O Mistério das Grades Flamejantes

Eu estava espiando dentre os galhos que escondiam o luar. Me aproximei sorrateiramente. Olhava para o muro de pedra à minha frente, com grades e candelabros do lado de dentro. Aquilo me chamou a atenção... O flamejar do fogo que queimava as velas me induzia para si.

"Venha" - ele dizia com suas curvas.

Não poderia ser mais tentador. Eu estava curiosa para saber o que se escondia por trás daquelas grades... Olhei para os livros lá dentro, a maioria amarelados e empoeirados. É como se aquele momento tivesse uma trilha sonora sombria e misteriosa. Eu precisava saber o que se escondia naquele lugar. Talvez todos os mistérios do universo, lá se encontrassem resolvidos.

Não liguei para a voz interior que me dizia ser perigoso. A curiosidade que me despertou era maior. Sorrateira e rapidamente me aproximei. Ergui a barra do meu vestido longo para que não tropeçasse e caminhei dentre as folhas secas. Meu pequeno sapato de salto já estava incomodando. Tirei-os.

Um grande pentagrama esculpido pode ser visto gravado no muro. Novamente a trilha sonora imaginária soou em minha cabeça. Subi em um degrau e me apoiei na grade. Percebi que poderia passar facilmente por ela, e assim o tentei. Retirei o enchimento de meu vestido, subi no degrau e fiquei indecisa por algum tempo. Olhando de cima, o lugar parecia mais com uma prisão. Não era possível escalar novamente por causa da minha altura, então o receio tomou conta de mim. Também era possível ver um pequeno túnel iluminado apenas na entrada. Aquele túnel me levaria pra lugares inimagináveis, que talvez só fossem existir em minha mente. Eu nunca havia entrado ali antes, mas sabia que me surpreenderia.

Sem pensar muito, pulei. Agora não havia volta. Caminhei pelo pequeno cômodo, se assim posso dizer, e passei a mão pelas paredes. Aquele lugar tinha uma energia muito forte, inexplicável. Fiquei por alguns minutos absorvendo aquela energia e me acostumando. O túnel me atraía... Eu precisava entrar...

Mas então, algo inesperado aconteceu... Um grande cão surgiu de lá de dentro e começou a rosnar para mim. Era gigante e suas presas eram afiadas. Ele não me atacava, mas também não parava de latir, como se soubesse que não tinha permissão de me atacar, ou como um amigo que avisa de um jeito brutal: "não entre, é perigoso!"

Os latidos chamaram a atenção de alguém. De dentro do túnel, vi uma silhueta feminina. Ela se aproximou com seus longos cabelos pretos e cacheados. Era mais velha, aparentava seus cinquenta anos e carregava consigo uma bondade e firmeza. Se aproximou de salto e roupas pretas. Usava uma saia longa, porém justa, de muita elegância. Fez um gesto para que o cão parasse e falou:

- "Pode parar agora. Ela não vai entrar".

Ela então abriu as grades e me deixou passar. Minha avó. Caminhando então pela floresta, ela começou a acariciar o cão. Olhou-me nos olhos e disse, com sua voz tranquila e serena:

- "Um dia você irá desvendar os grandes mistérios. Mas agora, não é a hora."

Foi então que eu soube que grandes segredos estavam para ser revelados. Eu tinha todo o poder em mim. Podia sentí-los vibrarem loucamente pelo meu corpo. Isso já não me assustava, pois estava no meu sangue. Um dia tudo seria revelado e eu entenderia tudo sobre tudo. Pois foi assim que nasci, assim que percebi. Sem ninguém me dizer, tudo se manifestou em mim. Foi assim que descobri quem era, quem sou e serei: Eu sou uma Bruxa.