PRÓLOGO

Estou pensando em escrever um livro. Abaixo segue um prólogo, quem gostar é só comentar, pretendo continuar nessa empreitada.

Eu era uma minúscula figura no meio daquelas pessoas, magra, cansada e abatida. Os últimos dias não tinham sido legais, minha vida emocional estava fragilizada e profissionalmente eu também não ia bem. Estava na festa por pura ironia do destino, um talvez que virou um sim, sem querer marquei o compromisso de ir. Claro que haveria pessoas legais e interessantes, no caso, eu não era uma delas. Daria tudo por um bom vinho e um filme em casa, dormir e descansar.

Talvez pegasse algum livro, era uma maneira fácil de me esquecer do mundo. Mas estava ali, naquela frenética festa, com mulheres bonitas e homens descolados. Nem um nem outro me interessavam. Homens populares nunca fizeram meu tipo. Em dias remotos, eu poderia ser uma daquelas garotas bonitas, vazias, sem nada demais para oferecer. Mas nunca somos isso, somos mais do que a casca, vestimos uma fantasia para se apresentar ao mundo, é a nossa redoma. Beijamos, dançamos e rimos, fazemos cara de quem não se preocupa com o dia seguinte, a ressaca seguinte. Porém, só nós sabemos o que nos espera quando a manhã chegar, as dores que teremos que suportar e a realidade, em que não somos mais bonitas, vazias. Uma realidade em que somos cheias até a tampa de mistérios, segredos e confusões.

Os beijos dados nessas noites apagadas, nomes que talvez muitos não se lembrariam, rostos que seriam facilmente esquecidos. Poderia nascer até um romance ali, poderia, mas ninguém estava nessa procura. Tentei não ficar de porre, se não estaria acabada. Era capaz de dançar macarena em cima da mesa só de sutiã e calcinha, já foi a minha época de bebedeiras homéricas e gafes espetaculares. Cansei-me, não pela idade, não pela vergonha. Mas somente porque eu havia mudado. Alguns amigos meus circulavam pela festa, me chamavam para dançar, minha cara e bruta sinceridade não me deixavam ir. Realmente seria mais fácil encher a cara, e ficar alegremente infeliz, sorrindo e cantando. Era só eu e um divã, deixado ali só para enfeite. Essa era a hora que algum homem misterioso chegaria, me convidaria para um drink, uma dança, uma conversa. Teríamos uma enigmática conversa clichê, cheia de mistérios, olhares e pitadas de provocações. Ele seria gentil, trocaríamos telefone. E para dar suspense no caso, ele reapareceria uma semana depois e viveríamos um belo romance. Mas nenhum homem chegou, nem misterioso, nem charmoso, nem bonito e nem feio. Nenhum, nem um barrigudinho ou careca. Minha cara deveria estar péssima mesmo. De poucos amigos. A música continuava, eu sentada, meus amigos já não insistiam mais, estavam bêbados demais. Era quase duas horas da manhã. Minha cara de quem não gostava já estava se tornando a cara de alguém que queria fugir dali. Decidi ir embora, sem estar de porre, sem ter dançado, sem beijar alguém. Ir para casa sozinha, deitar na cama e ver se pelo menos essa noite eu dormiria até o amanhecer. Não estava afim de levar a insônia para deitar-se comigo.

Chamei por um táxi, enquanto esperava avisei aos meus amigos que iria embora. Sem muita cerimõnia, e sem aberturas para um “Oh! Mas já vai, fique mais um pouco”. Não estava nem um pouco interessada no que poderiam me dizer. Sim. Estava chata e tediosa. O táxi finalmente chegou, e fui embora. Aquele misto de vazio e futilidade me enchiam, eu não tinha participado da festa, mas havia estado lá. Aquelas risadas escancaradas, elogios trocados, a bebida, o cigarro. Eu não estava afim de fazer parte desse sistema. Não hoje. Muitos até sinceramente poderiam viver felizes dessa forma. Mas eu não estou entre esses. Meu apartamento esperava por mim, só, frio e cruel. Meu cachorro havia morrido há 5 meses, era um companheiro formidável. Estavamos juntos havia 12 anos, era um vira-lata de pelo branco e liso, ollhos pretos e um jeito doce que só esses animais possuem. Sempre que eu chegava em casa, ele pulava no sofá e latia para mim até eu me sentar e acariciar sua orelha. Quantas vezes ri e chorei com ele em meu colo. Mas a morte vem pra todos, e assim a velhice também. Morreu tranquilo, levado pelos anos de amizade a mim. Como chorei quando ele se foi, eu o chamava de Duque. Era o que tornava aquele ambiente vivo e alegre. Mas hoje ninguém iria me receber e me esperar alegremente. Pensava em Duque enquanto o táxi me levava para casa. O motorista até tentou puxar assunto e conversar, mas eu queria ficar na minha. Finalmente cheguei e fui para meu ninho. Estava tudo o devido lugar, organizado, limpo, com aquele tom seco e inóspito de uma mulher solteira passando por um momento difícil.

Brunna Cândida
Enviado por Brunna Cândida em 10/03/2015
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