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A SACADA = EC

 
UM PROBLEMA DE CONSCIÊNCIA


   Yeda mudara-se a pouco tempo para aquele apartamento, 
  
   Era um apartamento pequeno em um condomínio modesto com vários prédios construídos muito perto uns dos outros.

 
  Havia uma  sacada que   tomava  quase todo o lado da casa e a grande porta da sala, bem defronte  permitia que ela visse todo o interior da casa vizinha e a sua também não tinha a menor privacidade a menos que fechasse a porta e tirasse parte da ventilação e da luz

   Incomodava mais a Yeda, no entanto, devassar a privacidade da vizinha do que saber que a mesma podia ver tudo que se passava em sua casa.

 
   Ela e o marido eram discretos, não faziam  nada que aguçasse a curiosidade alheia.

   
   Já os vizinhos, um casal com dois filhos pequenos, eram barulhentos, as crianças inquietas e o casal brigava muito.

 
   Yeda, nas horas de folga gostava de estirar-se na cadeira preguiçosa que colocara na sacada para ler ou descansar e, quisesse ou não, estava sempre vendo tudo que se passava na outra casa.

 
   E naquela tarde aconteceu uma coisa terrível. Ela viu quando o menino subiu  na grade da sacada e começou a fazer malabarismos como se estivesse num parque de diversões. 

 
   Ficou desesperada sem saber o que fazer. A altura do 15º andar assustava e ela queria fazer alguma coisa, avisar a mãe, mas não sabia como. Ficou paralisada de medo e horrorizada viu quando o garoto escorregou e caiu.

 
   Entrou chorando, desesperada, culpando-se por ter visto a criança em perigo e não ter feito nada para evitar o acidente, mas, como? Fazer o que?

 
   Nos dias que se seguiram a televisão e os jornais publicaram a noticia e então ela ficou sabendo que o menino era filho do primeiro casamento do marido e a menina menor era filha da mulher e que o pai declarou que quando seu filho brigava com a filha dela a mulher ameaçava de jogar o garoto lá embaixo. Disse que muitas vezes teve que contê-la mas desta vez não tinha conseguido.

  
   Yeda sentiu um choque ao ouvir isso. Ela viu que não foi assim. O menino estava só na hora do acidente. A mulher talvez tenha sido descuidada mas ela viu perfeitamente o menino subir na grade e cair.

 
   Que fazer? Deixar que a mulher fosse condenada injustamente? Ir a Delegacia e acusar o homem que ela nem conhecida de estar mentindo, pior do que isso, caluniando a esposa? E ela mesmo, como provar o que viu? Como explicar o fato de ter visto tudo e não ter procurado fazer nada para impedir?


   Certamente isso ia lhe acarretar muita amolação e acabou não fazendo nada. Acompanhou o caso com a maior apreensão, mas, a mulher conseguiu um bom advogado e acabou sendo absolvida por falta de provas.
 
E Yeda nunca mais foi refestelar-se na sacada. Fechou a porta e ficou confinada no sua salinha escura e abafada, mas que a livrava de intrometer-se na vida dos vizinhos.

 
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Este texto faz parte do Exercício Criativo 
A Sacada
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Maith
Enviado por Maith em 24/08/2015
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