American Boy

Era uma vez... “Um príncipe!”, dirão meus estimados leitores. Não, pessoal, era uma vez um filho da puta. Tem gente que é lixo, tem gente que é menos do que lixo. Aquele tipo de pessoa que faz você olhar pra cima e xingar deus por permitir que um escarro desses tenha a oportunidade de sentir o prazer da vida. E Tony Jake Boy era um destes tipos. Ele não era sujo e isso é o que me incomoda. Você desvia do cara sujo, mas em certa medida confia em gente mais limpa. E tem muito sujo que não teria coragem de fazer um décimo do que o Tony fazia. O sujeito era uma espécie de “Ted Bundy do mal” se isso era possível. Na encarnação passada ele não foi humano, deve ter sido uma sarna ou um vírus da poliomelite.

Pine Bluff, Arkansas, 2003

Tony Boy tinha 40 anos e trabalhava numa loja de conveniência. Ficava perto de uma escola e ele via a garotada sair todos os dias. Mas tinha uma menina que ele era apaixonado, de uns 13 anos. Menininha inocente, virgem, de pele macia e cheirosa, igual à que ele jamais poderia ter. A garota comprava sorvete e refrigerante na lojinha de conveniência e Tony Boy ficava de pau duro. Quando tinha uma folga, pegava umas revistas de travesti e se masturbava nos fundos da loja. Certa vez ejaculou num sorvete e guardou de novo no freezer. Aquele sorvete ficou ali até que ele teve a chance de vender pra ela.

A menina gostava de videogame. Fanática por joguinhos, brincava com os amigos quase todo dia. Tony Boy sabia disso, afinal vasculhava a página dela na rede social. Sabia tudo dela. Convenceu o patrão a vender joguinhos de videogame na lojinha, para atrair a molecada, dizia.

Ele reformou a casa. Morava sozinho, nos fundos de uma outra casa, que pertencia à um casal de idosos. A casa da frente estava vazia, ele não tinha dinheiro pra alugá-la. Mas a dos fundos era boa, tinha quatro cômodos. Uma sala, uma cozinha, um quarto e um banheiro. Pois ele pegou uns sacos de cimento e tijolos velhos e fez um novo cômodo, entre o quarto e a sala, mas fez de um jeito que não dava pra perceber que o cômodo existia – pegou um pouco do quarto e um pouco da sala. Ficou apertado, a única entrada era uma portinha que ficava atrás do sofá. Um quarto secreto.

- Chegaram novos jogos, hoje? – perguntou a garota quando entrou na loja.

- Você vai me perguntar isso todo dia, Melissa? – disse Tony Boy, sorrindo. Ela usava uma saia que deixava metade das coxas à mostra. Umas coxas jamais tocadas por outro homem, de pele cheirosa, com pelinhos clarinhos.

- Você disse que ia chegar hoje à tarde. Chegaram?

- Chegaram sim, respondeu Tony Boy, mas ainda não os coloquei na prateleira. Como você é boa cliente, deixo você ir no escritório e ver antes de todo mundo – a garota deu um pulinho e bateu palmas de felicidade – estão numa caixa em cima da cadeira.

Ela entrou e tudo aconteceu tão rápido. Tony fechou a porta da loja, no cartaz se lia “volto em 20 minutos”. No escritório a garota olhava uma caixa e um pano embebido em éter foi colocado sobre seu rosto. O éter não é tão potente. Ela se debateu e o pano saiu do rosto o suficiente para descobrir a boca. Ela gritou. Não foi por socorro, não foi o nome de ninguém. Ela gritou um “ah”, que saiu meio pra dentro. Talvez estivesse só tomando ar. Ou assustada, tentando entender a situação. Tony Boy jogou o peso do seu corpo sobre a garota e ambos caíram no chão. Ele bateu a cabeça dela no piso umas três vezes, mas não muito forte. Ele não queria matá-la.

O coração de Tony Boy estava tão disparado que ele achou que poderia ter um ataque cardíaco. Pensou em tomar uma água e se acalmar. E enquanto pensava essas coisas, mecanicamente foi amarrando as mãos da menina, seus pés e depois colocou uma mordaça na boca dela. Guardou-a dentro de uma mala de viagem (cabia certinho) nos fundos da loja. Naquele dia, ele saiu da loja só depois da meia noite, arrastando a mala. Foi pra casa à pé, demorou umas quatro horas. Durante o trajeto solitário e silencioso, ele ouvia um rosnar agudo vindo de dentro da mala, talvez um choro ou uma tentativa de grito, ou ambos. Ele ouviu também batidas, mas nada fez. A mala tinha rodinhas.

Era uma mala cinza, de boa qualidade. Devia ser a coisa mais cara naquela casa. Estava no meio da sala, imóvel e Tony olhava para ela. Havia tomado banho, estava ainda cansado, mas com uma euforia inexplicável dentro de si. Agora, no silêncio da madrugada, podia ouvir algo arranhar dentro da mala, depois parava. Depois fazia mais um som semelhante à um arranhão, depois parava de novo. Ela estava ali, era dele. Ela era dele. A simples visão da mala deixava Tony excitado e ele se masturbou ali mesmo, pertinho da mala, imaginando o que ela poderia ouvir do lado de dentro.

No outro dia Tony foi trabalhar e ouviu sobre a menina desaparecida, a polícia tinha estado na escola fazendo perguntas. Mas eles jamais foram à loja de conveniências. De noite, ao retornar à sua casinha, ele arrastou a mala para seu quartinho secreto e abriu. Ela estava lá, tinha acabado de acordar com o movimento da mala. A maquiagem estava seca e borrada, longos traços pretos desciam irregulares por sua bochecha. Suas roupas estavam amarrotadas. Ele ergueu a cabeça dela e jogou água na mordaça, que foi prontamente aceita pela garota. No quartinho secreto, ele colocara correntes nas paredes. Tirou ela da mala e amarrou suas mãos na corrente da parede oposta. Ela soluçava quando ele tirou a mordaça. A menina abriu a boca e sua face se contorceu num espasmo como de dor, parecia uma careta, mas não saiu som algum de seu choro silencioso. Os soluços vieram logo depois, seu corpo todo acompanhava. Com uma tesoura, Tony cortou suas roupas. Logo o choro foi tomando sonoridade e a voz voltou à garota.

Ela chorava alto, um choro que parecia um berro de cabra, como se somente houvesse uma vogal no mundo. Nem em seus sonhos mais insanos ela imaginara que algo assim pudesse acontecer a ela. Justo ela. Parecia que as lágrimas não iriam parar de cair jamais. Ela pensou em seu pai e sua mãe, como eles estariam agora?, estariam procurando por ela?, claro que sim, mas jamais a encontrariam, ela era agora prisioneira de um sádico ou algo assim. Como ela pôde ser tão estúpida, tão ingênua, tão idiota?, mas esses pensamentos não importavam agora. Ela precisava dar um jeito de sair dali. E ela iria escapar e iria matar esse homem. Ela jurou.

- Você é minha, Melissa Batista. Você será sempre minha. Minha esposa.

Dito isso, Tony Boy ficou nu e penetrou Melissa. Sua virgindade escorria vermelha viva pelo chão sujo de terra e o fedor de suor e sêmen daquele homem invadiam suas narinas. A dor era insuportável.