O Doutor Lóris

Lóris chegou cansado, cabisbaixo, com ar decepcionado. Até a cadelinha Lana, acostumada a fazer festa com a sua chegada, foi deitar-se embaixo da mesa de um jeito todo esquisito, rabinho baixo, com a cara tristonha entre as patinhas jogadas para frente. Ali, a cadelinha ficou quieta, sem se mexer por um bom tempo. Lóris, 36 anos, sempre falante e alegre, mostrava-se agora um ser solitário, estático, emudecido, sem nenhum brilho nos olhos.

O que teria acontecido àquele médico do melhor hospital da cidade? Ele saiu tão bem disposto na manhã daquele dia... por que agora, ao cair da tarde, ele voltava para casa tão moribundo?

Cada um dos membros da família foi chegando em casa - esposa, filhos - uns voltando da escola, outros do trabalho - e, quando se deparava com Lóris, ficava tentando entender a razão daquele ar de piedade. As horas passaram rapidamente, todos da casa foram dormir, menos Lóris, que ficou na janela, fumando, olhando para o céu, admirando as estrelas, suspirando, balbuciando algumas palavras. Mas, que palavras seriam essas?

No dia seguinte, o médico saiu de casa bem mais cedo do que de costume. Foi direto para o hospital. O bem sucedido cirurgião plástico teria alguém para atender logo nas primeiras horas da manhã? E quem seria essa pessoa? Será que esse atendimento teria alguma relação com o ar melancólico apresentado por ele no dia anterior?

Perguntas.. perguntas... perguntas... nenhuma resposta. Tudo na estaca zero. E Lóris continuava com seu jeitão. Dias e dias se passaram. Horas intermináveis de tristeza, de ares de dor. Dor na alma. Dor no inconsciente... assim... coisas absurdas. Não parecia o Lóris de antes: alegre, festeiro, um homem admirável.

Depois de um mês, o médico saiu de casa para trabalhar e nunca mais voltou. Já se passaram dois anos, e a família ainda procura por ele. O que teria acontecido? Foi seqüestrado? Morto? Fugiu definitivamente de casa? Mudou a identidade? O que aconteceu?

Única pista encontrada pela polícia para a elucidação do caso foi uma carta, que estava caída do lado de trás da última gaveta da escrivaninha (talvez tenha caído por causa do excesso de papéis existentes lá). No envelope não havia o nome do remetente e no papel da carta também não havia assinatura. A correspondência falava de coisas do cotidiano, de coisas até muito banais, mas uma frase chamou a atenção dos policiais: "Por que não dizer, por que não divulgar aquilo que aos outros não parece óbvio?"

Será que esse caso algum dia será elucidado?

Será um caso difícil?

Gláucia Ribeiro (23.06.07)