MEU ANJO

Sob o véu da escuridão , Manuela caminhava a passos largos e apressados. Acabara de sair do trabalho, e agora se sentia como um filhote vagando na floresta,cercada por lobos famintos. A diferença era que a floresta era de concreto, os lobos eram criminosos que poderiam surgir a qualquer momento, e o filhote era e. la. Uma tola que, desesperada, aceitou o primeiro emprego que apareceu.

Alguns quarteirões e lá estava o primeiro lobo, a uns cem metros de distância , encostado num poste fumando sabe-se lá o que. Manuela mudou seu trajeto, e virou a esquerda ao invés de seguir adiante. Queria se distanciar ao máximo do cara, então pôs-se a correr.

A essa altura ela já sentia a familiar onda de calor a envolver, algo que sempre julgou ser proveniente da presença de seu falecido pai, mas seria mais reconfortante se pudesse vê-lo, e ele pudesse ajudá-la.

Assustada e ainda correndo, ouviu alto e claro:

" Vire à direita "

Se fizesse isso estaria se distanciando de seu trajeto. Sem pensar duas vezes, ela virou, confiando em seu instinto, estava inconscientemente abandonando seu lado racional. E aquela, sem dúvida alguma , não era a voz de seu pai.

O marginal viu quando ela virou a esquina no último instante e a seguiu. Na cabeça da infeliz garota rodavam flashes com o desfecho daquela situação tensa e desesperadora, e terminaria com seu sangue a escorrer de seu corpo sem vida, na calçada de uma rua qualquer, de uma cidade que ela sequer gostava.

" Foco, não pare de correr ". Manuela estava perdendo o fôlego, suas pernas vacilavam.

Ela podia ouvir os passos atrás de si, estava desesperada e aflita.

"Continue correndo "

Por um breve momento pensou na estranheza da situação, aquela voz não estava sendo capturada por seus ouvidos, ela estava na sua cabeça. Mas o medo que sentia calava toda e qualquer ou pensamento, exceto o de sobreviver.

Um grito de socorro escapou de seus lábios.

Sempre focada nos estudos, em busca de uma vida estável, poucas vezes havia praticado esportes.

Ninguém podia culpá-la. Aos treze anos, ela e sua família sofreram um acidente na serra paulista ,seus pais faleceram na hora, ela e seu irmão, Miguel, de um ano e meio ficaram hospitalizados por alguns dias. Sem parente vivos, foram parar num orfanato. Miguel foi adotado meses depois.

Lágrimas escorriam , deslizando por seu rosto delicado. No dia em que saiu do orfanato, sentindo a insegurança crescer,se agarrou ao pensamento de que ela já havia cumprido sua cota de sofrimento nesta vida.

Fisica é emocionalmente cansada,Manuela parou de correr, dobrou-se sobre os joelhos, entorpecida, rezou por sua vida. De olhos fechados, respiração ofegante, ela podia ouvir o marginal ainda correndo. Em poucos segundos ele chegaria até ela.

Então, a poucos metros atrás de si ouviu o som inconfundível de uma cabeça bater contra algo sólido. Ela se virou e viu um outro homem pressionando a cabeça de seu perseguidor contra o chão.

Ele cuspiu um tingimento e recebeu uma sequência de socos, e chutes.

Mas para aquele estranho não foi suficiente. Ele o colocou em pé e o socou mais e com tanta vontade que até se espantou com a violência em si. Aquela latitude não fazia parece de sua natureza. Em outros casos teria apenas lhe dado um sacode , ou simplesmente alguns golpes bastariam. Mas aquela mente era tão imunda, pervertida e má, que ele não resistiu a um corretivo bem aplicado. Manuela ficou ali, olhando enquanto recuperava o fôlego.

O homem olhou em sua direção. Ela lhe deu as costas com a intenção de contornar o quarteirão e retomar seu caminho para a república.

Dez passos.

Um grito.

Cinco segungos, e o cara de moletom azul marinho estava ao seu lado.

Ainda mais assustada e desesperada, puxou sua bolsas e disse que havia uma faca a qual não hesitaria em usar.

Ela o encarava apavorada, se perguntando até quando aquela madrugada se arrastaria, e como terminaria.

Foi então quando sentiu a serenidade acompanhada da familiar onda de calor.

" Fique calma, não vou te fazer mal ".

Aquela era a mesma voz que ouvirá minutos atrás, mas dessa vez ele falava com sua própria boca

"Me chamo Nathan"

Manuela baixou a guarda.

Com os ombros caídos sentou-se na sarjeta, e abraçando as pernas se entregou as lágrimas, aliviada.

Seus pais eram religiosos, superticiosos e a mãe uma ótima contadora de histórias, talvez por isso ela não tenha questionado a capacidade telepática daquele homem, uns oito anos mais velho.

Aquele estranho tão familiar, sentou ao seu lado, e a abraçou, tentando lhe reconfortar .

Retomando o controle de suas emoções, Manuela quis saber sobre sua salvador.

"Quem é você ?"

" Exatamente o que você imagina, só não sou seu pai "

Dayane Calixto
Enviado por Dayane Calixto em 04/01/2015
Código do texto: T5090534
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