No Escuro

Rachel vivia em uma vizinhança bem tranquila, na época em que se mudou para lá tinha apenas sete anos de idade, era bem tímida e um tanto isolada, pois não tinha muitos amigos devido a maneira super protetora que seus pais a cuidavam, ainda mais depois do que aconteceu ao irmão mais velho. Certo dia ela voltava da escola e encontrou uns garotos mais velhos que barraram sua passagem e diziam: “Olha só o que o vento nos trouxe...” a garota indefesa lhes pediu para que a deixassem em paz porque não tinha nada que lhes pudesse entregar após terminar a frase os garotos entre-olharam-se e lhes negaram o pedido, um dos garotos olhou-a de cima a baixo e então disse: “bom podemos então começar com esse belo par de sapatos...” ele a empurrou e em seguida tomou-lhe os sapatos.

Ao chegar em casa sua mãe notou a ausência dos sapatos e lhe deu uma bronca e em seguida mandando-a direto para o quarto para que pudesse refletir sobre a importância de dar valor as coisas que possui. Seu quarto era no local menos iluminado da casa e ela sempre demonstrou certa fobia de locais escuros. A garota abriu a porta de seu quarto e lá adentrou, deitou em sua cama chorando e lá permaneceu inerte durante horas, sua mãe ao estranhar tal silencio subiu para verificar o que sua filha estava fazendo, lá notou que ela dormia agarrada a uma imagem de seu irmão mais velho. Assim que notou que sua filha lhe parecera um tanto deprimida suspendeu o castigo e ordenou-a a descer, pois o jantar ficaria pronto em alguns minutos. Enquanto desciam as escadas sua mãe combinou de não dizer nada a seu pai.

O dia se acabara e todos na casa se aprontavam para dormir, Rachel pediu a sua mãe que deixasse a luz do corredor acesa, a mãe ao sair do quarto dirigiu-se ao quarto ao lado e atendendo o pedido de sua filha, entrou em seu quarto onde seu marido já repousava e em seguida a luz se apagou. A noite seria longa por causa do termino do horário de verão, naquela noite começou a chover bastante, em meio aos trovões e aos clarões dos relâmpagos que clareavam os céus e faziam muito barulho, Rachel estava acordava embaixo de seus cobertores rezando para que acabasse logo, pois odiava ver as luzes dos corredores piscando, repentinamente um grande estrondo foi ouvido e as luzes se apagaram de vez, não era possível para ela saber onde começava ou terminava o corredor em meio à escuridão e de dentro do escuro ouvia-se um som, um ruído, algo parecido com uma voz que sussurrava “não é justo, não é justo, não é justo...” e a frase repetia-se até chegar a um tom mais alto e apavorante, Rachel escondeu-se novamente embaixo dos cobertores e desta vez estava chorando também até que notou que estava tudo silencioso novamente, ela tirou parte de sua cabeça para fora dos cobertores, olhava para o corredor e desta vez podia ver o fim dele, os quartos ao lado, decidiu levantar-se e ir até o quarto de seus pais, arremessou os cobertores para o lado, tateou o chão com os pés para encontrar seus chinelos e em seguida levantou-se e foi em direção da porta, ao sair de seu quarto notou uma atmosfera estranha, ouvia novamente diversos ruídos de dentro da casa, a pia pingando, o som fúnebre do vento ao bater nas janelas fechadas, tudo era um convite para um medo inexplicável que tomava conta dela fazendo-a imaginar coisas impossíveis dentro do escuro, o corredor novamente não era mais visível, não sabia onde estava, e se estava dentro de sua casa, sentia a sensação de algo a observava e bem de perto, como se pudesse sentir bem atrás dela, em seguida sentiu algo tocar em seu ombro, tomou um tremendo susto e caiu para trás levando o rosto para o meio das pernas chorando bastante.

Neste instante algo a abraçou e lhe disse está tudo bem, está tudo bem... É só o escuro, não precisa ter medo. – dizia seu pai. Ao tirar a cabeça entre as pernas e levantá-la em direção ao seu pai, notou algo de estranho, seu pai tinha um rosto deformado, derretido quase cadavérico, tomou um susto tão grande que a fez soluçar e começou a se debater entre os braços daquele que a minutos parecia ser seu pai, ela gritava e esperneava dizendo “me solta, me solta, me solta... Eu não quero ir, estou com medo...”, instintivamente fechou seus olhos e enquanto gritava e chorava, ainda sentia os braços em volta dela e viu novamente seu pai, o homem a ergueu levando-a para o quarto, onde a colocou perto de sua mãe e em seguida deitou na sua frente deixando-a entre ele e a mãe. E em segurança se sentiu ao notar que já estava com seus pais, os pesadelos reais que criava cessaram e Rachel pode dormir tranquilamente pelo resto da noite chuvosa.

Nando Soares
Enviado por Nando Soares em 08/11/2014
Código do texto: T5028039
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