FOGO-FÁTUO
Havia mais de cinco anos que ele não comia nada só bebia. Eram dois litros durante o dia e um à noite. O litro dormia ao lado da cama. As seis da manhã acordava e entornava num gole o que sobrava no litro da noite – ao menos use o copo - protestava a mulher, era o seu café da manhã. De joelhos fazia a oração matinal. Calçava as botas e punha o chapéu. Apanhava as ferramentas, a bebida e partia pro seu trabalho de subsistência.
A pele era vermelha com algumas rachaduras purulentas. O ventre sobressalente, como de criança desnutrida com verme.
Ao meio dia, como um ritual, que se repetia as seis da tarde, a comida era posta na mesa. Adentrava a cozinha e pregava um violento chute debaixo da mesa. A comida espalhava por todos os cantos. Ligava o rádio de pilha e deitava no chão da varanda.
Aquele dia se mostrou atípico, o sol era abrasador. Da terra levantava um vapor como a fumaça de um fogo recém-apagado. Às três da tarde parou o serviço, apanhou o chapéu e abanou o rosto. Alcançou do litro e bebeu longos dois goles daquele liquido amornado. Pegou um cigarro no bolso da camisa pôs entre os lábios e acendeu. Tornou-se um fogo-fátuo.