados.

- E certa vez, um espirito maligno se manifestou de forma alvoroçada, e contestava dizendo que algo não o estava agradando. Tomás ficou preocupado, não querendo atrair sua fúria, e perguntou o que devia fazer... O espirito mandou que encontrasse uma bíblia escondida na casa e a queimasse.

A moça engoliu seco, mas o marido estava vidrado.

- Ruth ficou receosa, sabia que aquilo seria errado: queimar uma bíblia. Tinha em mente que Deus existia, de alguma forma, mas existia, porém Tomás não e iniciaram a busca. Acharam numa das gavetas de um criado mudo antigo no meio das relíqueas dele. Sem perda de tempo, encheram esta mesa aqui com velas, puseram a bíblia num prato de ouro e atiaram fogo! No mesmo instante, a casa começou a tremer; vidros se quebraram, quadros caíram e algumas portas foram arrancadas violentamente... Apos a tremedeira, Tomás se transfigurou e olhou para a esposa dizendo, missão cumprida.

- Inacreditável! - murmurou o rapaz.

- E naquela mesma noite, eles sofreram um terrível acidente! - a velha esbugalhou os olhos. - Já terminaram de comer?

- Sim. - a voz dele saiu quase imperceptível.

Ela afastou a xícara de café e continuou:

- Eles foram para a estação pegar um metrô. Ruth estava próxima a plataforma enquanto Tomás falava ao celular, um pouco afastado. O alarme do metrô apita. De repente, Ruth cai e quebra as duas pernas. Tomas vê e corre para ajudar. Junta uma multidão ao redor e um deles resolve ligar para a Central para pedir que o veiculo parasse, havia gente acidentada nos trilhos. Ruth grita desesperada e o alarme apita novamente. Tomas puxa a esposa para colocá-la sobre a plataforma, mas acabam puxados. A cena chocou: muito sangue e pedaços de carne por todos os lados. O jornal da cidade estampou a noticia. E uma das testemunhas relatou que nunca tinha visto algo tão bizarro!, e detalhou tudo a policia. Mais tarde, as imagens da câmera de segurança foram analisadas, que flagrou o momento exato da queda, não havia ninguém perto para empurrar a Sra. Ruth.

(texto baseado em um sonho que tive)

Nefer Khemet
Enviado por Nefer Khemet em 07/07/2014
Código do texto: T4872856
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