O visitante

Antes de sair para o trabalho já havia reparado a porta do salão de serviços, no fundo da área de lazer da casa, alguns metros após a piscina, estava entre-aberta, quase como se alguém tivesse forçado sua abertura. Não dei importância, afinal tinha mais o que fazer em meu dia, embora jurava ter trancado na manhã do dia anterior.

Sempre chego em casa à noite, por volta das oito horas. Acendo as luzes e então tento relaxar. Saio para o quintal, analiso a piscina e observo calma e delicadamente as estrelas. Tranco a porta do salão de serviços, local onde guardo apenas ferramentas e utilitários antigos. Antes de voltar para dentro de casa, Paro e ouço um sussurro estridente, sarcástico quase que proposital, como de uma criança querendo ser encontrada, tal evento me proporcionou um calafrio instantâneo. Ao recobrar a consciência pensei ter ouvido algo como uma pergunta, talvez até mesmo uma afirmativa. Seria impossível ter alguém ali, afinal moro sozinho na casa, deve ser apenas minha mente sugestiva e abalada pelo cansaço , pensei. Entrei e certifiquei-me de trancar todas as portas.

O episódio me causara certa aflição, porém logo tratei de ignorar e distrair a mente deitado no sofá e assistindo a programação local. Não demorou para que eu caísse no sono. Acordei por volta das três da manhã, pensei ter ouvido um barulho. Desliguei a televisão, andei pela casa. Tomei um copo de água e passei o olho no quintal. Antes não tivesse o feito, olhei para o salão de serviço e a porta estava destrancada e aberta. Uma ânsia de desespero tomou meu corpo, arrepiei instantaneamente, deixei o jarro de vidro cair no chão. Alguns estilhaços do vidro caíram em meu pé, rasgando parte do mesmo, que jorrava uma pequena quantia de sangue no chão, se misturando a água formando uma extensa poça. A dor em meu pé não me incomodara, afinal em minha mente apenas não conseguia acreditar na cena da porta aberta. Em choque, pensei ter ouvido algo como passos, seguido de um sorriso, quase que gozando de sua liberdade.

Tentei me mover para ver se tinha alguém na casa, porém novamente ouvi uma voz estridente, suave e maligna. Olhei para a porta de vidro, iluminada apenas pela lua e estrelas, tentando achar um reflexo, pois não iria ter coragem de presenciar o que de fato estava a ocorrer.

Tive a certeza de que era uma criança quando esta cutucou minha perna, quase que tentando me arrastar ou empurrar, não era algo ocasional ou uma piada de mal gosto, afinal não ouvi a criança pisar na poça que se formará de água e sangue. Suas mãos frias, podia sentir suas intenções maquiavélicas enquanto suspirava friamente, quer brincar ?

Matheus Schurlle
Enviado por Matheus Schurlle em 12/04/2015
Reeditado em 12/04/2015
Código do texto: T5204808
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