"O Demônio de Blackchapel" - Parte XV

Capítulo 15:

A Caixa

Brian Jickens caminhava a passos rápidos pelas ruas escuras de Blackchapel. Não dormia há muito tempo e lutava contra o próprio cansaço. No começo sentiu-se irritado. Meia hora atrás, seu parceiro, o suboficial Falman ligou do departamento de polícia com uma mensagem intrigante o suficiente para que fizesse Brian ter de abandonar seus planos de descansar em casa, fazendo-o voltar ao trabalho. Não sabia o que era maior, sua curiosidade ou seu cansaço, mas ambos eram fortes o suficientes para confundir ainda mais a cabeça do detetive.

Ele não sabia exatamente o que era e seja lá o que fosse, seria de praxe esperar para o dia seguinte, mas tinha um pressentimento de que "aquilo" exigia sua imediata atenção e dada as palavras do suboficial, com certeza era algo que seria fundamental para o andamento das investigações e isso Brian deveria ver imediatamente.

...

Faltava agora pouco menos de quinze minutos para chegar ao departamento e a ansiedade tomava conta de Brian. Normalmente não ficava assim. Não que fosse menos humano, mas sabia ser bastante profissional, além disso segundo ele próprio, "quando se tem um trabalho desses, uma hora você acaba por sentir menos".

Brian refletiu por um instante se seu particular modo de pensar seria positivo ou negativo. Já trabalhava há tanto tempo em investigações criminais e já se deparava com tantas cenas de assassinato das mais bizarras, que poucas vezes se encontrava envolvido emocionalmente pelo ocorrido. Sabia que eram vidas humanas que se esvaiam estupidamente nas mãos de monstros insanos, mas com o tempo, deixara de se impressionar e este pensamento, causava um certo temor na mente de Brian.

"Estaria eu me tornando um desses monstros?"

No entanto agora, sem saber o motivo, sentia-se novamente agitado, ansioso e nervoso pelo caso atual. E por um instante, só por um ínfimo instante, sentiu-se menos preocupado.

...

Finalmente, Brian chegou ao departamento de polícia de Blackchapel e por um leve instante, parou na entrada e ficou a observar o céu, tão belo, tomado pelo escuro da noite e ao mesmo tempo iluminado pelas estrelas que emitiam um forte brilho imponente. Brian não pensou se especificamente nesta noite, as estrelas não estavam a brilhar mais do que o comum e esta singela imagem, deixou-o com uma estranha sensação de felicidade que há muito não sentia e divagou sobre antigos pensamentos distantes.

A voz do suboficial Falman trouxe Brian Jickens de volta à realidade. Por um momento, o detetive se sentiu irritado ao ouvir a voz do suboficial que de algum jeito, quebrara a delicada apreciação ao qual Brian estava imergido. Após alguns segundos, sua suposta raiva amenizou.

Concentrou seus olhos em Falman. Estava parado ali na porta da delegacia, trajando calça e sapatos sociais, uma camisa polo branca simples e um relógio cujo brilho prateado fazia parecer uma das estrelas que Brian vira no céu. O cabelo de Falman estava levemente despenteado e o aspecto de seu rosto era cansado e desgastado, como o de alguém que passara o dia todo trabalhando sem muitos intervalos mesmo para as refeições, mas havia alguma coisa nele, que revelava alguma determinação e fazer o que havia se proposto a fazer.

Ao vê-lo, imediatamente começou a caminhar em sua direção. Falman não esperou para começar a falar:

- Que bom que está aqui chefe.

Brian se lembrou da ligação de Falman que recebeu minutos antes:

"Detetive Brian, aqui é o oficial Mike Falman. Desculpe por ligar essa hora, mas é sobre algo realmente importante. Recebemos uma coisa que o senhor realmente ver querer ver. Acredito eu que será de profunda importância na investigação dos assassinatos. E detetive... prepare-se pois é algo bizarro."

- Sem devaneios e vamos, diga-me logo o que é tão importante que eu necessito ver agora? - Perguntou Brian, fugindo da lembrança da ligação e agora retornando à realidade.

- Vamos entrar detetive, assim que ver, o senhor compreenderá que dispensa explicações. É bizarro. - Então em silêncio, os dois entraram no departamento de polícia.

Os corredores do edifício, onde localiza-se a principal força policial e investigativa do distrito de Blackchapel, era bem iluminado e tudo muito organizado. Os corredores, cujas paredes em um tom de cinza claro, fazia Brian se sentir às vezes como se estivesse em uma espécie de hospital e apesar de passar mais tempo ali do que em sua própria casa, o detetive não se sentia nada confortável, apenas o mínimo necessário para fazer o seu trabalho e agora com um suposto novo assassino na cidade, seu tempo ali provavelmente iria aumentar e esta sensação causava-lhe desconforto, mas Jickens sempre fora comprometido com o dever e com a justiça e fazer valer a lei, estava acima de seus próprios confortos.

Após quase cinco minutos, andando pelos corredores do departamento, Jickens e Falman finalmente chegaram à sala aonde se dirigiam. Ali dentro, além do detetive e do suboficial, apenas mais duas pessoas, o policial Ryan Kelly e a bela doutora psiquiatra Michelle Kaufmann.

Havia poucos objetos na sala. Um pequeno armário cinza, um mesa de trabalho com computador, telefone e alguns papéis, três cadeiras e agora também uma estranha caixa de plástico do tipo em que se levam sanduíches para piquenique, cujo conteúdo Brian não soube dizer de imediato.

- Muito bem, estamos aqui - disse por fim - O há para se ver.

- Esta caixa - começou Falman - chegou agora à noite, um pouco depois que o senhor saiu daqui.

"Uma caixa? É por isso que me chamaram aqui? Por causa de uma maldita caixa?" Brian pensou em dizer, mas deteve-se em perguntar calmamente:

- E o que tem demais nessa caixa?

- Não é a caixa em si senhor, e sim o que tem dentro dela - Respondeu Falman.

O suboficial, ou estava com muita paciência, ou estava fazendo um espécie de suspense tolo ao falar em etapas, fazendo rodeios e enrolando para revelar o conteúdo da caixa. Isso testava a paciência do detetive, ainda mais agora. Ele falou já perdendo a paciência:

- Por Deus Falman, você me ligou às dez horas da noite quando eu estava quase chegando em casa, dizendo-me que eu deveria voltar para cá para ver um coisa que sem dúvida seria de meu interesse, e agora que chegou aqui fica nesses devaneios e fazendo mistério, pare com a enrolação e mostre logo o que tem dentro dessa droga de caixa.

Brian agora parecia estar mais acordado. Seu breve discurso não espantou os demais na sala, apenas o jovem suboficial Falman que ao levar a bronca de Jickens, aproximou-se da caixa e pôs-se a abri-la. Quando o fez, Brian se aproximou para olhar. Claro que essa não foi uma ideia. Sua expressão foi incrédula e depois de repulsa.

- Mas que droga é essa?

Agora parecia não se sentir mais cansado, como se nunca estivera e o interesse profissional logo voltou, trazendo mais dúvidas do que respostas. O conteúdo da caixa era deveras bizarro e prendeu a atenção do detetive e um leve sorriso surgiu no rosto do suboficial Falman:

- Viu chefe, eu disse que o senhor iria querer ver isso.

Nameless
Enviado por Nameless em 27/08/2014
Código do texto: T4939216
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