Paradoxo

_ Você não faz ideia da saudade que vou sentir da sua porra.

Disse Helena, lambendo os dedos da mão que ainda se encontravam melados após passá-los por entre as coxas. Nua, olhava para o espelho do teto e admirava o corpo robusto, tatuado e ensanguentado. Não mentira sobre a saudade. Apesar de todos os problemas, Edu fodia divinamente e ela sabia que ia ser difícil encontrar outro parceiro como ele, ainda mais numa cidade pequena como aquela que iria. Na mão esquerda, uma tesura de ponta afiada que sempre levava na bolsa. As aulas de anatomia que tivera no curso de enfermagem ajudaram a acertar a carótida com precisão. Foi uma perfuração certeira, do lado direito do pescoço, justamente onde o Edu possuía um sinal de nascença. O alvo perfeito. Cavalgava em cima dele - que já ensaiava gritos de “vou gozar” – quando pegou, ao lado da cama e em cima da banca, a tesoura e o atingiu num só golpe. Girou para aumentar o diâmetro do buraco e puxou para intensificar a hemorragia. Foram três minutos de agonia. Ainda deu tempo de pegar o travesseiro de pena de ganso e colocar sobre seu rosto para adiantar o inevitável. Helena achava o corpo humano algo divino. Como alguém entre a vida e a morte, poderia gozar e satisfazer o seu maior fetiche? Era um momento paradoxal. Isso a excitava. Uma linha tênue entre o fim de uma vida e o começo de uma nova em nove meses.

_ Se for menino eu prometo colocar Eduardo – disse sorrindo, como se ele ainda pudesse entender – se for menina, talvez eu coloque o nome da sua mãe, o que acha?

Calmamente foi até o banheiro e se lavou. Sem pressa, como se nada tivesse acontecido. Vestiu novamente suas roupas, pegou a bolsa e discou nove no telefone de cabeceira.

_ Recepção, pois não.

_ Aqui é do quarto 103 e eu só queria avisar que daqui uns vinte minutos vai chegar outra moça e você encaminha ela pro nosso quarto, okay? - não viria ninguém.

_ Sem problemas, senhora. Vão querer alguma coisa para jantar?

_ Na verdade eu não vou poder ficar mais, você pode pedir um taxi pra mim, por favor?

_ Claro, senhora. Mas o--

_ Ele vai ficar o pernoite, só eu que preciso ir agora.

_ E para onde será a corrida?

_ Aeroporto.

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 25/11/2015
Reeditado em 03/08/2016
Código do texto: T5460904
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