Anjo da Morte

Amauri regressava para sua casa com grande dificuldade, uma parte era conseqüência da bebedeira na taberna e das confusões que ele arrumara naquela noite, já a outra parte, aquela que continha o real motivo de sua dor e que o levou a passar suas noites com bebidas, prostitutas e brigas, encontrava-se cravada em sua memória. O seu passado exercia uma pressão cada vez maior sobre seus ombros, ficava cada vez mais difícil carregar aquelas lembranças.

Enquanto caminhava pela floresta em direção a sua casa a embriaguez ia ficando mais branda Amauri começou a se questionar o porquê de estar sentindo seus pecados somente agora, conseguiu viver por anos sem que seu passado o afetasse daquela maneira alterando sua percepção do que é real.

O tormento começou recentemente, primeiro vieram os sonhos que traziam a tona não apenas as imagens antigas, mas os sentimentos de dor e angustia de suas vítimas, depois veio à sensação de estar sendo observado pela morte, as sombras começavam a ganhar movimentos, assim como as árvores e os olhos dos animais, permanecer sóbrio se tornou um martírio, a bebida trazia um álibi para suas ilusões e as surras que sempre levava a noite se mostravam uma maneira de se punir e tentar aliviar a dor que tanto o perturbava.

Amauri parou estático já estava praticamente sóbrio e as sombras começavam a ganhar vida novamente, sussurros vagueavam entre as árvores e um vento forte começou a percorrer a floresta, a lua foi rapidamente escondida por nuvens grossas tornando a noite ainda mais escura. Galhos secos sendo quebrados cada vez mais perto de suas costas, um ar quente e uma respiração profunda foi sentida em sua nuca. Amauri virou assustado e não enxergou nada além da escuridão, ao olhar para o lado notou uma sombra estranha entre os galhos de uma árvore, a sombra possuía olhos vermelhos olhando diretamente para sua alma. O peso de seus pecados tornou-se mais pesado do que nunca, Amauri não conseguiu ficar de pé e caiu de joelhos com os olhos cheios de lágrimas e começou a gritar por perdão.

Relâmpagos cruzaram o céu e uma forte chuva começou a cair, Amauri fechou os olhos e teve uma estranha sensação de alívio como há tempos não sentia, ao abrir os olhos novamente descobriu que esta sensação foi a última experiência de paz que seu espírito teve nessa vida ou em qualquer outro lugar que fosse estar dentro de poucos minutos. A sombra que antes balançava entre as árvores estava na sua frente.

- Então é você meu anjo da morte e carrasco, nada mais justo – disse Amauri enquanto sentia seu espírito abandonar seu o corpo em direção ao sofrimento eterno.

Alex da Silva
Enviado por Alex da Silva em 30/06/2015
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