O último suspiro

Já era quase manhã, a primeira vez que abria os olhos em semana, e, apesar da claridade, sempre parecia ser noite.

Meu quarto fica no andar superior da casa. janelas de vidro, com vista para o lago no quintal. Quis me levantar para vê-lo, mas, me faltaram forças. Parecia que tinha aberto os olhos para um último suspiro.

Como não pude me levantar, fiquei a observar cada detalhe daquele espaço. Nossa casa é do início do século XX, e por isso, muita coisa é antiga.

Comecei minha observação: as janelas, que permaneciam sempre fechadas desde que adoeci, possuíam cortinas tão sujas quanto o tapete sob minha cama. A cadeira de balanço, que fica o canto do quarto, havia enferrujado por não ser mais utilizada. A mesa de estudos havia tantos livros, que mal podia se ver o outro lado e ficou servindo de lar para as aranhas. O assoalho de madeira estava tão empoeirado, que dava pra ver os rastros das formigas em direção ao armário onde guardava minhas guloseimas. Mas tudo aquilo me era familiar, até que alguém abriu a porta.

Não a reconheci. Seu rosto pálido, longo vestido preto, semblante triste, cabelo coberto por uma espécie de capuz. Durante o tempo em que me olhou nos olhos, senti o corpo gelar e minha pele tremer. Tudo naquele quarto parecia estar em silêncio, escuro, sem vida.

Ela começou a caminhar lentamente em minha direção, e meu coração não acelerava apesar do medo, mas diminuía como se quisesse parar.

sentou-se ao meu lado e beijou a minha face com lábios tão gelados, que tive a sensação de dormência em todo o rosto. Segurou a minha mão e sussurrou em meu o ouvido meu nome, e assim, fechei os olhos, para nunca mais abri-los.

Erick Barros
Enviado por Erick Barros em 26/08/2014
Reeditado em 28/01/2015
Código do texto: T4937320
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