O ARTISTA

Aquela noite havia sido muito proveitosa, o artista fizera três clientes felizes. Ele era um artista mambembe, que percorria as cidades de todo o país com o propósito de distrair as famílias nas tediosas noites de inverno. Naquela noite haviam sido três famílias. Na anterior, quatro. O país inteiro estava em busca desse mestre do entretenimento, que deixava sua marca eternamente na vida de seu público.

Seu show era simples. Ele chegava, com seus trejeitos de rapaz atrapalhado, que esbarrava em tudo. Tropeçava. Corado de vergonha, pedia desculpas à dona da casa. Pegava seu guarda-chuva e fazia mil malabarismos. Parecia que o objeto se transformava em vários outros. Isso arrancava sorrisos de cada membro da família. Sorrisos enormes...

A única coisa que o artista achava estranho era o silêncio ao fim da apresentação. Ele era um artista espetacular, talvez seu público ficasse sem palavras. Não exigia pagamento, pois o sorriso no rosto de sua plateia era a melhor retribuição que poderia ter. Agradecia a atenção com uma reverência e saía com aquele andar atrapalhado, pois nunca saía do personagem.

Agora saía da cidade. Não ficava mais de uma noite. Tinha que levar seu show a mais lugares e satisfazer seus desejos de ver um grande sorriso estampado em cada face. Porém antes de continuar, precisava lavar seu guarda-chuva. Ele nunca entendeu o porquê dele acabar imundo após suas apresentações. Encontrou uma fonte. Mergulhou o guarda-chuva nela. Retirou-o. Torceu o cabo, destravando-o e retirando dali uma afiada lâmina. Nesse momento, um homem se aproximou e ficou paralisado olhando o artista e sua lâmina ainda vermelha.

“Oh! Outro espectador!” – pensou o homem do guarda-chuva. “Esse rosto está muito fechado. Um grande sorriso precisa ser aberto nele!”

Túlio Lima Botelho
Enviado por Túlio Lima Botelho em 09/07/2015
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