O grande furo

O sol pouco a pouco surgia no horizonte, o vento assanhava lhe os cabelos e fazia seus olhos lacrimejarem, aproximou-se da sacada prostrando-se para esperar pelo amanhecer. Pegou o celular e discou o número do escritório, mas como desconfiara, ninguém atendeu, era muito cedo.

Lá em baixo as pessoas começavam a sair de suas casas, algumas, assim como ele, iam trabalhar, porém pareciam estar atrasadas, não se cumprimentavam ou se despediam. Ele percebeu que vivera assim toda a sua vida, afastara-se de sua família e das pessoas que amava, simplesmente por sucesso e fama, que nem ao menos recebeu. E esse seria também o futuro daquelas pessoas.

Desde criança sonhava em ser jornalista, na infância como Clark Kent, na adolescência como Willian Bonner. Mas na verdade apenas um velho careca e barrigudo que nunca encontrou um furo que o fizesse crescer. Por causa disso passara um longo tempo em depressão. Que ao contrário do que os outros pensavam, nunca havia acabado. Entretanto, desta vez ele seria lembrado, não importando as consequências, ele teria a capa dos jornais.

Puxou do bolso um maço de cigarros e acendeu um, nunca fora de fumar, mas achou que naquela situação era necessário. Esperou, e depois do terceiro cigarro, quando o sol já lhe aquecia a face tentou novamente o telefone. No outro lado da linha, uma voz feminina que sempre o desprezara.

- Amanda? Aqui é Carlos... – Falou ele, meio receoso. – Escute-me bem, você quer ser reconhecida nessa droga de trabalho? Eu sei muito bem que seu sonho sempre foi fazer reportagens e não ser uma secretária... Essa é a sua chance.

-Carlos? Do que você está falando? Onde você está?

- Apenas vá para a cobertura, você vai encontrar uma maleta preta escondida embaixo de algumas caixas. Dentro delas vai encontrar o seu futuro. Após abrir a maleta você vai ter exatamente vinte minutos para sair do prédio e se salvar... Faça isso ou será apenas mais uma. – Desligou.

Ele tinha certeza que ela viria, portanto deu continuidade ao plano. Pegou a carta que escrevera mais cedo, nela havia escrito sua opinião sobre todos aqueles que o cercavam, guardou-a no bolso da sua camisa e pulou para a morte.

***

Vinte minutos mais tarde houve uma explosão, mas Amanda estava a salvo observando, do outro lado da rua, o prédio em que trabalhara por toda a sua vida, queimar. Em suas mãos segurava com toda a força uma maleta preta.

Luiz Paulo Guerra
Enviado por Luiz Paulo Guerra em 18/10/2014
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