Frio

Numa pequena cidade ao sul do Canadá morava uma alegre e agitada garota, Melanie. Com apenas 12 anos de idade e seus longos e lisos cabelos negros adorava correr e brincar pelos arredores da área pertencente à familia, próxima a uma densa floresta.

O inverno de janeiro castigava a região, que àquela altura estava totalmente coberta pela agressiva neve. A garota insistia em sair de casa para fazer bonecos de neve, esquiar e andar sem rumo definido. Sua mãe, Dora, não mais aguentava ordenar que Melanie entrasse e se aquietasse, pois a menina era obstinada e fazia o que bem quisesse.

Aquela manhã parecia diferente. Dora acordou com um mau pressentimento, certa angústia incômoda. Talvez fosse pelas notícias que chegavam ao seu conhecimento, de que algumas pessoas estavam desaparecendo na região, e não se sabia como nem o porquê. Essa situação a deixava muito alerta. Poderia ser um serial killer, ou sabe-se lá o quê. Não deixaria mais a filha sair para brincar sozinha, afinal, até que tudo fosse esclarecido, o melhor a se fazer era preservar a garota.

Com o comunicado da mãe, Melanie ficou totalmente aborrecida. Como não poderia mais sair sozinha? Isso não estava certo! Logo arrumaria um jeito de sair sem ser vista. Não demorou muito para que a menina tramasse sua pequena fuga naquela tarde. Vestiu suas roupas mais aconchegantes, colocou uma touca verde e botas pretas e em seguida aguardou sua mãe ir para a cozinha preparar o almoço. Após se certificar de que não seria vista, desceu as escadas de fininho, a curtos passos, sem fazer nenhum barulho. Abriu a porta da sala com um cuidado extremo, e a fechou da mesma maneira. Rapidamente já estava adentrando a floresta.

Melanie seguia cantarolante, havia sido bem-sucedida em seu plano. Agora poderia desfrutar da desejada liberdade que tanto apreciava. Ia deixando as marcas de suas pequenas mãos pelas árvores que passava, até que avistou o lago em que costumava frequentar com o pai durante o verão, mas que, nesta época do ano, estava aparentemente congelado.

A garota se desbravou a rondar um buraco formado pelo gelo, quando, de repente, tropeçou e caiu rapidamente dentro da água muito fria.

Ao cair, sua primeira reação foi fechar os olhos, já que o gelo fazia contrair todos os seus músculos, inclusive os que retraíam as frágeis pálpebras. Quando ela abriu seus olhos, não acreditou no que eles haviam fixado. Seu coração parou de bater por um instante com o trágico susto que levara. Ali, no fundo daquele lago congelado, estava o corpo de um homem, com seu olhar azul claro muito vivo, encarando-a, afogado. Olhando mais atentamente, a garota viu outro corpo, aparentemente de um menino.

Desesperada, Melanie agitou seu corpo tentando voltar à superfície, mas de nada adiantava. Seu esforço parecia ser em vão. Cada vez mais sentia o gelo penetrar-lhe cada parte de seu corpo como afiadas facas, fazendo-a ter dificuldade para respirar e se movimentar. Tentava gritar, clamar por socorro, mas palavras não saíam de sua boca. Aos poucos, engolia mais e mais água álgida. A imagem daquelas pessoas afogadas só a deixava mais aterrorizada, ela estava acima de cadáveres!

Logo, não resistiu. Sentiu desfalecer-se pouco a pouco, até dar seu último suspiro.

Natalí Sorrentino
Enviado por Natalí Sorrentino em 02/10/2015
Código do texto: T5402441
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.