O VELÓRIO
O cenário era um vale no pé da serra. Uma casa de madeira. Na frente um jardim com flores diversas e um terreiro grande de onde vi o carro de bois serpenteando a serra e um homem sob uma capa de chuva. Alguém chorava na porta da casa.
Desceram um corpo esquálido, empapado da chuva e pousaram num banco de madeira. Uma mulher acudiu que levassem no quarto. Pediu uma bacia com água, um pano, o vestido de flores bordadas.
Voltou no ataúde e foi posto sobre o banco de madeira. Entrelaçaram o terço nos dedos e cobriram ate o busto o corpo com flores orvalhadas. Vestiram no pescoço a medalha do apostolado com a fita vermelha. Na cabeça o lenço deixava na testa a mostra um pouco do cabelo, como a textura do algodão que tapava as narinas. Dois nós no pano amarrado debaixo do queixo forçava a boca que teimava em abrir, como ainda quisesse pronunciar a despedida. Dois vasos de crisântemo sob o caixão. Seguiam as rezas e os cantos. A chuva intensificava.
O corpo trazia uma aparência tumefacta, os botões da veste rebentavam por baixo das flores secas. Os presentes dispersavam. As conversas cambavam para pilhérias e o meu sonho se exauriu.