UMA CRUZ À BEIRA DA ESTRADA – EC -

 
Quando me deparo com uma cruz à beira da estrada chego a conclusão de um atropelamento ou acidente com veículos.

Quem seria o mortal de triste sina?

A curiosidade  me queimava por dentro, me deixava angustiado este segredo guardado
no símbolo cristão.

Uma cruz enegrecida, abandonada, indicando que a desgraça passara por lá ceifando uma vida.

Gostaria de tomar conhecimento deste fato, do dia fatídico e como as pessoas se envolveram
nesta tragédia.

Dias destes não resisti, passei por uma delas fincada à beira do caminho e estacionei o carro ao lado.

Olhei com muita curiosidade para a velha cruz.

Podia-se ver uma data entalhada de modo rudimentar, um tanto desgastada pelo tempo, quase apagada: 31/08/2000 e as iniciais escritas de forma irregular M  -  M.

Quase 14 anos  do fatídico dia da infausta ocorrência.

Olhei ao derredor e avistei uma velha choupana mais adiante.

Me aproximei e bati palmas com vigor para chamar a atenção de algum morador.

Poucos segundos após surge na soleira da velha moradia uma senhora.

Ela aparentava ter uns 85 anos, andava arqueada e apoiava-se num velha e rudimentar bengala.

Roupas remendadas e rotas, chinelos desgastados, um gorrinho cobria-lhe a cabeça esbranquiçada pelo tempo.

Quando me atendeu notei que dois ou três dentes lhe sobraram na boca e suas mãos tremiam...

Olhos tristes, me encarou seriamente.


- Pronto seu moço, posso lhe ajudar? ... sussurrou numa voz debilitada.

Senhora, creio que é moradora há bastante tempo desta região e gostaria que me informasse sobre a pequena cruz à beira da estrada, por acaso tomou conhecimento
do ocorrido?

-Ah! ...meu senhor, nem queira saber...

-Já faz mais de 13  anos que aconteceu a desgraça...

- E como foi? A senhora pode me contar?

- Vou lhe dizer com muita tristeza do ocorrido:

- Eu tinha uma filha chamada Mafalda, ela perdeu seu emprego na cidade e veio me ajudar no roçado e na pequena criação de porcos e galinhas que eu tinha no terreiro da casinha.

Era pouca a produção mas dava para nosso sustento.

Tínhamos também algumas árvores  de frutas e pequena plantação de verduras e legumes.


- Mafalda há 3 anos engravidara de um sujeito bandido que a abandonou e ao seu filho Marcelo, ele  escafedeu-se pelo mundo.

-Pra encurtar a conversa, um dia Mafalda e o filho estavam naquela esquina esperando o ônibus que os levaria para a cidade, ela havia arrumado um emprego de doméstica numa casa de família.

Não chegaram a embarcar.

Um carro em alta velocidade perdeu-se na estrada e atropelou mãe e filho, foi uma desgraça moço, morreram na hora, o motorista estava bêbado e fugiu do local.

Desesperada esperei por socorro.

O ônibus que os levaria à cidade chegou.

O motorista tentou socorrer minha filha e meu neto.

Em vão, estavam mortos.

A data está lá junto com as iniciais da Mafalda e do Marcelo.

Lágrimas teimavam em embaçar seus olhos...

Também eu morri naquele dia, moço!!!


 
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Uma cruz à beira da estrada
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