Reflexão do Juiz

Orlandinho foi capturado, muito trabalho pra achar este menino de 9 anos que fugia, fugia, onde quer que estivesse, abrigos, lares provisórios, todos estes lugares ele havia passado. A rebeldia era o seu forte, os adjetivos a ele atribuídos eram vastos:

-- menino danado, capetinha em forma de gente, e por aí se ia...

Seu histórico era de dar pavor, triste, emocionante para algumas pessoas conferindo este viver, algumas lágrimas não deixariam de cair. Filho sem pai e o pior, filho também sem mãe. Tua genitora em vida o abandonou, as drogas parecia que retirou o sentimento lindo do amor que ela como mãe deveria dedicar no viver do filho, o resultado foi eminente, ela morre de overdose. Então pela lógica, Orlandinho não poderia ser nenhum São Francisquinho de Assis.

Ali no abrigo “preso” novamente, o menino olhava com ar de poucos amigos aqueles que o trouxeram, pensamentos mirabolantes fervilhavam em tua mente: os meninos, principalmente os maiores judiariam dele, perseguindo a todo instante. Brigaria sempre, novos machucados aturaria outra vez em teu corpo, os castigos seriam iminentes, pois ele sempre levava a pior.

Experiências amargas o garoto de 9 anos ia lembrando.

- quando sem querer esbarrou no menino mais valentão, tomou a maior surra, ainda por cima foi acusado de ter provocado a confusão.

- quando junto com outros garotos tentaram roubar doces no refeitório, na proeza derrubaram várias vasilhas, quebrando todas aquelas que não podiam cair. Como sempre Orlandinho por ter sido o líder, levou a pior: várias noites sozinho num quarto sem iluminação, se alimentando de pão e água.

- Orlandinho desesperado conseguiu por o pé na estrada, fugiu daquele abrigo para ele prisão, inferno, porque ali ele só viu horrores, sentiu medo, desejava simplesmente morrer. A decepção nas ruas também foram imensas, dois dias conseguir vagar por caminhos incertos, até que foi pego novamente.

Decepções por decepções estava novamente ali “aprisionado” naquela imensa sala com diversas pessoas. O menino rebelde, dentro de alguns meses completaria 10 anos, conversava com ele mesmo nos seus pensamentos:

-- Então, Jesus, não me destes pais, só permitindo pessoas más no meu caminho, você não tens poder para tudo? Não foi menino igual a mim? Ouvi falar muito de você, se for mesmo verdade a sua força sobre tudo, me tire daqui, se for possível me deixe morrer já que é tão horrível viver!

Naquela sala entre as pessoas estavam um casal disposto a ter a guarda e responsabilidade de Orlandinho. As mãos se estenderam para o menino, de mãos dadas foram para a nova casa. O menino não sabia se sentia alegria ou novamente indiferença, mas no seu entender embora de criança, nada poderia ser pior do que já tinha passado. Novamente brotam perguntas na tua mente:

-- Mas já, meu Jesus, foi rápido sua providência me dando novos pais, porque agora eles serão meus pais, não é?

Os anos se passaram... o Meritíssimo Juiz Dr. Orlando termina tua reflexão. Era ele o menino desta história. Ele chorava! Nossa, se alguém visse! O famoso Juiz de Direito chorar...

Só que o choro não foi só por causa das tristezas imensas quando menino, a emoção foi também porque recebeu o intenso amor dos seus novos pais, foi uma dádiva, ele continuava lembrando e dizendo para ele mesmo o amor é o sentimento mais importante deste mundo, é capaz de fazer milagres, porque eu seria mais uma fera monstruosa, espalhando só horrores neste mundo já tão problemático.

Naquele instante ele escuta:

-- Dr. Dr. As pessoas da audiência podem entrar?

Ele mal tem tempo de se recompor, enxugar as lágrimas que eram muitas e fala:

-- sim, podem entrar...